A Frieza de Gamel

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Sem árvores para obstruir a visão eramos iluminados pela luz lunar acompanhada pelo seu exército estelar. A noite ia avançando e o cricrido noturno, o coaxar dos sapos e o piado das corujas compunham a melodia da aflição.

Ainda com os ouvidos aguçados aguardava concentrado pelos caçadores que esgueiravam-se por entre o capinzal seco.

Leo estava nitidamente apavorado. Talvez por sua impotência devido às circunstâncias, ou, então, pelo medo de não ser capaz de me proteger naquele momento.

A família dele tinha dado a vida pela minha, agora, eu estava disposto a pagar o preço para proteger a vida dele.

Não demorou muito e os cinco adversários surgiram por sobre o matagal. Como captara através da percepção potencializada, eram três cavaleiros e dois turins, cada qual no seu chacal. O mato dava na minha cintura e no ventre dos animais. Os cavalos pouco maiores que os chacais gigantes de Uguntur relinchavam de apreensão. Porém, foi o rosnar dos canídeos que causou um friozinho na barriga.

Eles avançaram lentamente até certo ponto e depois, ao comando de seu capitão, pararam a uns vinte metros de distância de onde estávamos. Suas expressões eram sombrias, como as de quem avaliasse o território de onde ocorreria uma sangrenta batalha. Todos permaneceram em suas montarias e sem desfazer a formação, com os dois chacais mais adiantados, Gamel no centro e um cavaleiro de cada lado.

Os turins eram musculosos e ameaçadores. Seu aspecto tracejava a figura da imponência. Vestindo-se apenas com calças largas marrons, o corpo desnudo da cintura para cima refletia a luz ao tocar a pele negra que brilhava ao luar. Ambos carregavam desembainhadas suas espadas curvas de duplo corte e forma pontiaguda.

— Então, desistiram de fugir? — pronunciou-se Gamel no alto de um sorriso altivo. — Ou perceberam que não conseguiriam escapar? 

Leo e eu permanecemos calados. Aquilo não se resolveria com palavras e já havia aprendido o suficiente para saber que conversas em momentos assim só servem para tirar a concentração.

Assim como aprendera com meu pai, estava compenetrado em busca da melhor estratégia de combate.

Eles são cinco e estão em suas montarias. Eles atacarão juntos ou separados? Se atacarem juntos não poderei me desviar, pensei, lembrando do Leo que estava atrás de mim. Preciso lutar sem colocá-lo em risco. Mas se eles vierem juntos como poderei me defender de um ataque múltiplo? 

A cabeça fervilhando em busca da melhor alternativa de combate.

Não tenho muitas opções, concluí. Estou em desvantagem numérica e vou enfrentar um inimigo desconhecido. Não tinha tempo a perder, pois um ataque em conjunto poria a vida do Leo em risco. Preciso atacar primeiro e levar a luta para longe dele.

— Não se mexa! — disse por cima dos ombros.

Sem hesitar, flexionei as pernas potencializando os músculos da coxa e panturrilha. Os adversários se alarmaram erguendo suas espadas, preparando-se para o ataque, mas eles não tinham ideia do que — ou quem — estavam prestes a enfrentar.

Logo que acumulei poder o suficiente nos músculos precipitei-me contra eles numa velocidade impressionante. No caminho, potencializei os músculos dos braços para garantir maior poder de ataque e senti uma força descomunal nos punhos.

Assim que me aproximei o suficiente saltei pelo ar em um arco preciso. A lâmina flamejante desceu num borrão avermelhado de cima para baixo contra o turin da esquerda, que levantou sua espada em uma vã tentativa de defender-se. Os sabres se chocaram propagando um som seco pelo ar. O ataque potencializado pelo keer, no entanto, subjugou a defesa do inimigo descendo poderosamente contra sua cabeça rasgando ao meio o crânio do guerreiro negro.

O Descendente de Anur - Usuário do FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora