O Reencontro

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Quando me viu aproximar, uma nota de sarcasmo se desenhou na boca do naelin.

Meu pai fitou-me nos olhos por alguns segundos, mas não disse nada.

— Eu cuido disso, pai — falei com o tom mais confiante que pude.

Papai carregou um pouco o sobrolho, levou a mão esquerda sobre o abdômen e deu um pulo para traz.

A reação dele me surpreendeu. Não imaginava que ele me deixaria enfrentar o naelin sozinho.

Senti um frio na espinha que fez eriçar os meus pelos quando olhei para frente e me deparei com o monstro de enormes dentes.

Ele me olhava como um predador encara a sua presa.

Mamãe pareceu assustar-se arregalando os olhos, provavelmente surpresa também..

"O que Mainz está fazendo!", ela deve ter pensado na hora.

Leo carregou o sobrolho parecendo não acreditar na atitude do meu pai, que assim que recuou, tornou a inclinar-se no chão com ar de concentração.

Neste momento, os guerreiros que haviam sobrevivido ao massacre de outrora, agitaram-se do outro lado e ameaçaram partir para o campo de batalha.

— Não! — disse Alisah e levantou a mão direita. — Eu estou curiosa para ver isso.

A mulher sobre o dragão empertigou-se e congelou aguardando com expectativa por minha luta contra o naelin.

Pude sentir todos os olhares voltados para mim, aumentando ainda mais o desconforto.

Sempre me senti estranho ao ter que fazer qualquer coisa sob pressão. Mas o que eu poderia fazer?

Nada!, concluí.

— Eu vou te esmagar como uma pulga! — ameaçou o gigante com um barítono de dar arrepios.

— Só se você conseguir me pegar — respondi de forma provocativa ignorando a sensação estranha na barriga.

O que estou fazendo?, pensei ao mesmo tempo em que as palavras de provocação saíram de minha boca.

Enquanto o naelin lutava contra o meu pai, eu o analisei.

Ele era forte. Sem dúvidas qualquer golpe em cheio que me acertasse poria fim à luta. Então eu precisava evitar isso a todo o custo.

No entanto, ele era lento. Seu ataque mais perigoso era quando atacava com grande força pela horizontal, fazendo a bola girar pelo seu corpo em uma investida mortal capaz de destruir todos os ossos do meu corpo no primeiro impacto.

Mas seu ataque era também o seu ponto fraco, se é que posso chamar assim!

Conforme o globo girava, uma abertura desguarnecida se formava pelo flanco direito do gigante. Contudo, o que eu poderia fazer? Eu mal alcançava sua cabeça para de alguma forma tentar arrancá-la e qualquer outra investida seria inútil. Sem contar que, se eu não o acertasse de forma fatal, certamente seria pego em um contra golpe mortal já que minhas defesas não resistiriam o poder de ataque do adversário.

Avaliar as minhas opções deixou-me desanimado. Não teria como decepar a cabeça do naelin e muito menos tinha de onde tirar fogo.

Enquanto eu pensava, sem cerimônias ou avisos, o gigante atacou.

A esfera toda incrustada por cravos pontiagudos subiu contrastada pelo céu já ruborizado ao fundo. Em seguida a bola desceu numa investida na vertical de cima para baixo numa força tal que parecia que a própria lua havia caído do céu.

O Descendente de Anur - Usuário do FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora