A Mulher de Cinco Metros

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O trio sentou-se em uma praça qualquer da cidade. As ruas agora estavam lotadas, todos queriam saber o que havia causado tamanha destruição. Ninguém parecia dar a mínima atenção a eles, sequer desconfiando que ali se encontrava o culpado.

— Que estranho, não sinto a presença do Martelo dos Mil Trovões em lugar nenhum — comentou o zyfraínn. — Será que ele saiu voando com a explosão?

— Tem alguma coisa que não saiu voando? — Shagda retrucou, contando as moedas na boina uma a uma. Não percebeu a ironia entre o que perguntou e o que estava fazendo.

O meio-dragão olha para os lados como se procurasse por alguém.

— Acha que o Agaxis já terminou de...

— Ele é imprevisível — interrompeu Kamilzedek. — Fiquei sabendo que uma vez ele e minha irmã ficaram isolados por meses na dimensão do Fogo Eterno.

A gnoma deu um peteleco na orelha de Andriax, que jazia desacordado no chão. Este não deu sinais de acordar. Ele havia sido carregado pelo brutamonte até ali. A pequenina logo desistiu e voltou a contar moedas.

Um disco luminoso apareceu flutuando há alguns metros. Luzes azuladas espiralavam para o centro, dando a impressão de ser um túnel. Um sujeito de túnica rubra e capa roxa caminhou lentamente lá de dentro até atravessar para a grama na frente do trio. O bigode de pontas retorcidas sustentava um sorriso.

— Aí está você, Kami — disse Agaxis. — Ai, ai, que saudades daquelas diabinhas da sua terra. As daqui se cansam muito rápido.

— Agaxis! Oi, amigo! — Dronar se aproximou com genuína alegria. O portal logo desapareceu com um zunido estranho.

O mago franziu o cenho tentando reconhecer o bárbaro de três metros de altura com traços de dragão em uma cueca de couro. O outro sujeito não tinha chifres na cabeça, nem era tão grande, tampouco tinha dentes e garras tão afiadas.

— Te conheço?

— Eu sou o Dronar! Seu amigo me evoluiu, agora eu posso virar um dragão!

— Ah. Legal. — Ele se vira para o sujeito azul, deixando o draggonath com um beiço daqueles. — Então, cara. Vai me ajudar a recuperar minhas luvas? Consegue localizá-las?

— Elas sumiram da minha percepção, não consigo captar as ondas infernais delas. Aquela necromante deve tê-las colocado dentro de algum campo de força mágico.

— Ele não tá nem aí pra taverna ter explodido... Nem quer saber o que aconteceu... — Shagda se admira.

— Mano, você vai nos ajudar a encontrar a Lady Elizabeth, né? — Dronar se dirige ao sujeito de sobretudo e cartola. — Com seus poderes, sei que a gente acha ela rapidinho!

— Que mané Elizabeth! — Agaxis se interpõe. — Esse demônio aqui tem coisa mais importante pra fazer do que salvar donzelas em perigo.

Kamilzedek só riu em resposta. A gnoma de macacão azul metálico torce os lábios para o mulato.

— Você não presta mesmo, mago. Só fica legal quando bebe viraozoyo.

— É isso mesmo o que você acha, joaninha? — O eldrazar enfim pareceu notar que havia uma criatura de cinquenta centímetros ali. Ele faz uma careta retorcida e conclui: — Veja minha cara de sofrimento pela sua opinião.

— Mais bonita que sua cara de sempre.

— Ela está vindo — disse a voz de Andriax.

Todos se viram para trás (exceto Agaxis, na frente), desconcertados por verem o mancebo subitamente de pé. Antes que pudessem dizer alguma coisa, o chão começa a tremer. Bem ao longe, todos notam uma coluna luminosa ascender aos céus. Os transeuntes nas ruas ficaram em pânico e correram como formigas epiléticas.

— Kami? — Agaxis tentava se equilibrar na grama.

— Pelos chifres do capeta, eu conheço esse brilho! — Kamilzedek responde, o rosto consternado. Diferente dos outros, levitou alguns centímetros do solo para não ser abalado pelo terremoto. — É a ativação de um cristal bakkaksur. Isso não é nada bom, cara.

O meio-dragão se abaixou, todo confuso e preocupado. A gnoma grudou-se em um banco de madeira junto com Andriax.

— A gente vai MORREEEEER!! — o rapaz berrou.

— Tá, mas eu prefiro não morrer surda, moleque! — Shagda replicou, furiosa. — Controla essa franga aí!

Quando o tremor parou, o garoto de olhos azuis sentiu uma súbita vergonha. Desceu do banco desconfiado enquanto a gnoma lhe lançava um olhar de "esse não tem jeito, mesmo". Curiosa, ela indagou:

— Que papo foi esse? Quem tá vindo?

Kamilzedek de repente pareceu bem preocupado.

— Essa energia... não pode ser... ela não viria até aqui...

O vento soprou forte, assobiando enquanto folhas secas rodopiaram no ar. Uma luz violeta surgiu na frente de todos, cegando-os por um instante. A luminescência tomou a forma de uma mulher alta, de cinco metros de altura. Nua, parecia estar no auge da idade, com curvas bem sinuosas.

 Sua pele era de madeira, os cabelos eram folhas verdejantes que desciam espiralando pelo seu corpo. Os olhos e a boca brilhavam num lilás intenso. O timbre imponente verteu dos lábios de oliveira:

— Saudações, aventureiros. Eu sou a Anciã da Sabedoria e vim vos guiar. 

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