Verdade

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Preparo uma sopa de couve e vou chamar meus pacientes para se alimentarem.

Vou até o quarto de Tânia e vejo que está dormindo tranquilamente. Fico muito preocupada com a situação dela, afinal ela já tem muitos anos de vida.

OK, pode ser que gente mais nova seja mais frágil, mas mesmo assim.

Entro no quarto escuro e me sento ao lado de Tânia e a acordo delicadamente.

- Oi - ela fala sorrindo. O sorriso é fraco, mas sincero e bonito. - Você veio, não foi um sonho.

- Pediu para que eu viesse e eu vim! Porque queria que eu visse? Era para cuidar de você?

- André está mal - fala devagar.

- Irei cuidar dos dois!

- Acho que está passando mal porque o corpo não deu conta e a culpa é minha e...

- Pare Tânia. - me levanto da cama e mexo em alguns travesseiros. - Vamos, sente-se! Irei trazer para você uma sopa de couve e muita água. Qual o horário de seus remédios?

- Não se preocupe comigo!

- Me preocupo, sim. Agora vamos, sente-se! - a ajudo se sentar na cama e acendo a luz para ela ir se acostumando com a claridade, pois não dá para comer no escuro.

Vou até a cozinha, pego a sopa é uma garrafinha d'água. Volto para o quarto e ajudo Tânia a se alimentar, OK, talvez seja excessivo, mas só quero o bem dela.

Logo ela volta a se deitar - Cuide do meu filho, pois agora eu não posso.

Faço que sim com a cabeça e saio do quarto apagando a luz. Deixo a vasilha e a água na cozinha.

Ando até o quarto de André e paro na porta. Ele já está acordado, não me vê, então fico o observando feito uma psicopata.

Ele levanta e se olha no espelho.

Entro no quarto e me posiciono atrás dele, olho para sua imagem no espelho e percebo que está chorando.

Meu coração se despedaça com a cena. André infeliz é um dos piores pensamentos que já tive.

- André... - o chamo, ele se vira, me olha por um tempo antes de me abraçar. - Vem - o chamo para a cama.

Ao sentarmos na cama o abraço novamente - Vai ficar tudo bem. It's OK... É assim que se diz não é?

Sinto ele sorrir entre seu choro, porém não diz nada. Ficamos muito tempo abraçados antes de ele começar a falar.

- Eu queria vender meu carro porque minha mãe... Ela... Está mal! Eu amo meu pai, mas o odeio. Ele fez um estrago. Ela vai a igreja a procura de ajuda, mas sempre bebe, sempre faz esses bolos... Ela está perdida, Ali! Está tão ferida e não há nada que eu possa fazer e... Não sei!

Eu comecei a refletir. Tânia sempre me pareceu ser a perfeição, mas de fato é estranho ela beber e se drogar para depois ir a igreja. Ela está tentando se agarrar a algo para não afundar, e eu a compreendo perfeitamente.

- Ela já está muito depressiva... Não quero perder minha mãe, não quero ela triste. Pensei que ela melhoraria se eu viesse morar com ela, mas nada. Ela já não tem mais vontade de dar suas aulas, essa última semana ela ficou no quarto. Foi difícil arrasta-la para o médico. - ele dá um suspiro doloroso e prossegue - Eu estava vendo um psicólogo particular, não quero mais que ela vá no psicólogo do posto, não ajuda em nada. Por isso vou vender o carro, vai dá para eu pagar algumas consultas e...

- E o seu estágio?

- Não consegui ainda e parece que nem vou!

- Claro que vai. Você é inteligente, esperto

Diário de uma VirgemOnde histórias criam vida. Descubra agora