Venenosa

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Ainda na mesma posição, Alizah tomou a espada que estava sobre a grama e passou a lâmina no meio da palma da mão direita abrindo um pequeno corte. Ela colocou-se de pé e caminhou até onde estava o dragão, aparentemente extenuado, e impôs a mão sobre sua cabeça.

Com a mão sobre o dragão, Alizah fechou os olhos e começou a sussurrar algumas palavras como se fizesse uma oração e, então, abriu os olhos novamente.

Algo diferente aconteceu com o dragão assim que sua mestra terminou de pronunciar sua prece. Sem debater-se como antes, a fera virou o seu corpo ficando de pé novamente. 

Com a mão ainda sobre a cabeça da besta, Alizah parecia comandar cada movimento que o animal fazia.

Ainda com o pescoço preso, a besta tracionou as patas traseiras inclinando todo o seu corpo fazendo um enorme esforço ao puxar a cabeça para trás. Aos poucos as amarras começaram a ceder.

Olhei para a minha mãe e percebi que ela estava com os dois punhos cerrados e sua expressão era de quem também fazia um enorme esforço. Então compreendi que ela lutava para manter o dragão preso.

Ambos batalhavam milimetro a milimetro, o dragão tentando desprender-se das amarras e minha mãe tentando mantê-lo ali. Um intenso duelo como uma espécie de cabo de forças acontecia.

Então, Alizah meteu a espada no meio do tentáculo que prendia a cabeça da besta furando-o até o atravessar ao meio no espaço que se esticou entre a terra e a cabeça do animal.

O acirrado confronto continuou por alguns segundos e, então, as amarras começaram a fender-se bem no local onde a espada permanecia encravada.

Não demorou muito, tamanha a força que puxava de ambos os lados, o liame se quebrou.

Assim que se livrou, o dragão agitou suas enormes asas e virou-se em direção à minha mãe numa postura ofensiva e intimidadora.

Eu ameacei caminhar em direção ao jardim, mas discretamente mamãe me olhou e fez um singelo aceno em direção ao Leo.

Entendendo o recado comecei a caminhar em direção a ele sem tirar os olhos da batalha entre mamãe, o dragão e Alizah.

Senti o rosto ardendo e doendo profundamente. Levei as costas da mão esquerda que segurava a espada até a boca, encostei e depois afastei. Uma enorme mancha de sangue já escuro se impregnou nela.

Olhei para o meu peito sem camisa e um borrão vermelho sobressaltava-se por sobre o branco da minha pele.

Ao movimentar o braço esquerdo, senti dor em minhas costelas. Olhei para conferir e a região estava toda arroxeada. 

Lembrei dos chutes e socos que havia tomado e constatei:

Além do braço direito quebrado, também devo ter fraturado o nariz e algumas costelas.

Com dificuldade para andar e sem equilíbrio, tentei usar a espada como bengala, mas ao tocar a ponta da lâmina no chão esta perfou facilmente a terra fazendo aumentar o desequilíbrio. Desisti e continuei caminhando.

Droga!, xinguei em pensamento sentindo-me um inútil. Até mesmo Leo tinha sido mais eficiente do que eu durante a batalha.

Olhei para o jovem caído mais a frente a poucos metros de distância. Ele ainda estava inconsciente.

Tomara que você ainda esteja vivo, Leo. Por favor, esteja vivo!

Comecei a ficar aflito tentando acelerar o passo, mas logo minha atenção foi capturada pela voz de Alizah.

— Sabe — começou a dizer com os olhos fitos em minha mãe —, ao observá-la durante toda a batalha, notei que você foi a única que não saiu do meio do jardim — afirmou. Ela estava do lado esquerdo do dragão. — Quando seu filho estava enfrentando o naelin, mesmo nos momentos mais críticos você permaneceu aí. — Apontou o dedo em direção ao jardim. — Isso quer dizer que, como não é possível manipular um elemento sem estar em contato com ele, fora deste jardim, você é só mais uma mulherzinha frágil como as outras — arrazoou e deu um giro na espada.

O Descendente de Anur - Usuário do FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora