Uma onda de alívio percorre Andriax, que enfim recupera o movimento do corpo. Ele corre em direção à sua companheira, toda moribunda na clareira. A mulher de túnica azul prussiano coloca as mãos enluvadas nos quadris e estreita os olhos ao dizer:
— Mas que conveniente, não é mesmo?
Assim que a vê, Dronar corre até a paladina. O escamoso lhe desafivela o cinto de couro e o amarra com força no antebraço. Muita força. Kayara geme de dor enquanto Shagda se aproxima falando:
— Isso vai ajudar a estancar, mas agora tem que cauterizar. Joga um bafo de fogo na ferida, grandão.
Uma gota de suor escorre na têmpora do draggonath. Ele dá um sorriso nervoso para a companheira. Ela tapeia a própria cara com a palma da mão.
— Um meio-dragão que não solta fogo, onde é que eu fui me meter?
Agaxis trava o olhar nas luvas pretas usadas pela necromante. Ele se aproxima dois passos e intima:
— Não sei quem você é e nem ligo. Pode ir devolvendo minhas luvas ou vai se arrepender.
Nuvens negras surgiram no céu e eclipsaram o sol, o som de trovões ecoando nas alturas. A mulher com a coroa de chifres ósseos olha para cima toda entediada.
— Que ilusão barata. Você esqueceu de fazer o vento pra ficar mais realista.
A miragem se desfaz enquanto o mulato resmunga alguma praga inaudível.
O sujeito de cabelos roxos sussurra para o magrelo:
— Cara... os símbolos na coroa... eu acho que ela é serva do Khanzurxos.
— E daí?
— E daí que eu tô fugindo dele, animal! Agora eu preciso matá-la senão ele vai saber que estou nesta dimensão!
— Eu estou bem na sua frente e ouvindo tudo o que você diz, sabia? — Yggnarus evidencia com o timbre abominável.
— Ninguém perguntou — o mago e o demônio respondem em uníssono. Depois olham um para a cara do outro e começam a dar risada.
A mulher de pele negra empalidece quando presta atenção nos símbolos bordados a ouro no sobretudo do outro. "Não é possível," pensou. "Somente um demônio do Sétimo Abismo tem acesso a esses feitiços. E essa pele azul... Se ele for mesmo um zyfraínn, eu corro sério perigo."
Andriax finalmente alcança Kayara, chamando a atenção dos dois amigos. A necromante de olhos brancos e aura verdolenga começa a murmurar alguma coisa.
— Kayara! Kayara! — exclama o jovem de olhos azuis, ajoelhando-se ao lado da guerreira.
— Tenho a impressão de que conheço essa mulher de algum lugar — diz Agaxis, pela primeira vez notando a paladina estirada no chão.
— Essa aí vai pro beleléu — brincou Kamilzedek, se divertindo com a desgraça alheia.
Quando os dois companheiros olham para frente de novo, a mulher com a longa trança castanha havia desaparecido.
— Por mil dragões! — pragueja o demônio.
— Vaca! — xinga Agaxis.
Eles olham um para a cara do outro.
— Isso é culpa sua! — falam ao mesmo tempo. Eles mantém um olhar sério um para o outro por trinta segundos e depois começam a gargalhar outra vez.
— Desculpe interromper as crianças — diz Shagda, se aproximando do homem de cartola. Ela se dirige a ele. — Mas então, aquela mulher ali precisa de ajuda.
— É, tô vendo — ele rebate, se recuperando do riso.
— E...? — ela insiste.
— E o quê?
— E não vai ajudá-la? Eu pensei em você cauterizar a ferida antes que ela morra, mas acho que com o seu poder você podia colar o braço nela de novo.
— Poder eu posso. Mas o que eu ganho com isso?
— Tá me zoando...
— Não, você que não entendeu, gnoma. Eu sou um demônio, lembra?
Andriax ouve a conversa e vai correndo até os três. Com o rosto empapado de lágrimas, ele indaga desesperado:
— Você pode salvá-la? Você pode mesmo?
— Hum, farejo negócios! — O homem com calça listrada abre um sorriso. — Posso sim, meu caro mancebo!
Ele estala os dedos. Um pergaminho e uma grande pena vermelha surge em suas mãos. Ele passa o papel cheio de letras miúdas para o rapaz.
— Só preciso que assine aqui. Com seu sangue, por favor.
— O que é isso?
— Não é óbvio? É um contrato. Você me vende sua alma, eu salvo sua amiga.
— O quê?!
— Pense rápido porque eu acho que ela vai bater as botas já, já.
— Mas eu não vou morrer... agora, né?
— Não, não. Vai viver sua vida normalmente. Mas depois de falecer sua alma vai ficar no meu Círculo do inferno por toda eternidade.
O rapaz engole em seco. Ele olha para a paladina já inconsciente.
— Ei, vai ser divertido — o demônio insiste. — Nós temos coxinha. E ótimas strippers.
— Eu que o diga — acrescenta Agaxis.
Andriax olha para Kayara. Sentia culpa porque sempre se achava um inútil. Mas também era covarde demais para se sacrificar por alguém.
Ele viu o encapuzado apontar a besta para matar Elizabeth, mas no fim foi seu pai que deu a vida por ela.
— E então, meu jovem? — Kamilzedek indaga. — O que vai ser?
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👻 Palavra do Autor 👻
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☠☠ NECROFÚRIA ☠☠ Aventura de RPG Medieval 🏹 Ação, Guerra e Magia ⛥
FantasyUm aprendiz de necromante. Um psicopata sanguinário. Um mago bêbado e uma paladina marrenta. Todos atrás de uma donzela durona que sai esmurrando todo mundo. Isso vai acabar mal... Do terror à comédia improvável, essa é a aventura daqueles que son...