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O desespero acelerou o meu coração que a esta altura já batia descontroladamente. A mente turvada pela debilidade do corpo e pelo abraço vaporoso do vulto negro que me envolvia.
— Eu posso salvá-lo se você fizer tudo o que eu disser! — insistiu com maior contundência. — Eu sou o único que pode tirá-los daqui!
— Q-Q... — Esforcei-me para perguntar quem estava dizendo isso, mas meus lábios não se mexeram e nem som algum saiu da minha boca. Tentei virar a cabeça, porém, também não o pude. Só aí, então, notei que todo o meu corpo estava completamente paralisado.
— Não se esforce tanto — recomendou a voz por entre a nuvem escura. O hálito quente cheirando a enxofre fez eriçar os pelos da minha nuca. — Eu precisarei da força que você ainda possui para tirá-lo daqui — observou, enquanto eu lutava contra uma força invisível, que me revestia como manto intangível.
A sombra continuou imobilizando-me enquanto ondas de espasmos percorriam todo o meu corpo lânguido. O que é essa coisa?, questionei-me em pensamento sentindo um medo crescente tomando conta de mim. Por que eu não consigo me mexer?
Olhei ao redor e notei que ninguém estava percebendo o que estava acontecendo comigo, nem mesmo os guardas que estavam ao meu lado. Será que não podem vê-lo? Será que...
No mesmo instante um clarão iluminou o meu entendimento com a fisionomia do Curupira. As lembranças das histórias contadas pelo pequenino guardião da Floresta Sagrada brotando em minha mente como sementes que germinam sob a terra. Sussurrador, compreendi e imediatamente senti os calafrios aumentarem e percorrerem o meu corpo.
A mesma criatura que havia trazido todo o desequilíbrio a Anur, um ser tão poderoso que foi capaz de seduzir e dominar o grande Dragão Vermelho, o Ser Vivente do Fogo, agora, estava ali presente naquele mesmo lugar onde eu estava. E saber que o ser mais poderoso que já andou sobre Anur estava de alguma forma exercendo seu domínio sobre o meu corpo gerou em mim uma sensação de terror e desespero incontroláveis. O que ele quer comigo?
O Curupira já havia nos alertado de que o próprio Zaitã estava por trás de toda a guerra e ele mesmo tinha os seus próprios interesses com tudo isso. Mas ninguém havia dado crédito às palavras do pequeno ser de pés invertidos. "Você não deve continuar seguindo Mainz", advertira-me ele quando ainda estávamos na Floresta. Agora já era tarde demais.
O que Zaitã, o Desolador, quer comigo?, perguntei mais uma vez em pensamento. Será que tem alguma coisa a ver com o que eu sou?
A mente fervilhava em busca de algum significado, juntando as centenas de peças quebradiças do grande quebra-cabeças da minha existência e juntando-os todos em uma amálgama desconexa.
Enquanto isso a multidão desgovernada se precipitava contra os guardas no afã de alcançar a plataforma. Uma pedra atingiu meu ombro arrancando-me do meu devaneio. Então percebi que dezenas de objetos começaram a ser arremessados na minha direção e na do meu pai no mesmo tempo em que gritos de protesto e xingamentos raivosos eram proferidos.
Um homem de idade avançada com cabelos grisalhos, mas forte com os braços torneados por músculos rígidos conseguiu furar o bloqueio e escalou a plataforma encarando-me nos olhos.
— Meu filho! — bradou ele entre lágrimas se aproximando sem desviar os olhos da minha direção. — Você matou o meu filho!
Sem compreender o significado daquelas palavras e completamente imóvel, apenas observei quando o homem foi dominado por um dos guerreiros do séquito do jovem de vestes luxuosas que estava em cima da plataforma analisando tudo com expressão concentrada.
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O Descendente de Anur - Usuário do Fogo
Fantasía#1 Lugar em Fantasia em Os Tops do Ano 2017 Balrók, o Caçador, montado em seu leão de fogo juntamente com mais sete cavaleiros negros invadem o pequeno vilarejo de Nanduque em busca de um grupo de rebeldes fugitivos. Um comerciante local, o tapeceir...