Capítulo 08
- Qual dos dois? – Clara perguntou para Aline. Ela segurava um vestido de mangas com decote em "V" preto com bolinhas brancas e outro idêntico, branco com bolinhas pretas.
Aline estreitou os olhos em direção à amiga.
- O que? – Clara riu, dando de ombros.
Clara era assim: se tinha dúvidas entre qual cor de roupa ou sapato comprar, comprava as duas.
- Por que você está se arrumando toda para cozinhar na casa do Fred? – Aline perguntou e antes que Clara pudesse abrir a boca, ela mesma respondeu – Ta se arrumando pro Urso Polar!
- Cala a boca e escolhe logo – Clara fuzilou a amiga.
- O preto – Aline disse por fim e ouviu a outra sair pisando duro.
Aline estava no escritório de Clara, que agora estava entulhado com seus pertences. Mentalmente Aline agradeceu por aquele cômodo ser espaçoso o suficiente.
Os móveis desmontados estavam na garagem da casa de seus pais. Aline aproveitou que o pai não estava em casa e deixou suas coisas lá. Segundo sua mãe, o pai nem perceberia que a garagem estava cheia. Era o que Aline esperava. Ela também foi se arrumar e logo estavam saindo para a casa de Fred.
Ele morava em uma enorme casa de três andares em um dos bairros nobres da cidade. Assim que Clara estacionou o carro na rua do condomínio fechado, percebeu que alguém já as aguardava na porta.
- Meninas! – Leandro, o namorado de Fred, as recebeu. – Que saudades! – Ele disse, abraçando as duas ao mesmo tempo.
- Você nunca tem tempo pra gente – Clara disse, fazendo bico.
Leandro era empresário do ramo de vinhos e sempre estava trabalhando. Viajava muito a trabalho.
- Bom, esta noite eu sou todo de vocês – Ele piscou para as duas e entraram na casa.
Passaram pela espaçosa sala, toda decorada em tons de laranja e foram direto para a cozinha. Fred já havia comprado os ingredientes do jantar e estava pegando algumas garrafas de Budweiser na geladeira.
- Olá, meus amores – Ele mandou beijo para as meninas – Os meninos estão lá atrás.
- Deixa que eu te ajudo com isso - Aline ofereceu-se e pegou as garrafas das mãos de Fred.
- Obrigado – Fred agradeceu e pegou uma bandeja com petiscos.
Eles foram para a área de trás da casa, o lugar preferido de Fred: o deck de madeira continha no centro um enorme guarda-sol que ficava aberto mesmo a noite. Ao redor da área circular estavam bancos de estofados brancos, a direita havia uma churrasqueira e um forno de pizza.
- Olá, meninos – Aline os cumprimentou e os três levantaram-se, beijando-a no rosto.
- Bom, eu vou começar a preparar o jantar – Clara disse, voltando para a cozinha.
- Eu vou te ajudar – Ela ouviu Pedro dizer.
Clara soltou uma risada anasalada.
- É claro que vai – Ela disse, enquanto pegava o salmão fresco na geladeira.
Pedro abriu um sorriso de canto de lábio quando viu o peixe.
- Chef Clara vai preparar frutos do mar?
- Sim, Chef Pedro. Salmão assado ao molho branco e arroz com brócolis. Pode ser?
- Claro que sim – Pedro sentou-se no balcão da cozinha – Vou apenas ficar aqui – Ele deu um gole em sua cerveja. Clara começou a limpar peixe. Inconscientemente, ela fazia tudo do jeito que Pedro lhe ensinara. Clara sentia seu olhar sobre ela. Sabia que ele devia estar com uma expressão de satisfação no rosto.
Argh, como você é irritante... Clara pensava.
- Ta tudo bem com a Aline? – Pedro perguntou e Clara percebeu que ele não estava mais sentado.
- Vai ficar – Ela afirmou – Aline está passando por uma fase difícil – O cabelo de Clara começou a soltar-se do coque mal feito.
- Olha, se eu puder ajudar em alguma coisa... – Pedro deu de ombros. Ele se aproximou e parou atrás de Clara. E ela prendeu a respiração. Pedro soltou seu cabelo e prendeu novamente, firme.
- Obri-brigada – Clara gaguejou – Foi muito gentil da sua parte trazer um chocolate e uma flor pra ela hoje. Ela adorou.
- E você? – Pedro perguntou, voltando sua atenção para a Budweiser gelada que tinha em mãos. – Gostou?
