Ao ver o corpo de mamãe estirado sobre a grama, um sentimento estranho tomou conta de mim.Era fúria e ódio.
A sensação que tive naquele momento era como se ondas de choque perpassassem por todos os meus membros.
De onde estava não conseguia ver claramente. Mas a violência do impacto não deixava margens para dúvidas.
As lágrimas rolaram quentes pelo meu rosto.
Curvei-me apoiando a mão esquerda com o cabo da espada sobre o joelho. Uma dor profunda se originava no meu ventre e depois partia apoderando-se de todo o meu corpo.
O gosto salgado das lágrimas inundava-me a boca há muito já seca.
Lembro de ter cerrado os punhos apertando-os com força até que os nós dos meus dedos ficassem doloridos.
Fechei os olhos e tudo o que pude ver em minha mente fora o humanoide bestial com o dobro da minha altura.
Ao mentalizar a imagem do naelin, pensamentos terríveis assombraram-me a cabeça. Eu não queria matá-lo. Não! Eu queria vê-lo sangrar, sangrar até que não houvesse mais uma única gota de sangue em seu corpo.
O ódio foi aumentando consideravelmente como se escalasse uma montanha íngreme. E não importa o quanto subisse, a ira parecia nunca atingir o topo. Eu não conseguia dominá-la. Eu não queria dominá-la.
Fiquei cego para qualquer possibilidade que não fosse a de destruir aquele maldito. Nada mais importava. Eu não tinha um plano ou estratégia. Nem mesmo condições físicas eu tinha para realizar o que se passava em minha mente. No entanto, tudo o que eu pensava era em uma forma de fazê-lo sangrar e, embora não soubesse como, estava absolutamente certo de que conseguiria.
— Agora é a sua vez! — afirmou o naelin e se precipitou apressadamente ao meu encontro.
Não desviei quando ele me atingiu em cheio na face.
Voei para longe.
Não senti dor alguma, mas notei uma quantidade enorme de sangue escorrendo do meu nariz e boca descendo pelo pescoço.
Firmei minhas mãos na grama e afastei o rosto do chão. Uma mancha rubra ficou estampada ali.
Antes que houvesse tempo para raciocinar, senti um impacto violento em minha barriga no momento em que tentava levantar com as mão e os joelhos no chão. O chute foi tão forte que me fez rolar pela grama. Rolei até parar com a fronte virada para cima.
Não sabia o porquê, mas meu corpo parecia entorpecido. Todas as dores de outrora pareciam suprimidas. Talvez, fosse por eu não me importar com mais nada, apenas com uma forma de aniquilar o meu inimigo. Não temia mais morte. Por isso, não sentia mais dor alguma. Pelo menos, foi o que eu achei no momento.
O gigante caminhou lentamente até onde eu estava e abaixou-se trazendo seu focinho bem próximo ao meu rosto.
— Diga-me... — falou bem pertinho com seu hálito quente e pútrido. - Como é a sensação?
Eu o encarei friamente. Era evidente que minha expressão transmitia ódio.
— Diga-me... — disse novamente e passou o dedo sobre a minha boca. — Como é sangrar?
— Você logo saberá — retruquei furioso. A voz saiu fraca o suficiente para arrancar um riso zombeteiro da figura asquerosa e fétida que ainda mantinha o rosto próximo ao meu.
Em seguida, o naelin segurou em meu pescoço e começou a apertá-lo com força até interromper a passagem de ar.
— O que você disse? — indagou, ainda rindo.
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O Descendente de Anur - Usuário do Fogo
Fantasia#1 Lugar em Fantasia em Os Tops do Ano 2017 Balrók, o Caçador, montado em seu leão de fogo juntamente com mais sete cavaleiros negros invadem o pequeno vilarejo de Nanduque em busca de um grupo de rebeldes fugitivos. Um comerciante local, o tapeceir...