O demônio azul, de volta com seu sobretudo e cartola, estava cercado por uma multidão de curiosos. Alguns guardas estavam procurando por sobreviventes na taverna e na construção ao lado.
Havia lamúria de feridos por todos os cantos; muitas casas e comércios próximos desabaram também. Uma enorme viga de madeira é lançada para o alto. Dronar se ergue, segurando a gnoma em seu colo.
— Você tá bem, Shagda?
— Eu tô rica! — Ela abriu um sorriso de orelha a orelha ao balançar uma boina lotada de moedas.
— Que bom! Dá pra gente comprar armas pra missão.
— E equipamentos tecnomágicos, he, he.
— Cadê o garoto covarde e o meu amigo?
— Sei lá. — A diminuta sacode os ombros. — Acha que estão vivos? O mago eu vi sumir com as piriguetes; já o garoto, não sei.
Antes de começar a procurá-los, o musculoso vai até o sujeito de cabelos roxos e lhe sorri todo feliz.
— Você é foda, cara! Quanto poder, hein! Por que não contou que pode virar um dragão?
Kamilzedek faz gestos pomposos de alguém muito lisonjeado.
— Eu sou foda mesmo, eu sei disso. — Ele dá uma risadinha nada humilde. — Saiba, pois, meu bom draggonath, que posso te evoluir alguns níveis. Você seria capaz de virar um dragão à vontade também. É uma ideia interessante, não é mesmo?
Os olhos do bárbaro brilharam, seduzidos pela ideia.
— Pode fazer isso comigo?
O demônio de cartola estala os dedos, invocando um pergaminho e uma pena flutuando em sua frente.
— Só precisa assinar. Com seu sangue, por favor.
O escamoso olha para o contrato, depois coça a cabeça careca.
— Não sei... é que no meu povo dizem que a força tem que ser conquistada e tal... Aquele negócio de honra, sabe?
O zyfraínn não desiste facilmente:
— Visualize comigo, Dronar. Você: forte, poderoso, aclamado por todos como o maior dos bárbaros da história. Vencendo inimigos que ninguém mais conseguiria. Salvando o mundo das garras do mal. Você não quer ser um herói?
— Quero, mas...
— Você não quer salvar as pessoas?
— Sim, é que...
— Você não quer ser extremamente poderoso?
Shagda conseguiu encontrar Andriax embaixo de uma placa de madeira. Sortudo, o entulho que estava acima dele tinha caído encaixado na exata medida para evitar danos ao seu corpo. O problema era o cheiro de vômito que permeava suas roupas.
— Dronar, eu achei o mole... — ela parou de falar quando viu o parceiro assinando um pergaminho na frente do demônio. — Vish...
Kamilzedek estala os dedos e, de repente, o meio-dragão se contorce. Ele já tinha dois metros, mas ergueu-se mais trinta centímetros. Todos seus músculos se expandiram, saltando aos olhos.
Os dentes no focinho cresceram e ficaram mais afiados. Chifres de dragão cresceram nas têmporas. Espinhos se levantaram na cabeça e seguiram pelas costas até a ponta da cauda.
E sua tanga rasgou, caindo. Dronar colocou a mão no meio das pernas, cobrindo sua virilha.
— Ops! — disse ele, envergonhado.
— Mil perdões, esqueci desse detalhe — interveio o demônio, que estalidou os dedos outra vez. Fez um tipo de cueca de couro aparecer no brutamonte. Embora agradecido, Dronar perguntou:
— Isso não fica meio gay?
— Nãããão! — responde lentamente o sujeito de sobretudo, contendo risadas.
— Virou um stripper, Dronar? — indagou Shagda, rindo ao se aproximar dos dois.
— Um o quê?
Kamilzedek pôs a mão na barriga, não se aguentando de rir.
— Agora eu posso virar um dragão! — comentou o bárbaro, todo feliz.
— Melhor não fazer isso agora... — a gnoma aconselhou, parecendo ainda mais minúscula perto do guerreiro.
— Alguém viu o Agaxis? — O azulão olhou ao redor. — Não sinto a energia dele aqui na área.
— Será que meu amigo tá bem? — perguntou Dronar.
— Veremos. Vou invocá-lo.
O sujeito de olhos roxos estralejou os dedos outra vez. Agaxis materializou-se nos escombros à frente deles. Ele estava pelado, de joelhos, fazendo movimentos muito obscenos com o corpo.
— Vai, cachorra! — ele berrou animado. Quando percebeu que estava enfiando seu membro no vento, levou um susto e se levantou. — Mas o quê!?
Dronar ficou com a cara vermelha. Shagda caiu no chão de tanto rir. Kamilzedek deu um sorriso amarelo e jogou:
— Foi mal...
— KAMILZEDEK, sua aberração azul do caramba! Já disse pra me chamar mentalmente antes de me invocar assim! Seu animal! E se eu estivesse cagan...
Ele desapareceu subitamente após um estalido do demônio, que revira os olhos evidenciando:
— Sempre temperamental...
Dronar logo acrescenta:
— Acho melhor a gente fingir que isso nunca aconteceu...
VOCÊ ESTÁ LENDO
☠☠ NECROFÚRIA ☠☠ Aventura de RPG Medieval 🏹 Ação, Guerra e Magia ⛥
FantasyUm aprendiz de necromante. Um psicopata sanguinário. Um mago bêbado e uma paladina marrenta. Todos atrás de uma donzela durona que sai esmurrando todo mundo. Isso vai acabar mal... Do terror à comédia improvável, essa é a aventura daqueles que son...