- Era meu chocolate preferido – Clara levantou a sobrancelha e começou a cortar o peixe.Aline conversava com os amigos de Pedro e estava realmente se divertindo quando sentiu o celular vibrar no bolso de trás. Por um momento ela congelou com a possibilidade de ser Márcio. Mas ela sabia que não era o ex namorado. Afinal, eles não tinham mais nada.
- Licença, preciso atender – Aline levantou-se e foi até a churrasqueira vazia.
Ela pegou o aparelho e percebeu que não conhecia o número que aparecia na tela.
- Alô?
- Alô, Aline?
- Sim, quem é?
- Oi, é o Caio... Eu comprei seu carro ontem.
- Ah! Oi, Caio. Algum problema?
- É que você esqueceu algumas coisas no carro...
- Esqueci? – Aline perguntou, tentando se lembrar do que poderia ser.
- Sim... No porta-luvas...
- No porta-luvas – Aline repetiu e então sentiu as bochechas esquentarem.
-Sim – Caio concordou – Bem, eu tive de olhar dentro do saquinho, sabe... São algumas ca-calcinhas – Ele gaguejou e Aline teve de morder o lábio para não rir.
- Meu Deus! – Ela disse, por fim, explodindo em risadas – Me desculpa, Caio. Eu realmente me esqueci delas.
-Não tem problema - Caio também ria, passado o momento embaraçoso. – Eu posso devolvê-las, se você quiser. Está em casa?
- Na verdade, não. Estou na casa de um amigo – Aline disse o bairro em que Fred morava.
- Eu moro perto...
- Você não se incomodaria em trazer pra mim?
- De jeito nenhum. Daqui vinte minutos eu estou chegando. Até.
- Certo, até.
Aline desligou e olhou para o aparelho por alguns instantes. Ela balançou a cabeça e foi até a cozinha.
- Você não sabe o que aconteceu – Aline disse, atraindo a atenção de Clara e Pedro, que estavam concentrados no preparo do jantar.
- O que?
- Eu esqueci algumas calcinhas no carro. E o Caio está vindo entregá-las.
Clara riu alto.
- O nome disso é destino.
Aline revirou os olhos e abriu a geladeira, pegando uma garrafinha de suco de laranja.
- Talvez você devesse mesmo ir à astróloga do Fred – Pedro opinou, enquanto cortava os brócolis.
- Tudo bem, gente – Aline disse depois de tomar um gole do suco – Eu não preciso de astróloga.
Ela voltou para o deck e minutos depois a campainha tocou.
- Quem será? – Fred perguntou, olhando para Leandro.
- Na verdade – Aline disse levantando-se – Eu acho que é para mim. Vou atender.
- Certo – Fred concordou, mas Aline sabia que o amigo estava desconfiado.
Aline saiu, atravessando a cozinha e a sala e então abriu a porta. E ela teve de fazer um enorme esforço para não soltar um suspiro.
Caio usava uma camisa social cinza e seu cabelo escuro caía levemente sobre a testa.
- Olá – Ele sorriu e Aline lembrou-se de respirar.
- Oi! Olha, muito obrigada por me trazer isso – Ela disse, pegando o pequeno saquinho de seda preta que ele tinha nas mãos – Sabe, mulheres precisam ser prevenidas, né? – Aline falava em disparada e sentiu as bochechas queimarem mais uma vez.
- S-sim, eu entendo – Caio ajeitou os óculos sobre a ponte do nariz – Bom, então está entregue.
- Obrigada – Aline agradeceu. E então lhe ocorreu algo. Era noite de sábado e esse homem maravilhoso não tinha nada para fazer, além de entregar calcinhas perdidas por ai? – Ei, eu vou jantar com alguns amigos – Aline disse, apontando o polegar para dentro da casa – Você não quer ficar? – É óbvio que ele teria algo mais interessante para fazer. Ela sabia disso.
- Não quero atrapalhar – Caio deu de ombros – Mas obrigado pelo convite – Ele sorriu.
- Você não vai atrapalhar nada. E é o mínimo que posso fazer, depois de tudo isso - Ela chacoalhou o saquinho de seda e os dois riram.
- Certo, então ta. - Caio deu de ombros.
Aline sorriu e deu espaço para que Caio entrasse na casa.
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Quando tudo acontece
RomanceAline e Clara são duas amigas que, aparentemente, têm uma boa vida. Aline tem o emprego perfeito, o apartamento perfeito e o namorado perfeito e Clara é uma chef de cozinha bem sucedida que vive para o trabalho e esconde alguns detalhes de seu passa...