Ambição

113 23 5
                                    


Com a névoa parcialmente dissipada por Etherion, o grupo seguiu viagem pela miríade de árvores mortas. Após um tempo, se depararam com uma bizarra escultura de pedra entranhada sob as raízes de uma árvore retorcida. Um rosto demoníaco de cinco metros de diâmetro prostrava-se de bocarra aberta, a gengiva pétrea infestada de fileiras de estalactites e estalagmites tais como dentes. Pela cavernosa garganta adentro, o breu era tão intenso que parecia encarar a alma dos aventureiros.

— É sério, isso? Essa entrada era mesmo para ser "secreta"? — indagou o mago de capa roxa.

— Nem vem — Etherion retorquiu —, foi meu pai que mandou construir desse jeito. Ele sempre foi piegas.

— Piegas? Eu chamo isso de burro mesmo. Quer dizer, só faltou ele colocar uma placa de "Entre No Meu Dungeon".

— Droga. Detesto cavernas — suspirou o brutamonte verde de dois metros e trinta.

Todos olharam para o bárbaro, confrontados pela ironia.

— Seu povo não descende de dragões? Sabe... dragões que vivem em cavernas... — indagou Elizabeth, incrédula.

— E daí? As lendas falam que vocês humanos foram criados do barro e não vejo vocês morando na lama. Eu só não gosto de lugares apertados, não dá pra se mexer direito. É horrível.

— Já eu, me sinto em casa, he, he — Shagda contou vantagem. — Meu povo vive no subterrâneo há milênios. Temos talento natural para enxergar no escuro e se guiar embaixo da terra.

— É. Tipo os vermes subterrâneos... — Agaxis alfinetou.

— Falou o dançarino de polly dance... — redarguiu a pequenina.

— Acho melhor procurarmos por gravetos para fazer tochas... — Andriax sugeriu.

Agaxis rolou os olhos dando risada.

— Tochas! — repetiu, sarcástico. Fez um gesto simples e seis globos de luz azulada surgiram de suas mãos. Cada um ficou flutuando um metro acima da cabeça de cada um do grupo. — Amadores!

Etherion não pôde conter o sorriso nos lábios.

— Parabéns, Agaxis — falou num tom irônico. — Até merece palmas.

O aprendiz ergueu as mãos e mesmo com uma delas sendo puro osso, deu duas palmas simples. De repente, chamas verdolengas surgiram nas órbitas outrora escuras da enorme estátua. De dentro da caverna, fileira de tochas às paredes foram se acendendo continuamente. Ao contrário de receptáculos de madeira, as tochas eram crânios monstruosos cravejados na parede rochosa. Todas as chamas tremeluziam um verde espectral.

— Olha só! Esse é o meu garoto! — a gnoma de boina laranja deu um tapinha na calça bege do aprendiz. — Assim que eu gosto: dando de dez a zero nesse maguinho de araque!

— Mal voltou dos mortos e já tá todo exibido — cutucou o sujeito de cavanhaque e túnica rubra. Fez outro gesto com as mãos e os globos desapareceram. — Mas é melhor assim porque aí eu poupo mana.

— Qual o problema de vocês necromantes com a cor verde? — a ruiva questionou ao triangular as sobrancelhas.

— Não tem mesmo outro caminho? — o musculoso de cueca de couro perguntou, um tom de aflição esperançosa ressoando na voz gutural.

— Infelizmente, não... — Etherion respondeu-lhe.

— Sei que vou me arrepender de perguntar isso, mas o que é que tem lá embaixo? — questionou Andriax. Queria se preparar psicologicamente para a série de traumas que sabia que iria enfrentar.

☠☠ NECROFÚRIA ☠☠ Aventura de RPG Medieval 🏹 Ação, Guerra e Magia ⛥Onde histórias criam vida. Descubra agora