Prisioneiro

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A dor na nuca latejava e o corpo sacolejava de um lado para o outro. A mente rodopiava descontrolada. Onde estou? 

Abri os olhos e tentei enxergar alguma coisa, mas a visão estava turva demais para que eu pudesse reconhecer o que estava acontecendo ou onde estava. A única coisa que consegui capturar foi o clarão amarelado batendo quente contra o meu rosto.

Ouvi passos e percebi a movimentação de pessoas conversando agitadas.

— Ele está acordando! — Ouvi dizer uma voz masculina com entonação preocupada.

— Já estou indo — avisou um segundo homem demonstrando a mesma preocupação.

— De pressa! — Mais uma vez advertiu o primeiro. — Se ele recobrar os sentidos nós estaremos perdidos e se ele fugir Tarus vai...

— Aqui... pronto! — antecipou-se o segundo.

Ouvi passos apressados em minha direção. Uma mão pesada pressionou-me o ombro paralisando o meu corpo. Eu estava deitado sobre um tipo de superfície estreita e macia, mas não pude identificar o que era. A forte claridade impediu-me de abrir mais os olhos, que semicerrados só observava vultos flutuando adiante. Em seguida, senti uma pressão contra o rosto tapando o meu nariz com alguma espécie de tecido umidificado. Um cheiro azedo e nauseante entrou pelas narinas e em questão de segundos fui perdendo os sentidos novamente até perder a consciência.

A mesma situação se repetiu por mais duas vezes. Os sentidos iam voltando ao corpo vagarosamente, porém, antes que eu me despertasse por completo, alguém vinha com o mesmo pano molhado pressionar as minhas narinas e eu apagava novamente. Na terceira vez só consegui perceber que estava escuro antes de desfalecer outra vez.

De novo comecei a recuperar os sentidos paulatinamente. A primeira coisa que percebi foi a dor lancinante na têmpora e na nuca. Desta vez eu estava sentado contra uma áspera parede gelada. Tentei levar a mão direita até a cabeça, mas não consegui.  Correntes me prendiam pelos pés e pelas mãos. Um único cadeado cerrava ambos os pés em um gancho preso ao chão. Outras duas correntes presas por ferrolhos nas paredes laterais prendiam cada um de meus pulsos em grossas algemas de ferro preto fazendo com que meus braços ficassem esticados.

— Aí está — disse alguém enquanto eu me esforçava para recobrar a lucidez. — Eu pensei que você não ia acordar mais. — Havia uma nota de sarcasmo na voz do homem que me dirigia a palavra.

— O-Onde estou? — Apenas ar saiu por entre os lábios formando as palavras em sussurros.

— Você está em minha casa — respondeu. 

Com muito esforço para abrir os olhos consegui contemplar a figura embaçada de um homem de vestes brancas e cabelos negros escorridos na altura dos ombros do outro lado do que se parecia muito com grades. Eu estou em uma cela, compreendi.  

— Quem é você? — perguntei ainda em um baixo cicio, sentindo o corpo fraco e a boca seca.

— Meu nome é Cazel — respondeu diretamente o homem. — Você já deve ter ouvido falar de mim. Eu sou o Primeiro Regente de Toren, a serviço de Tarus, o Imperador, até a coroação do Príncipe Euren, Guardião da Terra e legítimo herdeiro do Trono de Pedra, a seu dispor.

O homem falava com uma certa pompa ufana como se estivesse com um limão na boca.

Aos poucos o raciocínio foi voltando e minha busca pela compreensão foi gradualmente fazendo sentido. Raitus, lembrei, em um misto de raiva e tristeza. 

É claro que já ouvira falar de Cazel, mas não tinha muitas informações, a não ser, que era um capacho de Tarus, colocado sobre a regência de Toren no lugar do Rei Gauren.

O Descendente de Anur - Usuário do FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora