Leo permaneceu parado no mesmo lugar conforme pedira. De vez em quando o olhava de relance só para garantir a sua segurança. Ele observava tudo demonstrando bastante preocupação, porém, o que ele poderia fazer?
Consciente de que estava só nesta batalha, comecei a pensar nas habilidades demonstradas por Gamel até aquele momento e pela primeira vez me senti inseguro. Até agora tudo o que ele fez foi esticar e retrair a lâmina da espada. Mas será que é só isso? Com certeza ele deve ser capaz de fazer mais. Esticar e retrair devem ser suas habilidades mais básicas, arrazoei.
No mesmo instante lembrei de como meu pai conseguia curvar o metal pelo ar e fui ficando cada vez mais preocupado. Será que ele tem essa habilidade? Busquei na memória alguma cena da batalha entre eles a fim de relembrar de mais alguma detalhe que pudesse me ajudar, mas não consegui nada. Tudo o que me surgiu na mente foi a visão de Gamel repelindo o ataque da lâmina do meu pai com apenas uma das mãos.
Pensei em conjurar o fogo, mas até esta opção pareceu-me inútil naquele momento. O que eu poderia fazer desta distância?
Permaneci afastado por pouco mais de dez metros, mas sem baixar a guarda. Gamel havia cessado os ataques sucessivos em resposta.
- Está desistindo? - Suas palavras soando afrontosas aos meus ouvidos ao ver minha hesitação. - Percebeu que não pode me vencer? - Gesticulou com a mão esquerda virando a palma para cima.
Olhei para o Leo em busca de ajuda, uma ideia, mas ele continuava paralisado com fisionomia assustada. Algo que não pude perceber naquele momento assombrava o Leo. O medo era compreensível, contudo, o pavor que ele revelava sentir diante de Gamel era bem incomum.
Repousei o olhar novamente sobre Gamel, que demonstrava-se confiante de cima de seu cavalo. Ele não era grande e também não tinha a aparência aterrorizante de um naelin. Seus cabelos negros escorriam pelos ombros e, diferentemente de nosso último encontro, havia abandonado o manto negro por vestes brancas. Porém, ainda que sua aparência não fosse tão intimidadora, o ar misterioso e frio que emanava de sua feição causou-me arrepios.
Gamel era aliado do império, mas estava a serviço de Cazel, primeiro regente de Toren na ausência da família real, já que o príncipe estava sob o controle de Tarus. Assimilei todas essas informações ao relembrar da conversa de Tautos e papai ainda em nossa casa em Anzare.
Com isso, o ex membro da Irmandade das Lâminas tinha passe livre por toda Toren. Esse foi um dos grandes fatores que contribuíram para que nos encontrasse tão facilmente. O império encontraria dificuldades em movimentar-se em ArToren, mas um toreano não.
Uma pontada de angústia afincou-se em meu peito ao pensar nas consequências que essa informação trazia. Mesmo se eu vencê-lo, quantos mais virão? Serei fugitivo para sempre? Por qual motivo estão atrás de mim?
- Como um bom aaori discípulo do lendário Mainz, você já deve ter analisado algumas de minhas habilidades, não é mesmo? - Gamel falou descansando a lâmina da espada para baixo. Mais uma vez permaneci calado. Aos poucos fui percebendo que o meu silêncio o irritava. - Vejo que herdou o azedume do Mainz - disse com ar de sarcasmo. - Com certeza ele é o cara mais antipático que eu conheço.
Permaneci concentrado, cozinhando a mente em busca de uma saída. Vamos, Ravel. Pense em alguma coisa... Você precisa vencê-lo!
- Bom... - disse Gamel com cara de tristeza. - Já que você não quer conversar... Vamos terminar logo com isso!
Ao ouvir suas palavras eu me preparei para mais um dos ataques com a lâmina. Será que sua espada vai me alcançar nesta distância?
Diferentemente das outras vezes, em vez de apontar sua espada em minha direção, ele a levantou com a ponta direcionada para cima. Aquilo me deixou confuso e sem reação. Eu ainda estava olhando para a lâmina que reluzia ao refletir o brilho da lua, que nem percebi sua real intenção.
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O Descendente de Anur - Usuário do Fogo
Fantasy#1 Lugar em Fantasia em Os Tops do Ano 2017 Balrók, o Caçador, montado em seu leão de fogo juntamente com mais sete cavaleiros negros invadem o pequeno vilarejo de Nanduque em busca de um grupo de rebeldes fugitivos. Um comerciante local, o tapeceir...