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A Assembleia dos Zé-Ninguém

Dronar arregalou os olhos e se ajoelhou. Seu povo conhecia aquela deusa, embora para eles esta fosse a Mãe da Fertilidade, a que rege o nascimento de todas as coisas. Shagda cobriu a boca de tanto espanto. Os gnomos conheciam aquela divindade como Rainha do Conhecimento, algo que os pequeninos muito valorizavam. 

Andriax pasmou. Já tinha conversado com a oliveira, porém, não desconfiava que ela pudesse assumir uma forma tão majestosa. Agaxis rolou os olhos, desejando que a velha fosse embora o quanto antes. 

Já Kamilzedek parecia intimamente incomodado com a presença da sábia. Retorcendo o nariz azul, disse:

— A que devemos o desprazer de sua visita, madeira velha?

— Kamilzedek. — Os olhos de brilho lilás fuzilaram o demônio. — Já faz uns vinte milhões de anos que não vos vejo. Não perdestes a petulância. Não obstante, sinta-se à vontade para partir, meu assunto é para com os mortais.

O sujeito de cartola suspirou indiferente.

— Você veio até aqui só pra tentar me convencer? — Agaxis indagou. — Quantas vezes terei que dizer que não?

— O mundo não gira ao vosso redor, eldrazar.

O mulato de capa roxa deu de ombros, feliz por aquilo supostamente não ter relação com ele. Ao ouvir tal frase, o bárbaro e Andriax pensaram na mesma coisa: "O que ela quis dizer com o mundo girar? Quem gira no céu é o sol..."

— Bravos aventureiros — a anciã proclama —, um poderoso demônio chamado Khanzurxos trama invadir o plano terreno. Ele será invocado através de um ritual executado pelo necromante Maodron de Jagfagak, no eclipse ao meio-dia de amanhã.

O draggonath cutuca o garoto de cabelos castanhos, cochichando:

— O que é um eclipse?

— Eu também não sei...

A pequenina, que ouviu aquilo, simplesmente estapeia o próprio rosto em resposta. A mulher gigante continua:

— Preciso de vossa ajuda. O mundo corre grave perigo. Se esse general do inferno se materializar aqui, tudo o que vós conheceis deixará de existir. Não haverá guerra, apenas massacre e escravização em massa. Mortais serão apenas gado para alimentar o domínio da Imperatriz das Trevas. Vós sois a última esperança.

— Você não pode estar falando sério — o sujeito de cabelos roxos e encaracolados interrompe. — Khanzurxos não pode vir para o plano terreno. Ele não deixaria o trono do Nono Abismo vazio.

— Que sabeis vós sobre a atual situação política de vossa dimensão, zyfraínn? Há milênios estais longe de casa, também abandonando o trono do Sétimo Abismo.

— Meu caso foi diferente...

O mago com cavanhaque e bigodes finos toma a palavra:

— Que papo furado! Última esperança é o escambal. Por que raios um bando de zé-ninguém seria a última salvação? Não faz o menor sentido.

— Há outros heróis neste mundo, é verdade. — A mulher fitou o mulato de cabelos pretos e longos. — Todavia, todos estão em alguma missão, distantes destas terras. Levaria meses para que se locomovessem até aqui. Vós sois os mais próximos, os únicos capazes de impedir Maodron a tempo.

— Você podia teletransportá-los, sabe disso.

— Eu não posso interferir diretamente nos rumos do mundo mortal. Há leis divinas que não posso transpassar. Se o fizesse, os outros deuses me exilariam no mesmo instante.