Uma Fagulha de Esperança

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Meus ossos latejavam de dor enquanto o naelin me arrastava feito um porco abatido para uma ceia de celebração.

A mente ainda confusa lutava tentando entender o que havia acontecido a minutos atrás enquanto falava com a criatura da caverna.

Foi a primeira vez que o sonho prosseguiu para além da parte que eu ouvia a voz dizer: "Eu vejo você!"

Mas desta vez foi diferente. Não foi um sonho, nem mesmo se pareceu com um.

Verdadeiramente eu estive lá, não sei aonde e nem como, mas eu realmente me encontrei com a criatura dos olhos cinzas na mesma caverna com a qual venho sonhando há anos. Só que desta vez foi diferente, foi mais... real! 

Ainda podia sentir o cheiro do limoeiro impregnado em mim, ainda que eu não tivesse saído do mesmo lugar.

Algo curioso estalou em minha cabeça. Estranhamente eu havia passado horas na escuridão, mesmo assim, ao voltar à realidade notei que o tempo não passara da mesma forma. Era como se eu tivesse visitado uma outra dimensão ou algo parecido, só que sem sair do lugar. O fato é que as horas que passei por lá, não passaram de meros minutos ali. Provavelmente o tempo de um breve desmaio e nada mais.

Tudo isso fez com que eu acordasse desnorteado e completamente perdido no tempo e no espaço.

O tempo foi passando e aos poucos fui recobrando a consciência. Busquei meu pai com os olhos, mas tudo o que pude ver foi a sombra de dois vultos à sueste de onde eu estava movendo-se com incrível velocidade. Juntamente com eles, o som do tilintar de metais se chocando revelava a intensidade da batalha que estava sendo travada por ambos.

Com muito esforço girei o corpo e consegui visualizar mamãe e Leo, que estavam agachados no jardim.

Ela deve estar cuidando dos ferimentos dele, pensei.

Certamente o Leo estava tão ou mais ferido que eu devido ao brutal ataque que sofrera do gigante.

Olhei para frente e vi o monstro de pele pálida de costas para mim segurando-me pelo braço direito enquanto caminhava a passos largos em direção à mulher sobre o dragão amarelo.

Fechei os olhos com o objetivo de pensar em algum plano para tentar sair daquela situação, mas nada me vinha à mente.

"Você virá a mim e eu te farei saber o que precisas!", as palavras da grande fera de olhos cinzas golfaram em minha cabeça num lampejo acelerado sobre tudo o que vivenciara ali e um ânimo novo pareceu inundar o meu corpo.

Eu preciso fazer alguma coisa, arrazoei. Eu não serei vencido. Não hoje e nem aqui. Eu tenho que encontrá-lo. Eu preciso saber a resposta, preciso saber quem eu sou!

De alguma forma, o desejo por encontrar o ser da caverna para ter, finalmente, a resposta da minha pergunta, deram-me nova determinação para enfrentar o naelin.

— Espere — disse Alizah para o naelin interrompendo minha reflexão. Sem entender o motivo pelo qual mandara o naelin parar, abri os olhos e observei-a. Foi quando ela virou-se em direção ao jardim e ordenou: — Primeiro mate aqueles dois! — falou e apontou o dedo indicador para onde estavam Leo e mamãe. — Mas seja rápido, já perdemos tempo demais aqui.

O gigante assentiu com a cabeça e começou a caminhar em direção ao dois arrastando-me novamente junto com ele.

Um choque pareceu estremecer meu corpo com uma onda de calafrios.

Eu preciso fazer alguma coisa. Mas o que?

Uma centelha de energia lampejou por todo o meu corpo ao ver o perigo que mamãe e Leo corriam.

Então, mais uma vez, com dificuldades, mergulhei profundamente no controle total anulando completamente minhas emoções. De qualquer forma, se quisesse fazer algo por minha mãe, eu precisava de um plano eficaz. E teria de ser naquele momento, pois a cada segundo que se passava, mais perigo corria os dois e menos chance eu tinha para socorrê-los.

Imediatamente comecei a pensar em uma estratégia para impedir o naelin.

Observei à minha volta buscando encontrar algum recurso que me fosse útil, porém, sem sucesso. Olhei para os lados mas não via nada a não ser o extenso tapete verde pelo qual eu era arrastado.

Fixei meus olhos em direção aos dois que estavam ali, parados. Eu precisava fazer alguma coisa.

— Corram! — Tentei adverti-los, mas apenas ar saiu pelos meus lábios. — Fujam! — Mais uma vez ensaiei um grito, mas consegui somente emitir um leve cicio.

Subitamente, um reflexo vítreo contrastado pelo verde do gramado refletiu mais à frente capturando minha atenção.

Observei mais atentamente enquanto nos aproximávamos e, então, constatei: É a espada do Leo.

O brutamontes de pele esbranquiçada caminhava em direção a ela. O ar em direção oposta ao passar pelo naelin trazia-me um ranço que recendia à carne morta já em decomposição. Imediatamente meu estômago embrulhou.

Ao contemplar o gigante pelas costas reparei que seus músculos estavam relaxados, sem exibir a mesma rigidez anterior. Até mesmo sua compostura estava mais desleixada.

Seja lá qual for o tipo de técnica que ele tenha usado, não está usando mais!, imaginei. Ele deve estar seguro que já tenha me derrotado.

Olhei mais uma vez para o naelin à minha frente e para a espada do Leo que reluzia logo adiante.

Imediatamente uma fagulha de esperança floresceu em meu coração.  

Em meio às náuseas, tive uma ideia. Talvez, poderia não ser suficiente para salvar os dois definitivamente, mas pelo menos os daria tempo para fugir.

O gigante continuava caminhando sem pressa e sem olhar para trás em ritmo moderado.

Ao ver a espada se aproximando usei a perna direita como alavanca para pegar impulso e balancei o corpo para o lado esquerdo.

Sem haver outra forma, com grande esforço peguei a espada com a mão esquerda. Entretanto, como a empunhadura estava voltada para o outro lado, tive que puxá-la pela lâmina.

Nem tive tempo para sentir dor quando meu sangue manchou de um vermelho vivo o corte do sabre.

Sem perder tempo ajeitei a espada na mão e esperei o momento certo.

Com estudada frieza aguardei até ter uma oportunidade. E ela não demorou!

Agradeci, aliviado, quando senti que a mão do adversário havia soltado meu pé esquerdo no mesmo tempo em que seu enorme corpanzil desabava no chão em uma verdadeira avalanche.

O chão pareceu estremecer com o impacto como se um penhasco tivesse vindo à baixo.

Confesso que ver o naelin despencar daquele jeito fez-me crer que de alguma forma eu poderia vencer aquela batalha. E eu estava determinado, de algum modo venceria o gigante!

Continua...

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