Invasores

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Meu pai saiu do celeiro imediatamente após a minha mãe.

Leo e eu os seguimos.

Mamãe parou no meio do jardim e papai ao seu lado. Atrás deles, frondosas árvores com troncos acinzentados e copas arredondadas em formato umbraculífero projetavam suas sombras sobre eles.

Senti um frio no estômago e uma ansiedade tentando tomar conta de mim.

Eu já estava em batalha e meu primeiro inimigo era eu mesmo.

Uma nuvem de poeira surgiu à leste denunciando a chegada dos invasores.

Eu podia sentir minha testa molhando com suor frio e o meu corpo inteiro tenso, rígido.

Ainda que não estivesse frio, mas uma temperatura bastante agradável, pequenos espasmos de tremedeira percorriam o meu corpo.

De quando em vez, todos os meus membros balançavam semelhantemente à copa das árvores quando chacoalhadas pelo vento vespertino.

O firmamento já ruborizava no horizonte celeste por sobre nossas cabeças anunciando a chegada de mais um ocaso.

A cortina bege e o tropel dos cavalos cada vez mais próximo.

Todos estávamos bastante tensos.

Vez por outra nossos olhares se cruzavam. Cada vez que isso acontecia, um podia notar o misto de sensações que o outro sentia. Com exceção de papai, é claro.

Mais a frente de nós, com postura impávida, o maior espadachim que o mundo já vira, aguardava resoluto, desarmado e sem armadura, o exército de guerreiros guiados por um dragão amarelo que viera nos destruir.

"Esconda suas habilidades", dizia. "Mostre para o inimigo que você é menos do que realmente é. Faça-os subestimá-lo, e depois... destrua-os."

Olhando para ele víamos apenas um camponês, um homem rude, um matuto que cheirava a palha e feno. Mas como diz o ditado zotariano "nem tudo o que é aparente aparenta o que realmente é".

Podia não parecer, mas diante de nossos olhos estava um dos maiores estrategistas que este mundo já conheceu.

Mais atrás, Leo, mamãe e eu esperávamos como se aquele homem fosse o nosso escudo e, de certo modo, ainda que nossos inimigos eram maiores e mais numerosos do que nós, a presença de meu pai fazia com que não perdêssemos a esperança.

Não dizíamos uma só palavra. Apenas tentávamos manter a calma na certeza de que papai deveria ter algum plano em mente.

Porém, por mais que quiséssemos manter o controle, quanto mais o exército de invasores se aproximava, mais tensos ficávamos.

Entendendo a situação crítica, Mamãe olhou-me com ternura e depois  pegou na minha mão e na do Leo. Em seguida olhou para a grande bola de luz branca no meio do céu e clamou:

"Oh Senhor, único Criador, Deus soberano sobre tudo e todos, venha pois com tua destra e conduza-nos perante os nossos inimigos.
Tú, oh Goldor, que tudo observas por meio do teu grande olho branco e escreves os seus desígnios desde a eternidade, eleve o seu santo nome acima dos nossos adversários.
Pois teu é o poder e sua será a glória desta vitória.
Protejei-nos, Senhor, de nossos inimigos!"

Tendo dito essas palavras, sua fisionomia iluminou-se em temperança. A inquietação dissipou-se como fumaça levada pelo vento e um ar de confiança e serenidade assentou-se sobre sua face.

Depois disso, não demorou muito até que uma fileira de cavaleiros destacara-se pela campina velozmente em nossa direção.

Eles avançaram e pararam a uns vinte metros de distância de nós.

O Descendente de Anur - Usuário do FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora