Não estou só

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Na manhã de segunda feira tomo um banho e lavo meu cabelo que coça mais do que pulga no corpo.

Coloco meu uniforme e deixo o cabelo secar naturalmente, mas antes de sair cato um pouco do arroz que ainda sobra na panela e enfio na boca para não morrer de fome.

- Ali - Paulo chama me dando um susto. Dou um pulo e tampo a panela vazia, pego minha bolsa e saio. - Gata, você está um horror.

Dou de ombros, pois já não me importo com isso, e vou para a escola. O caminho é silencioso, mas não era desconfortável.

Chegando perto da escola vejo umas pessoas em volta a uma aluna da escola, já a vi no recreio.

Muito curiosa vou saber o que aconteceu, aparentemente a menina passou mal e as pessoas do ponto de ônibus estava a ajudando.

- Pode deixar que eu a levo para a escola. - falo chegando perto de uma mulher que estava falando com a menina.

- Mas ela está de bicicleta, como vai levar? - uma moça perguntou.

- Vou até a escola, deixo minha bike lá e volto. - saio do lugar e vou rápido para a escola. - Paulo, tranca minha bike para mim?

- Tranco sim. - ele responde sorrindo. - Vá lá ajudar a garota. - eu já ia saindo quando ele me segurou pelos pulsos. - Espera. - ele mexeu em sua mochila e me entregou uma sacola com uma vasilha dentro. - Minha mãe mandou que eu entregasse isso para você. Ela acha que você não anda comendo direito... Se ela soubesse que você é uma esfomiada. - ele ri. Paulo fala como se fosse uma tremenda besteira eu deixar de comer por causa das coisas ruins que vem me acontecendo.

Ingênuo.

- Obrigada. Agradece sua mãe por mim, vou comer tudo e você tem razão, sou uma esfomiada.

Guardo a sacola em minha bolsa e deixo a mesma com Paulo. Volto correndo para o ponto de ônibus onde a menina estava, não era tão longe, mas mesmo assim.

Quando eu chego só tem ela no ponto, acho que as outras pessoas se foram. Ela sorri para mim e agradece.

- Vamos entrar por trás porque o sinal já bateu. - falo. Eu sempre chego um ou dois minutos antes do portão fechar e com certeza levei mais de dois minutos andando até o ponto.

Ao chegarmos na escola o vice diretor nos deixa entrar, ele disse que Paulo havia lhe contado sobre o ocorrido.

Deixei a menina sentada em um banco e fui buscar um copo d'água para ela.

- Fique quietinha aí. Logo ficará bem. Quer ajuda para ir até sua sala?

- Não precisa. - ela sorri fraco. - Vou ficar bem, obrigada. Acho que é só um mal estar por conta da gravidez.

- Vai ser mãe! Que maravilha. - que cedo... Ela deve ter quantos anos? 16? É tão cedo para ter um filho quando há várias coisas para conhecer e... Ou talvez ter um filho e ama-lo seja mais importante do que conhecer o mundo.

Ela sorri orgulhosa. - Sim. Fiquei muito feliz, mas eu passo muito mal.

- Que chato. Você comeu algo? Grávidas tem que se alimentar bem.

Ela olha para baixo e responde.

- Não. Minha última refeição foi o almoço de ontem... Estava tão enjoada que não comi.

- Céus, tem que se alimentar, mulher!

- Não tenho fome.

- Entendo. Bem, então vou indo.

- OK. Tchau. Obrigada. - nos abraçamos como despedida e depois foi em busca de Paulo.

Rodei a escola, fui ao banheiro, me olhei no espelho e me assusto com minha cara inchada e minhas olheiras.

Diário de uma VirgemOnde histórias criam vida. Descubra agora