Quando tudo acontece

Capítulo 2

Capítulo 02

- Óbvio que você pode ficar aqui! – Clara praticamente gritou quando Aline terminou seu relato. Estavam ambas paradas na soleira do apartamento de Clara, porque assim que a porta foi aberta Aline despejou tudo.
- Obrigada – Aline disse num suspiro. Ela soltou o peso, deixando os braços penderem ao lado do corpo.
- Relaxa – Clara a abraçou e logo em seguida as duas entraram no apartamento. – Eu sei que parece que não, mas tudo vai se resolver. Aliás, problema um: resolvido. Você já tem uma casa.
Aline deu um sorriso sincero. Em algum lugar escondido dentro dela, sabia que Clara estava certa e que existia a esperança de realmente tudo se resolver. Porém, ali na sala de estar do apartamento da melhor amiga, não conseguia acreditar. Estava praticamente desistindo de tudo, se houvesse algo a mais para desistir.
- Algum sinal do Márcio? – Clara perguntou enquanto as duas esparramavam-se pelo seu confortável sofá de veludo vermelho.
À simples menção do namorado fez com que a cabeça de Aline latejasse. Ela fechou os olhos por alguns breves instantes.
- Não. Nada. Nenhuma ligação, sms, mensagem no Whatsapp, no chat do Facebook... Nada! – Ao final da frase sua voz já estava aguda e sem fôlego.
- Certo, eu entendi. – Clara puxou as pernas pra cima do sofá e encarou a amiga. – O que vamos fazer? Precisamos de um plano. Acho que a prioridade é o bebê, certo?
Automaticamente Aline pousou a mão sobre a barriga ainda lisa e um sorriso brotou em seus lábios.
- Sim. Definitivamente ele é minha prioridade agora.
- Nossa – Clara bateu de leve seu ombro contra o da amiga e lhe lançou uma piscadela travessa – Nossa prioridade. Melhor você marcar uma consulta antes que a empresa cancele seu plano de saúde – Assim que as palavras saíram de sua boca, Clara bateu na própria testa – Eles não podem te demitir! Você está grávida. Existe algum tipo de lei contra isso, não é?
- Sim, sim – Aline deu de ombros – Mas não quero voltar para lá. Pelo menos não agora. Não quero que fiquem comigo apenas porque não podem me demitir.
Clara ponderou as palavras da amiga. Até fazia algum sentido.
- Mas e a questão financeira? – Clara pronunciou os pensamentos de Aline.
- Sim, eu estava pensando nisso. – Aline jogou a cabeça pra trás, apoiando no encosto do sofá. Ela fechou os olhos e passou as mãos pelo rosto.
- Tudo bem, um problema de cada vez. – Clara pulou do sofá – Marque a consulta enquanto eu preparo nosso almoço.
Aline demorou um instante, mas marcou a consulta. Assim que terminou a ligação foi até a super equipada cozinha de Clara.
- Hum, que cheiro delicioso – Aline disse, sentindo o cheiro dos temperos de Clara – Qual será o prato hoje?
- Uma sofisticadíssima macarronada. Porque adivinha quem não fez compras? – Clara riu.
- Tudo, absolutamente tudo o que você cozinha fica maravilhoso, Clarinha.
- Exagerada... – Clara mostrou a língua, mas Aline sabia que a amiga estava sendo modesta. Era a melhor chef de cozinha que conhecia.
Assim que a macarronada ficou pronta, as duas foram para a bancada que também servia de mesa. O cheiro estava maravilhoso e Aline sentiu a barriga roncar. Só então se deu conta de que realmente estava morrendo de fome. Aline deu duas garfadas, deliciando-se com o molho caseiro de Clara, mas assim que foi levar a terceira garfada à boca, sentiu uma ânsia incontrolável. Ela saiu correndo para o banheiro e lá botou pra fora tudo o que havia em seu estomago: duas garfadas de macarrão e bile.
- Amiga... – Clara a chamou quando Aline saía do banheiro, a boca ainda pingando de água – Você tá tão grávida.