Tudo aconteceu em frações de segundo. Assim que Shagda viu que sete gigantescas serpentes de fogo verde estavam voando contra os três, de imediato direcionou as turbinas para que ela se afastasse dali. Mas não poderia deixar a garota que valia uma nota preta terminar em cinzas, então logo tratou de mirar sua arma gravitacional.
Por entre as árvores, Elizabeth estava bem na frente de Andriax, que tinha acabado de se levantar. Quando viram os ofídios ardentes, eles já estavam próximos demais. Do nada, um grosso feixe de luz colorida atingiu a ruiva e a empurrou com extrema potência, fazendo-a trombar com o amigo às costas, impelindo-o também.
Milésimos depois, os sete tentáculos do tornado atingiram o local, provocando uma enorme explosão de terra, raízes, folhas e poeira. Uma gota de suor desceu pela boina laranja e gelou a têmpora de Shagda, agora toda suja de terra. Não sabia como os dois estavam, apenas que precisava pensar rápido.
As serpentes retornaram do bote e ficaram expondo línguas bifurcadas para todas as direções, como que tentando farejar as presas. Nesse intervalo, a pequenina de macacão azul logo pensou: "Se ele quer tanto a espada, com certeza é para tentar destruí-la... Mas talvez não seja apenas ódio contra coisas sagradas. Com certeza, a Justiceira da Luz é uma ameaça direta para ele. Então... eu também posso ser!"
A criaturinha modificou a posição das asas de energia dourada e disparou os foguetes, fazendo curvas e elevando-se no ar. Nesse instante, olhos índigos quase soterrados abriram-se. Elizabeth tinha a plena sensação de que sentiria muita dor depois, mas naquele momento a adrenalina insuflou-lhe forças.
Ela ergueu-se de uma grossa camada de terra com galhos e viu-se ainda cortinada pela poeira. Não conseguiu encontrar Andriax, embora o reluzir de uma pedra celeste tenha chamado sua atenção. A Justiceira estava fincada na terra a um metro de distância. Atrás da espada, ouve-se um flamejar ardente.
Um brilho esverdeado vai tomando conta das partículas de poeira no ar até uma cabeça de fogo surgir, a cobra chacoalhando a língua em um sibilar esguio. Assim que detectou a presença da espada, a serpente abriu a boca e foi direto para o bote. Elizabeth moveu-se. Correu com tudo em direção à arma — provavelmente foi a coisa mais suicida que já fez.
Pelo tamanho, a cobra flamejante poderia engolir a ruiva em uma única mordida. E ela estava a cinquenta centímetros de fazer isso quando a garota alcançou a espada e a retirou do chão. Quase como um reflexo, ela fez a Justiceira cruzar um arco diagonal à sua frente, rasgando a língua e as mandíbulas de fogo do monstro.
Antes que o segundo do golpe terminasse, a serpente brilhou inteira em uma luz branca e explodiu em pó incandescente. Nesse mesmo instante, as seis cabeças restantes pararam de procurar nos arredores e voltaram a atenção para o exato lugar em que Elizabeth estava. A garota teve sorte de derrotar uma, mas logo vinham mais seis, todas em conjunto.
Enquanto isso, no alto do tornado de fogo, Etherion continuava com os olhos pretos e veias em brasa. As tranças tremulavam soltas por baixo do capuz negro. Sua boca movia-se incessante. Dali ouviam-se gritos com a voz do garoto, que parecia estar em extrema agonia, além de um segundo som.
Calma e soturna, essa voz em segundo plano proferia palavras estranhas. Sem interromper o encantamento, a cabeça do garoto vira-se para Shagda, que agora voava na mesma altura. O jovem a ignorou por completo, limitando-se apenas a contemplá-la — sua atenção estava mais focada nas serpentes. De alguma forma, a ruiva tinha acabado de destruir mais uma.
A pequenina estava com uma mochila preta em uma das mãos, aparentemente vazia. Ela sacudiu o pano e um objeto de um metro e meio caiu lá de dentro. Reluzente, era um martelo cujas laterais eram esculpidas com a face de dois carneiros. As cinco serpentes que atacavam Elizabeth imediatamente pararam e olharam lá para o alto. A arma caiu por alguns segundos até um raio colorido atingi-la, fazendo-a levitar.
Shagda jamais teria força para levantar o Martelo dos Mil Trovões. Mas sua tecnomagia gravitacional conseguia erguê-lo facilmente. Sem demora, a pequena encaixou a mochila mágica nas costas outra vez, por baixo dos jatos, e logo tratou de mover o martelo de maneira a fazer um arco na direção de Etherion.
