Estou bem

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Ligo a TV em um canal qualquer, deito no sofá e olho para o teto. O que está acontecendo? É tanta coisa que minha ficha nem caiu ainda.

Até algumas semanas atrás minha preocupação era apenas em perder minha virgindade e me casar com Lucas e agora... Agora não existe mais espaço para pensar em namorados e safadezas.

Agora eu estou aqui sozinha em uma casa velha, com móveis velhos e acabados, tudo velho.

O vazio no meu peito só aumenta, confesso que estava me acostumando com a presença dele, do meu pai. Agora nem ele eu tenho. Agora estou sozinha.

Sozinha.

Ouço um soluço meu e me dou conta de que estou chorando.

Minha cabeça dói, meu corpo inteiro dói. Estou sem energias para levantar e tudo piora quando penso que meu pai pode ser um assassino. Um assassino.

Sou filha de um assassino.

OK, Paulo acredita que ele não seria capaz de matar alguém, mas eu não acredito no mesmo, e as pessoas sempre fazem coisas que a gente pensa que são incapazes. Além do mais ele já me ofereceu uma arma, disse que iria me ensinar, nem vou falar nas ameaças que já o ouvi fazendo.

Eu era uma menina tão alegre cuja as únicas preocupações era namoradinhos, cabelo, maquiagem e até dieta. Me preocupava até com minhas notas, mesmo que não deixasse transparecer.

Quero minha vida  de volta. 

★★★

Acordo com uma puta dor de cabeça, levanto e vou até o banheiro. Ah, esse cheirinho insuportável de café faz meu estômago roncar sem autorização, pois sempre fui o tipo de pobre que tem direito ao almoço e a janta, somente.

Olho para a geladeira vazia procurando comida pronta. Porque foi que eu gastei toda a minha grana? Ah, claro... Pensei que nada de ruim poderia acontecer mais.

Volto para meu sofá e mudo de canal para um desenho. Para minha sorte a internet e a TV é gato, acho que não tem que pagar e se tem não deve ser tão caro.

Quando dá meio dia resolvo fazer um almoço para mim, pelo menos ainda tem comida por aqui.

Faço um arroz, salada e frito um ovo. Após almoçar limpo a cozinha e volto para meu sofá para sair dele segundos depois com alguém chamando.

- O que quer? - pergunto ao homem desconhecido a minha porta.

- Quero ver o Valdo.

Aquilo me irritou demais.

- Está na cadeia, vai lá ver ele e não me incomode mais! Agora sai da minha porta - grito.

Ele me olha sem graça e sai. Saio de dentro de casa e vou para a minha calçada.

- Escutem vocês. Os que estão em casa e os que estão na rua... Escutem todos que podem me ouvir. - gritei. - Não me perturbem, não me chamem... Eu não quero saber de ninguém e quem bater no meu portão eu juro que mando pro inferno. - bato o portão da minha casa e entro.

Realmente espero que não chamem na porta da minha casa. Volto correndo para a sala, pego um caderno, arranco uma folha e com um canetão vermelho escrevo "Não chame, não perturbe", quando pronto coloco minha plaquinha pregada no portão.

Assim que volto a deitar no meu sofá o celular toca.

Meu Deus... Eu só quero paz.

- Quem é? - pergunto de maneira grossa.

- Sou eu, Lia.

- Agora não. NÃO. NÃO... - grito. - Parem de me perturbar. Parem... Eu não quero saber. Não quero saber de mais nada.

Diário de uma VirgemOnde histórias criam vida. Descubra agora