Culpada?

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No dia seguinte estávamos eu e minha mãe na diretoria. Ela estava furiosa por ter que comparecer na escola.

- Que foto é essa da minha filha nua na internet? Do que o senhor está falando?

- Essa - o diretor mostrou a bendita foto. - É lamentável o que ocorreu com sua filha, já mandei retirar da internet e se for compartilhada a foto todos irão ficar de castigo e já chamamos a polícia.

Minha mãe olhava para a foto, mas sua expressão era indecifrável para mim. A verdade é que ela não expressava nada.

- Mas isso não dá o direito da sua filha de bater em três colegas.

- Que seja! Onde eu assino? - perguntou minha mãe surpreendendo o diretor.

- Vamos dar a ela uma suspensão pela agressão! O resto da semana.

- Está sendo bonzinho, porque? - perguntei. O diretor nunca é bom.

- Entendo o seus motivos, já sofreu demais. - ele sorriu solidariamente. Não conhecia esse lado.

- Sofreu o que? Essa menina é uma oferecida. Uma piranha. Escuta aqui, garota... Eu estou de namorado novo e se você se oferecer para ele no jantar de hoje a noite eu juro que te expulso, porque eu não estou criando projeto de prostitua na minha casa.

- Senhora se acalme.

- Entendeu, Alisson?

- Sim. - minha voz era fraca e de choro. Minha cabeça está a baixa. - Só isso?

- Sim! O senhor pode fazer o que quiser com essa garota, não me importo. Agora eu tenho que ir. - ela se levantou e saiu.

O diretor olhou para mim chocado, pedi permissão para ir atrás dela e ela me foi concedida.

- Mãe. - chamei. Ela parou de andar e se virou para mim. - Você não podia me defender?

Minha mãe nunca me defendia, era a primeira a me apedrejar.

- Você só me envergonha, garota! Tudo o que quero é ir embora daqui logo. - ela falou em alto e bom som. - Espero que faça suas obrigações e não que fique de saliência pela rua a fora.

- Mãe...

- Mãe nada! Aguente as consequências de seus atos. - depois ela se foi. Me deixando como sempre faz.

Ela não defendeu as notas que eu perdi quando Adriele roubou meu trabalho, não me defendeu quando me chamavam de feia, quando sofri racismo, quando sofri assédio de seus namorados... Minha mãe sempre me culpou por tudo, até por ter nascido.

O que eu tinha feito de tão errado na minha vida passada para minha própria mãe me odiar tanto?

Me sentei na muretinha e comecei a chorar novamente.

- Sua mãe tem razão! Tem que lidar com suas merdas, Alizinha! Você quem fez, você resolve. - Adriele começou a bostejar do meu lado.

- Some daqui, garota. - falei empurrando ela da muretinha. - Antes que eu te afogue na privada.

- Sabe, tá precisando emagrecer. - disse se levantando e saindo.

Então agora tenho que lidar, novamente, com tudo sozinha.

Durante toda a aula escutei meus colegas falando de mim, nesse tempo eu fiquei na dúvida: Eu agradecia por só duas turmas terem me visto nua ou ainda me sinto um lixo ambulante?

Dúvida cruel!

No final a suspensão seria boa! Não quero mais olhar para a cara dessas pessoas.

No recreio pude perceber que muitos já sabiam do ocorrido, mas não viram minha foto, também não precisavam.

- Ali, colocaram a foto em um site pornô. - Giovana informou.

- Foda se. - respondi sem paciência. Eu estava cansada daquele assunto, eu não queria falar, apenas esquecer.

Fui para casa dando graças a Deus por ter acabado a aula.

Minha rotina foi a mesma, menos o jantar. Hoje estaríamos recebendo dona Tânia, um paquera dela e o namorado da minha mãe.

Tomei meu banho e na hora de me arrumar minha mãe me fez vestir um vestido longo, velho e Largo. Me obrigou a manter o cabelo preso. Com minha cara inchada de tanto chorar e essa roupa eu estava parecendo acabada.

- Gostei. - falei para mim, afinal eu estava acabada.

Me arrependi de ter cedido aos caprichos de mamãe, no final das contas o boyzinho de Tânia deu bolo e ela levou André.

Que homem de vinte e dois anos ou vinte, não me lembro, bonito, inteligente, cheiroso, charmoso e tantas outras coisas não tem nada para fazer além de acompanhar a mãe?

Eu fiz essa pergunta a ele.

- Então me acha bonito? - perguntou sorrindo e se sentando ao meu lado.

Quando ele fez isso fiquei um pouco triste, sua imagem na porta do meu quarto estava bem bonita.

- Você é. - respondi tranquilamente. - Mas diz aí? Tem nada mais interessante para fazer não?

- Tem umas provas do cursinho para corrigir. Sabe que eu dou aula para uma outra escola, eles oferecem cursinho de inglês. 

- Não sabia.

- Pois é. Tenho umas provas, mas achei mais interessante vir aqui.

- Aqui não tem nada de interessante.

Ele se aproximou mais de mim antes de responder

- Tem você. - ele respondeu colocando uma mexa solta do meu cabelo para trás da orelha.

Eu estava com dor de barriga. Era gostoso, era um friozinho... Não sei. Dor de barriga e ela sempre me visita quando André está por perto.

- Não sou. Agora o máximo que sou é uma puta nua na internet.

Ele se entristeceu e não teve chance de esconder.

- Sinto muito. Vai passar

Eu sei que não vai e não quero falar do assunto.

- Porque fica dando em cima de mim? - perguntei desviando do assunto, não queria falar daquilo, mas queria saber o motivo dele estar interessado em uma menina boba como eu.

- Porque você é linda e eu te quero. - ele estava perto de mim, sua mão não saía do meu rosto.

Eu parei de respirar por alguns segundos e só me dei conta disso quando puxei bastante ar.

Ele olhava diretamente nos meus olhos, depois olhou para meus lábios seduzentes.

Do nada eu comecei a rir com todo aquele flerte quando ouço vozes na sala me fazendo despertar daquele transe e fazendo eu dar um pulo.

- Céus, sua mãe vai se dar conta de que está no meu quarto. Vou morrer de vergonha. - falei me levantando da cama e me afastando dele.

Ele sorri

- Besta.

Saímos do quarto! Conheci o namorado velho e feio da minha mãe, por fim fiquei todo o jantar ouvindo como eu era culpada de ter sido exposta, André e dona Tânia me defendendo, meus irmãos e eu só comendo.

Será que eu era? Fui eu com minhas próprias pernas que entrei naquele motel, foi com minhas mãos que eu tirei minha roupa!

Não. Eu estava tirando para Lucas, para que ele me achasse bonita, para que ele me desejasse, para que ele tirasse meu lacre. Tirei para ele. ELE. E não a escola inteira.

Então porque eu sinto que apenas eu fui culpada?

A verdade é que fui uma boba!

Eu sou uma boba!

Diário de uma VirgemOnde histórias criam vida. Descubra agora