O som pesado das botas de Jados pisando firme sobre a superfície de madeira arrancou-me um suspiro gélido. A porta se abriu num ranger lamurioso para receber os velhos cansados de uma longa jornada de trabalho. Uma luz parca iluminou debilmente a casa escura.Será que eles já sabem?, questionei encolhendo-me sobre a cama com o coração palpitando apressado. E daí? Eu fiz o que tinha que fazer!, justifiquei, esforçando-me para acreditar no próprio argumento.
Percebi uma presença, parada, perscrutando o quarto escuro. Mantive-me com os olhos cerrados por debaixo dos cobertores. Mais uma vez o som das botas amassando o assoalho se fez ouvir. O barulho dos passos foi esvaecendo cada vez mais distante até se tornar uma batida distante, e por fim, parar.
Suspirei aliviado ao perceber que ambos estavam tão cansados, que resolveram recolherem-se em seu aposento em busca do descanso merecido depois do que deveria ter sido um longo dia.
Amanhá conversaremos. Vai ser melhor assim, concluí, arrancando o cobertor de cima da cabeça. Aconteça o que acontecer, não posso ser expulso do Arvoredo. Preciso me encontrar com o Urso Pardo... Preciso me encontrar com o tio Tautos. Preciso de ajuda para ir atrás do meu pai.
A noite foi demasiadamente longa e o sono fugiu dos olhos como o rato a fugir do gato. Dormi aos picotes e um friozinho cobriu-me por inteiro quando os primeiros raios de luz transpassaram pelas frestas das madeiras.
Dei uma cochilada pela manhã e quando me dei conta a figura vetusta da Sra. Jared já estava na cadeira ao lado. Tomei um susto e sentei-me na cama rapidamente.
— Bom dia — disse ela.
— Bom dia — respondi ainda sonolento devido à noite mal dormida.
— Deixe-me ver os seus ferimentos. — Ela se aproximou e retirou as faixas. Os olhos bem abertos e as sobrancelhas arqueadas. — Isso não é normal — falou, apalpando com o dedo a ferida do estômago. — Dói?
— Não muito.
— Que tipo de magia é essa? — Quis saber.
— Como?
— Ninguém se cura assim tão rápido. Os remédios que eu te dei são eficientes, mas não fazem milagres — disse ela esquadrinhando-me com os olhos. — Você é um bruxo, por um acaso? — perguntou aproximando o rosto do ferimento da barriga e do estômago, apertando-os com o dedo.
— Claro que não! — respondi com veemência.
— E como você explica isso?
Dei de ombros, sem resposta. Nem eu sabia como havia me recuperado tão rápido. Já sabia da potencialidade de cura na minha herança de sangue, mas em momento algum eu havia usado esta potencialidade. Eu nem sabia como usar essa potencialidade, para se falar a verdade.
— E-Eu não sei — afirmei, sem compreender realmente como aquilo tinha acontecido.
Jared alisou o queixo com a mão examinando-me com os olhos. O rosto levemente virado para a direita e o cenho carregado.
— Quem é você, garoto, hã? — perguntou. — Veja, você está na minha casa há dias e sequer me disse o seu nome. Isso é estranho... e extremamente mal educado! — Ela empertigou-se sobre a cadeira e cruzou os braços, aguardando por uma resposta.
A pergunta me pegou de surpresa.
— Ravel, senhora — respondi prontamente, receoso por não ter dado um nome falso. Como eu não pensei sobre isso antes? — Perdoe-me, mas os acontecimentos dos últimos dias deixaram-me meio desorientado.
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O Descendente de Anur - Usuário do Fogo
Fantasy#1 Lugar em Fantasia em Os Tops do Ano 2017 Balrók, o Caçador, montado em seu leão de fogo juntamente com mais sete cavaleiros negros invadem o pequeno vilarejo de Nanduque em busca de um grupo de rebeldes fugitivos. Um comerciante local, o tapeceir...