A Besta Domada

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Eu mal pude acreditar no que meus olhos viram.

Sem que eu me desse conta, o corpanzil do naelin foi violentamente abatido entre as bromélias.

Minha mente divagou, confusa com toda aquela informação repentina.

Ainda tentando compreender o que acabara de ver, esfreguei os olhos embaçados devido às lágrimas e olhei para trás.

O cavaleiro negro estava caído no chão parecendo ferido, mas ainda se mexia. Na frente dele, bem distante de onde eu estava, meu pai estava agachado e com as duas mãos no chão.

Só aí comecei a assimilar melhor o que tinha acontecido e fui remontando na mente a cena que acabara de ver.

Na hora que o naelin se projetou contra mamãe, tão logo ele alcançou o jardim, vi sair do chão uma forma metálica da espessura de um braço adulto que atingiu em cheio o gigante e o atravessou pelo tórax. Como se isso não bastasse, o metal infincou-se na terra e, como uma enorme corrente, foi se afundando cada vez mais e, então, parou. A pressão foi tanta, que por muito pouco o naelin não foi enterrado vivo.

Respirei fundo, aliviado, ao observar o corpo inânime sobre o jardim.

Será que ele morreu? Preferi crer que sim.

Mais à direita do amontoado de carne podre estava minha mãe, graças ao Criador, incólume.

Ver que ela estava bem foi tranquilizador.

Ao olhar novamente para trás vi que meu pai havia retornado à batalha contra o cavaleiro negro.

Mesmo travando uma batalha mortal ele nos salvou.

Voltei-me para frente e com muita dificuldade comecei a caminhar em direção onde estava a minha mãe.

Ela estava apoiando-se com a mão e o joelho direito no chão à frente de uma das árvores que se erguiam no meio do jardim de cujas copas em formato umbelífero pareciam sentinelas guardiãs.

Respirei fundo mais uma vez quando percebi que o naelin estava inconsciente.

Mas como nunca algo está tão ruim de maneira que não possa piorar, minha alegria durou pouco.

Antes que eu tivesse tempo para comemorar por minha mãe estar viva, o dragão amarelo levantou um voo rasante e pousou bem diante da minha mãe numa postura bastante hostil.

Logo que tocou com as patas no chão a besta rugiu revelando a numerosa fileira de dentes afiados semelhantes a espinhos gigantes.

Mamãe colocou-se de pé rapidamente e encarou a mulher que estava sobre o dorso do animal com bastante intensidade.

— Eu não suporto mulheres fracas — afirmou Alizah de cima do dragão fazendo cara de nojo. Mamãe permaneceu imóvel. — Mulheres como você, gentis e delicadas, vieram ao mundo apenas para sofrer. Você deu bastante sorte, pois até agora teve alguém para te defender, mas agora  está só e ninguém poderá te salvar, nem mesmo o mestre aaori — falou com o cenho cerrado e gesticulou levemente com a cabeça em direção ao meu pai.

Ignorei as dores no corpo e comecei a andar mais de pressa.

— Não se intrometa nisso, garoto — disse Alizah assim que notou minha aproximação. — Isso é um assunto de mulheres — argumentou com uma nota de ironia em sua voz.

Mamãe olhou em minha direção com ternura e serenidade. Não havia uma única sombra de medo ou pavor em sua fisionomia, apenas, determinação.

O que ela pretende fazer?

O Descendente de Anur - Usuário do FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora