A noite já estava avançada e o grande olho branco já reinava imperioso no meio da vasta escuridão.
O sereno noturno caía com força trazendo consigo sua espessa cortina esfumaçada turvando a nossa visibilidade.
Pequenos e minguados pontos luminosos amarelados lançavam uma parca luz sobre o local.
O cenário estava irreconhecível. Corpos espalhados pelo chão, fendas e enormes sulcos abertos no solo onde outrora se estendia um vistoso tapete esverdeado. O lugar que um dia fora o meu lar, agora tornara-se um campo de guerra. E o pior é que a guerra ainda estava longe de acabar.
Ao fixar meus olhos no espaço onde inúmeros espécimes de flores antes coloravam cintilantes, o motivo de um dos meus piores pesadelos despertava lentamente.
Uma pontada aguda e enfermiça aferroou-me bem na boca do estômago arrancando-me o ar por alguns segundos. Eu não acreditava no que meus olhos estavam vendo.
No meio do jardim o naelin começou a levantar-se paulatinamente.
Estávamos bastante afastados de onde ele estava, cerca de uns cinquenta metros de distância. Fiquei sem reação diante da inverossímil situação.
A sensação que tive no momento foi de incredulidade. Arregalei os olhos tentando focar ainda mais a visão para garantir que não estava imaginando coisas, mas assim que o avistei não restaram mais dúvidas.
Essa praga não morre!, pensei.
Ao erguer um pouco o corpo, o naelin percebeu que estava preso por uma barra de metal que lhe atravessava o peito. Sua cabeça girou sobre o pescoço como se buscasse algo e, então, seus olhos se encontraram com os meus.
Com revelada dificuldade ele fixou as duas mãos no chão e começou a fazer força para trás no intuito de se libertar do grilhão de ferro que lhe prendia. No mesmo instante o metal começou vagarosamente a rasgar sua carne saindo do peito para a lateral do tórax rompendo-lhe as entranhas e costelas. Com expressão de dor na face, o naelin foi puxando o corpo com tamanha força até que o metal rompeu e saiu por seu flanco esquerdo. No exato momento em que isso aconteceu, um gemido de dor ecoou pelo ar.
Ao ver o inimigo recompor-se, mamãe se colocou de pé. Porém, assim que ela insinuou com o corpo em direção ao jardim, a voz do gigante alertou-a de longe:
— Nem pense em chegar perto deste jardim — vociferou.
Sua voz grave soou raivosa causando espanto e temor entre nós.
Mamãe se deteve na mesma hora.
Que espécie de criatura é essa? Como poderemos derrotá-lo?
Arrancar a cabeça ou fogo! A resposta emergiu imediata em minha cabeça.
Assim que teve o seu corpo liberto, ainda abaixado com um dos joelhos no chão, o naelin levou as duas mãos em frente à boca, fez alguns sinais e conjurou seu poder regenerador.
Passou em minha mente a ideia de atacá-lo antes que seu corpo se restaurasse por completo, mas, que tipo de ataque meu poderia surtir algum efeito e ainda mais naquele estado?
Ao observar o cenário da batalha com maior cuidado, notei que não ouvia mais o tilintar dos metais. Procurei com os olhos o lugar onde estava o meu pai e seu inimigo, porém ambos não estavam mais lá. Busquei encontrá-los nos arredores, entretanto, não havia nem sinal dos dois.
Para onde eles foram? A pergunta ficou sem resposta, e continuaria assim, pois eu tinha um problema muito mais emergente para resolver naquele momento.
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O Descendente de Anur - Usuário do Fogo
Fantasía#1 Lugar em Fantasia em Os Tops do Ano 2017 Balrók, o Caçador, montado em seu leão de fogo juntamente com mais sete cavaleiros negros invadem o pequeno vilarejo de Nanduque em busca de um grupo de rebeldes fugitivos. Um comerciante local, o tapeceir...