O Nascimento de um Guerreiro

660 140 395
                                    

Antes que eu pudesse compreender o que aconteceu, duas silhuetas surgiram à frente saindo de dentro de uma espécie de alcova formada devido a um recuo na parede.

Eram dois homens altos, cujo aspecto era completamente diferente das demais figuras vistas durante o percurso daquela área da cidade. 

Um deles tinha o tronco mais largo e era mais baixo que o outro, vestindo uma camisa de cetim vermelha larga bordada e de mangas compridas. 

O outro, mais alto e magro, usava uma camisa semelhante, mas na cor branca com um colete vermelho por cima. 

Ambos usavam calça folgada na cor preta com uma faixa dourada de seda presa à cintura. 

O da esquerda, mais alto, usava um lenço vermelho no pescoço e tinha argolas presas às orelhas. O mais baixo tinha um lenço semelhante, mas na cabeça, e um cordão envolta do pescoço com um medalhão preso.

Eu parei e me agachei onde Leo estava caído sem tirar os olhos dos homens. 

Graças ao Criador, pensei assim que soube que Leo estava bem. 

Ele foi golpeado com o bastão na lateral esquerda da cabeça.

Constatado que Leo estava bem, fiquei de pé e observei os dois homens a minha frente. 

Um deles segurava um bastão roliço de madeira nas mãos, o que provavelmente fora usado para atingir o Leo.

— Você vem conosco, garoto! — falou o homem troncudo batendo com o bordão na mão em tom de ameaça.

Eu fiquei imóvel. Sem reação. O coração disparou e a mente foi a mil.

O que eu vou fazer?

Não conseguia pensar em nada. Meus olhos pousavam sobre os homens adiante e para o Leo caído ao meu lado.

Correr poderia ser uma opção, mas para onde? Eu abandonaria o Leo ali sozinho? Claro que não!

Precisava encontrar uma alternativa melhor. Mas qual?!

Um tremor originado em minha espinha percorreu todo o meu corpo chegando até a cabeça dando uma pontada fazendo com que parecesse ser perfurada por pequenos alfinetes. 

O turbilhão de pensamentos fluía de forma incontrolável quando ouvi uma voz em minha cabeça: 

"Ravel, domine sua mente".

A lembrança dos ensinamentos do meu pai brotaram como nascentes em minha mente. 

Eu precisava me acalmar e conter o ímpeto desordenado de idéias que surgiam como torrentes em minha cabeça.

Então eu respirei fundo. Desta vez não podia fechar os olhos como costumava fazer, mesmo assim, aos poucos fui me conectando com o ambiente ao meu redor.

Uma sombra espessa se projetava sobre nossas cabeças causada pelas extensas paredes que nos rodeavam. 

A falta de luz fazia com que o local onde estávamos assumisse um tom plúmbeo e lôbrego.

O som ritmado do bastão batendo na mão do homem, o ping constante de uma goteira ao atingir uma pequena poça esparramada no chão paludoso. 

"Confie em seus instintos", mais um ensinamento do meu pai e mestre surgindo em minha memória.

Enquanto analisava a situação observando cada detalhe que nos cercava, o homem com o bordão fez sinal com a cabeça para o outro. 

Prontamente o magricelas com o lenço vermelho partiu em minha direção.

Eu recuei um pouco com a finalidade de ganhar espaço para pensar em uma estratégia. 

O Descendente de Anur - Usuário do FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora