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— Ei, garoto! — Ouvi uma voz bem distante. — Ei, você! — insistiu. — Acorda!
A voz foi ficando cada vez mais próxima e audível até que despertei-me, grogue. A barriga roncava de fome e o corpo lânguido só conseguia manter-se sentado devido a parede em que estava escorado e as correntes prendendo as mãos deixando os braços erguidos.
— Aqui, garoto! — O som de metal tilintando chamou-me a atenção. — Eu trouxe isso pra você. Come...
Algo arrastou-se pelo chão de pedra fazendo um ruído agudo e topou contra a minha perna. O corpo estava fraco demais para reagir. Os braços esticados pelas cadeias mantinham o meu corpo suspenso. A boca estava seca e com um gosto amargo. Mal conseguia respirar, sentindo um incômodo ardor a cada vez que puxava o ar pelas narinas.
Os olhos ardiam e a iluminação parca da cela fazia com que me sentisse completamente perdido e desnorteado em relação ao tempo. O que fizeram comigo?, questionei-me, sem entender o motivo de tanta fraqueza.
— Eu vou afrouxar as correntes. Se segura aí.
Com os olhos meio abertos notei a figura de um homem esguio do outro lado das grades. Ele girou uma manivela e aos poucos os meus braços foram descendo, dormentes e doloridos. A consciência insistindo em deixar-me.
— Vamos, coma. Eu trouxe pra você — recomendou.
Meus olhos capturaram um prato de alumínio cheio com uma massa esbranquiçada e ao lado dele um uma caneca com água. Tive dificuldades de levar a mão até o prato. Os dedos entorpecidos quase não sentiram nada quando peguei um bolo da massa branca com a mão e coloquei na boca. A mesma coisa aconteceu com o paladar, embora o mais provável fosse que a gosma clara não tivesse gosto algum. A fome, porém, era tanta que comi sem reclamar ou pensar duas vezes.
— Não é a melhor comida do mundo, mas vai te ajudar — disse e deu um sorriso. A face escanhoada tinha feições expressivas e as maçãs chupadas de magras. Suas vestes eram desbotadas e maltrapilhas, não se parecia com um guarda, talvez fosse apenas um serviçal do castelo.
Continuei comendo, sem forças para mastigar e falar ao mesmo tempo. A porção não era grande e logo acabou, mas foi o suficiente para sentir o estômago forrado. Em seguida tomei toda a água da caneca em uma única golada. Virei a caneca sobre a boca ansioso pelos pingos diminutos que escorriam vagarosamente.
— Você é o Usuário do Fogo? — perguntou, enquanto lutava para saciar a minha sede. — Cara, ouvi várias histórias a seu respeito. A criança que manipulou o fogo e derrotou o terrível Balrók — disse de forma melódica e já emendou: — Estão dizendo por aí que você é aquela criança.
Permaneci em silêncio, desconfiado, mais vigilante depois do que ocorrera com Raitus.
Aos poucos os sentidos foram voltando ao corpo e ainda que a fraqueza insistisse em assumir o controle dos meus membros, a mente começou a recuperar o seu vigor.
— Olha cara... Isso aí que você comeu não vai te ajudar muito. Eles extraíram as partículas de fogo do seu sangue. É por isso que você está se sentindo tão fraco — esclareceu.
— C-Como eles fizeram isso? — perguntei.
O homem encolheu os ombros como se não soubesse. Então, ele se levantou colocando a cabeça entre as grades e abaixou o tom da voz:
— Dizem que você é discípulo do General Mainz, é verdade?
Aquela informação despertou-me o interesse. Ajeitei as costas sobre a áspera parede de pedra tentando deixar a cabeça erguida.
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O Descendente de Anur - Usuário do Fogo
Fantasy#1 Lugar em Fantasia em Os Tops do Ano 2017 Balrók, o Caçador, montado em seu leão de fogo juntamente com mais sete cavaleiros negros invadem o pequeno vilarejo de Nanduque em busca de um grupo de rebeldes fugitivos. Um comerciante local, o tapeceir...