Claustromorte

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O brutamonte escamoso e o humano de gibão (que a esta altura do campeonato era de qualquer cor, menos laranja) caíram por um túnel nem um pouco retilíneo. Com dezenas de curvas espirais, mais parecia um tobogã cheio de fricção pedregosa e ocasionais teias de aranha. Na absoluta escuridão, os dois gritaram enquanto despencavam rolando cada vez mais fundo. 

Até que, finalmente, o bárbaro e o jovem de curtos cabelos castanhos aterrissaram em uma pilha de cadáveres, o que amorteceu um pouco a queda. Sob mútuos protestos de dor, ambos se ergueram lentamente, tentando desgrudar-se da carne decomposta naquele mar calcificado.

— Você tá bem, garoto? — indagou o musculoso de três metros. Apesar das intensas contusões, suas escamas mal estavam arranhadas.

— Estaria melhor se meu pé não estivesse dentro do estômago de um maldito corpo! — reclamou o mancebo de olhos azuis, desgrudando a bota melecada de um cadáver pútrido. — Pra ser sincero, tudo no meu corpo dói. Mas eu acho que consigo caminhar e tal.

— Droga, não consigo achar meu martelo — disse Dronar, tateando no breu por entre costelas e crânios. — A espada da sua amiga tá contigo?

— Tá, sim. Ainda presa na bainha. — O rapaz afastou a tontura por um instante e buscou uma resposta para aquela escuridão em sua memória. Tentando imitar Etherion, bateu duas palmas bem sonoras, que ecoaram longamente no local.

Tochas de crânios demoníacos acenderam-se nas paredes, as chamas dançando naquele tom esverdeado e necrótico. A pilha de cadáveres devia ter uns cinco metros de diâmetro. O lugar onde estavam parecia ser um pequeno salão hexagonal com um único corredor diante deles. Em cada uma das quatro paredes laterais repousavam sarcófagos fechados, todos de ferro e com a aparência de criaturas infernais.

— Boa, cara! — felicitou o bárbaro, que logo encontrou o Martelo dos Mil Trovões por entre os corpos e o tomou na mão direita.

— Sinceramente, gostava mais daqui quando não conseguia enxergar nada — admitiu Andriax, pousando os olhos nos sarcófagos. Eles tinham o formato de criaturas humanoides com a parte de baixo tal como centopeias.

Ambos logo saíram do amontoado de mortos e puderam vislumbrar o corredor à frente. As tochas seguiam intercaladas em suas paredes pelo que parecia ser vinte metros de extensão. A distância entre uma parede e outra chegava aos cinco metros, enquanto a altura... bem, digamos que Dronar só conseguiria andar ali de cabeça abaixada. No final, uma porta peculiarmente pequena, que parecia ser achatada nas laterais. O meio-dragão teria alguma dificuldade para passar por ali, embora não soasse exatamente impossível.

— Não gostei deste lugar — afirmou o careca de pele verde, tentando ocultar o fato de seu coração ter acelerado o ritmo. — Vamos voltar, eu te alavanco de volta pro buraco e... ah, droga...

Então ambos notaram que a passagem por onde caíram estava brilhando. Era como se ali houvesse uma parede vermelha e translúcida. Dronar levantou o martelo e, resoluto, o arqueou no ar contra aquela barreira. Ele bateu na energia rúbea com extrema potência; era como se tivesse colidido contra titânio puro. Um som estridente explodiu pelo recinto, agredindo os tímpanos de Andriax.

Os tijolos de pedra ao redor da entrada foram despedaçados, tamanho o impacto. Rachaduras trincaram quase toda a parede. Para a surpresa de ambos, a barreira energética não cobria apenas o buraco, mas estava detrás de toda a estrutura. Não adiantaria derrubar a parede toda, ela parecia estar completamente lacrada.

— DROGA!! — vociferou Dronar, uma certa nota de aflição escapando por entre a ira.

— Poxa, cara, podia ter me avisado! Eu teria tampado meus ouvidos antes!

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