Me preparei toda, fiquei toda gostosa para me encontrar com Flávio que não aparece.
Já fazem dez minutos que estou aqui e nada. Que falta de pontualidade é essa? Sou cliente, cliente não espera.
Será que estou levando um bolo? Será que nem pagando me querem? Que inferno é esse, Jesus? Sou toda cheirosa, gostosa e não consigo o que quero.
Meu celular toca, é Flávio.
- Fofa, não poderei ir. - foi a primeira coisa que ele disse.
- Porque? Você é gay? Ta até falando "fofa".
- Não sou gay. Não importa. Não irei. Não quero seu dinheiro e nem nada.
- Porque?
- Porque não, gata. Agora tchau. - e desligou.
Sinto as lágrimas descerem. Fui chutada até por um prostituto. É o fim.
Pego um ônibus e vou direto para minha casa. Para minha cama. Minha coberta.
Porque só acontece coisa ruim comigo? Porque?
Lucas e Giovana, André me incomodando e agora um prostituto que me chutou.
Quando ponho meus pés na sala vejo algumas malas na sala, isso mesmo mala. Você deve estar se perguntando como pobre tem mala né? Eu também estou me perguntando. Será que alguém vai passar uns dias aqui?
Minha mãe estava sentada no sofá sorrindo junto com Antônio, parece que só tem eles na casa.
Minha mãe me viu e o sorriso despareceu.
- Alisson, que bom que chegou antes do seu pai.
- O que tem meu pai? - pergunto já sentindo uma dor de barriga, mas não é daquelas que sinto na presença de André.
- Ele vem te buscar! Você está indo embora da minha casa.
- Mas mãe...
- Mas nada! Eu não quero você aqui, entendeu? Você vai embora. Já arrumei todas as suas coisas nessas malas e para dizer que nunca te dei nada, essas malas são sua.
Sinto um nó na garganta, um enjoo e uma dor de cabeça. Como assim minha mãe quer que eu vá embora?
- Porque?
- Porque você não passa de uma oferecida! Se oferece até para meu namorado, sua coisa horrorosa.
- Eu não. Não quero velho.
Ela se levanta e anda até a mim. - E eu não quero você.
E então eu começo a chorar.
Nem minha mãe me quer.
- Eu te dei tudo e olha como me agradece? Dando em cima de Antônio, andando com essas suas roupas impróprias, causando pensamentos impróprios.
- Deu tudo? Você nunca me deu amor ou carinho. Só pedrada a vida inteira. - grito
- Amor? - ela ri. - Amor é algo que você nunca vai ter. Ninguém nunca vai te amar, está entendendo? Você é uma cruz, uma pedra no sapato e ninguém ama pedras no sapato.
Porque ela está dizendo essas coisas? O que foi que eu fiz? Eu sou tão horrível assim?
- V- Você devia me amar - murmuro baixo.
- Não tenho obrigação de te amar.
- Mas sou sua filha.
- E daí? O que eu tinha que fazer, eu fiz. Te dei casa, comida e roupa lavada. Te coloquei no mundo também.
Que absurdo. Como pode?
Eu passo por ela e tento me trancar no meu quarto. Ainda há muitas coisas aqui que são minhas.
- Alisson, levanta daí! Seu pai já chegou. - ela ordena abrindo a porta do meu quarto
- Não mãe... - imploro aos teus pes. - Por favor, me deixe ficar! Eu faço o que quiser.
Ela me pega pelo braço e me levanta
- A única coisa que eu quero que faça é sumir da minha casa, da minha vida. Agora sai da minha casa.
Ela anda até a sala e pedi ao homem estranho, vestido de calça jeans e uma blusa surrada de time, ajuda para tirar as malas da sala.
O homem é alto, magro, com bigodinho e cabelo implorando para ser cortado. Eu não o reconheço.
- Vamos Osvaldo, me ajude com essas malas.
- Quem é Osvaldo? - pergunto curiosa.
- Seu pai. - mamãe respondi. - Suas malas estão lá fora, agora só falta você.
- Não mãe, por favor me deixe ficar! Eu te suplico.
Ela simplesmente me puxa até a porta a fora e me joga na rua.
Sento no asfalto e choro mais ainda. Está tudo se tornando tão real.
Sinto meu braço sendo apertado e meu corpo sendo levantando.
- Vamos menina, não tenho todo o tempo. - o homem que se diz meu pai fala. Ele tem cheiro de cigarro e álcool. - Sua mãe não te quer mais e eu não sou tão ruim assim, não! Agora vamos. - ele é tão grosso...
- Porque está ficando comigo?
- Devo um favor para sua mãe e eu cumpro com minhas palavras. - ele me joga em sua lata velha que se parece com o carro, entra e dá partida.
Observo o caminho e tento puxar uma lembrança do meu pai, mas tenho poucas e nenhuma delas é de seu rosto.
Lembro apenas que ele era alto, um pouco barrigudo e dele falando de como minha mãe era feia, desleixada, horrorosa, gorda e me lembro de como minha mãe era obcecada com esse lance de corpo, ficava gritando comigo dizendo que era minha culpa ela ser gorda e ele me defendia!? ...
Depois de muitos minutos, descemos do carro. A casa do homem é na saída para outra cidade. Longe demais.
Pude observar a rua, me parecia ser uma rua normal. Sua casa era pequena, tinha quatro cômodos.
- O sofá é todo seu! Na geladeira não tem comida e nem em lugar nenhum aqui. Mas temos cerveja e cachaça!
- Tá. - murmuro.
- Regra: Não toque nas minhas drogas e o resto não há regras.
- OK!?
- Sinta-se a vontade. Tome aí dinheiro para pedir alguma comida - ele me jogou uma nota de cem. - Pode ligar a TV, é por assinatura, coloquei porque tenho que ver meus jogos.
- Tem internet?
- Não, mas se quiser amanhã eu instalo. - ele pegou algo em cima da geladeira e um canudo. - Se alguém chamar, não responda. - e se sentou a mesa de plástico que a cozinha tinha. Jogou um pó branco em cima da mês e com um canudo começou a cheirar.
Eu saí de lá rapidamente e fui para a sala assistir TV para tentar me distrair.
Como minha mãe me expulsou de casa? Como ela teve coragem de me deixar morar com um drogado?
Deito no sofá e sinto algo estranho. Me levanto e vejo uma arma! Aí MDS... Ele anda armado.
- Moço, moço. - grito desesperada. - Tem uma arma no seu sofá.
Ele aparece segundos depois na sala.
- Quer ela para você? Eu tenho outras.
Arma? Eu?
- Não... Não quero. - pego a pistola na ponta dos dedos e entrego para ele. - Toma.
- É uma pistola pequena, boa para você. Se quiser te ensino a atirar.
- Não. Não.
- Tem que aprender a se defender, filha.
Em algum momento ele sai e me deixa sozinha. Deito no sofá sentindo falta da minha cama e choro tudo o que tenho para chorar, ou seja, chorar até não restar mais água no meu corpo.
Devo ser tão detestável, porque nem minha mãe me ama. Nem ela!
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Diário de uma Virgem
Teen FictionComo é não pensar como uma virgem? esse é um pensamento recorrente na minha mente. Eu amaria saber! Eu não quero mais ser uma virgem, mas também não é tão simples assim deixar de ser uma virgem. O meu maior desejo é perder minha virgindade com um...