Subitamente, o garoto de pele escura ergue o braço todo esquelético e aponta a palma para a gnoma. Um hexágono de energia surgiu flutuando a dez centímetros da mão ossuda. Dentro havia uma dezena de símbolos mágicos, todos brilhando em um rubro intenso. Uma esfera de luz esmeralda surge em cada ponta do hexágono, raios roxos constantemente orbitando em todas elas. Como mísseis teleguiados, um após o outro, os orbes de energia foram disparados contra a criaturinha voadora.
Shagda foi obrigada a interromper o ataque para desviar, circundando Etherion enquanto os orbes a perseguiam. Ela não tinha velocidade o suficiente para escapar e mesmo desviar não adiantaria: ela sabia que as esferas dariam meia volta e a alcançariam de qualquer jeito. Quando um dos projéteis estava quase acertando-a, Shagda move o martelo no ar com o raio colorido, rebatendo o orbe para longe. Segundos depois, devido ao contato com energia sagrada, ele logo se desfez. Mas tinha mais cinco logo atrás.
Lá embaixo, Elizabeth observou atônita a companheira rodeando Etherion, perseguida pelas esferas. Assistiu enquanto a pequenina rebateu outro projétil para longe e temeu por Shagda: a gnoma não havia notado que as serpentes estavam voando fulminantes contra ela. Sem pensar duas vezes, a ruiva correu até alcançar a base do tornado de fogo sobre o qual Etherion estava erguido.
O calor era insuportável, mas ela sabia que sua roupa iria protegê-la. A Justiceira da Luz bailou no ar incessantemente: a garota fez cortes atrás de cortes no fogo verdolengo à sua frente, na esperança de que alguma coisa acontecesse. E aconteceu: o tornado começou a balançar desequilibrado e as serpentes foram explodindo em luzes brancas uma a uma.
Etherion olhou para baixo e apontou sua mão ossuda para a ruiva. Da base do tornado, na frente da garota, surgiu um humanoide em uma armadura, todo de fogo. Quatro braços erguiam-se esguios como tentáculos, a ponta de cada membro afiado e plano como uma lâmina. Elizabeth recuou alguns passos para desviar da chuva de ataques que cada braço iniciou contra ela.
Nesse instante, Shagda usou o martelo para rebater outro projétil e conseguiu mirar em outra esfera no processo, fazendo as duas se chocarem e explodirem no ar. Porém, um dos orbes restantes conseguiu alcançá-la logo em seguida, atingindo suas turbinas e explodindo o aparelho por completo.
Sorte que a mochila mágica estava em suas costas: alguma propriedade do tecido a salvou de ser totalmente dizimada pela energia infernal. Em queda livre e muito zonza, a gnoma não largou a arma gravitacional de jeito nenhum. Viu que a última esfera verde, toda rodeada por raios púrpura, ainda vinha direto contra ela.
Num instante, ela pensou em como matar dois coelhos com uma só cajadada. Caindo vertiginosamente, a gnoma apontou sua arma gravitacional em direção ao projétil e disparou o Martelo dos Mil Trovões com potência máxima. Impulsionado pelo raio colorido, a arma sagrada atravessou o orbe mágico como se nada fosse, explodindo-o no processo.
A trajetória continuou indo rente à cara de Etherion. Pego de surpresa, o reflexo do jovem conseguiu interceptar a arma com sua mão direita. No momento em que os dedos ossudos tocaram na arma, raios dourados eletrocutaram o garoto instantaneamente. Os ossos do braço racharam e viraram pó, revelando o braço normal do aprendiz. O tornado e o guerreiro de fogo sumiram no mesmo segundo, assim como o círculo flamejante ao redor.
Etherion despencou do ar, inconsciente. A única parte demoníaca que restou nele foi a mão esquelética, que mesmo assim ainda estava com os ossos trincados. Antes do fim de sua queda, Shagda tirou sua mochila mágica das costas e meteu-se dentro. O objeto caiu no chão um segundo depois, com um som seco, completamente murcho.
Etherion, ao contrário, continuou despencando rumo ao chão gramado que aguardava impaciente para quebrar seus ossos. Isso até uma sombra enorme encobri-lo e uma aura luminosa surgir em seu corpo, fazendo-o flutuar. Elizabeth olha para cima e vê Dronar em sua forma de dragão com Agaxis montado em cima, as mãos dele brilhando com uma aura tal como Etherion. O mulato deu um bocejo e indagou:
— Perdemos alguma coisa?
VOCÊ ESTÁ LENDO
☠☠ NECROFÚRIA ☠☠ Aventura de RPG Medieval 🏹 Ação, Guerra e Magia ⛥
FantasyUm aprendiz de necromante. Um psicopata sanguinário. Um mago bêbado e uma paladina marrenta. Todos atrás de uma donzela durona que sai esmurrando todo mundo. Isso vai acabar mal... Do terror à comédia improvável, essa é a aventura daqueles que son...