Quando tudo acontece

Capítulo 36

Capítulo 36

Por mais que seu irmão tivesse insistido para que passassem a noite em sua casa, Aline achou melhor voltar para São Paulo. Queria ter um tempo com Caio para saber o que ele tinha achado de toda aquela tensão. Quanto a ela, estava realmente aliviada por tudo ter dado certo, aliás, fora melhor do que imaginara.
Estavam entrando no apartamento de Caio, e ele abria um envelope grande e dourado.
Aline entrou, mas Caio ficou na soleira da porta. Ele olhava atentamente para o conteúdo do envelope.
- Ta tudo bem?
- Ta, sim... – Ele entrou e fechou a porta atrás de si.
- O que é isso? – Aline perguntou, aproximando-se.
- É um convite de casamento... Da minha ex.
A ex de Caio iria se casar com o ex chefe de Aline. Ela soltou uma gargalhada alta.
- Eu perdi meu emprego pra ela... – Aline disse e então explicou para Caio.
- Eu não sabia... – Ele deixou o convite em cima da mesa da cozinha.
- Acho que devemos ir.
- Tem certeza?
- E perder a oportunidade de usar um vestido lindo?! Jamais! – Aline bateu palmas e Caio riu.

Já era madrugada e Aline não conseguia dormir. A conversava que tivera com Caio horas antes estava tirando seu sono.
Depois de um longo banho de banheira com direito a sais de banho e muita espuma, os dois estavam deitados na cama. Caio mantinha Aline junto a seu corpo e mexia em seu cabelo.
- Eu não acredito que meu pai foi tão gentil hoje! – Aline finalmente desabafou. – Ele realmente gostou de você – Ela ergueu os olhos e viu que Caio sorria.
- Obrigada por não desistir de mim... – Ela disse, fazendo carinho em seu peito nu – Eu sei que sou complemente bagunçada e minha família muito mais.
- E que família não é?! – Eles riram – E por falar nisso, acho que já ta na hora de você conhecer meus pais, não?
- Tem certeza? – Mas foi o que bastou para a ansiedade incontrolável de Aline dar as caras.
- Tenho sim. Eles precisam conhecer o motivo do meu sorriso – Caio deu um beijo em sua testa e afagou sua barriga, que crescia mais a cada dia.
- Talvez fosse melhor eu arranjar um emprego antes, sabe...- Ela deu de ombros. Era uma desculpa esfarrapada, mas por um lado não era totalmente mentira. Aline sabia a posição social da família de Caio e tinha certeza que seria constrangedor o suficiente quando ele a apresentasse: a namorada-grávida-de-outro-cara-sem teto-e-desempregada.
- Eu tenho muitos contatos, Li. Posso te conseguir uma entrevista – Não era a primeira vez que Caio oferecia ajuda em relação a carreira de Aline. Mas ela tinha resistência à essa ideia. Queria conseguir por seus próprios méritos.
- Eu sei que sim, mas é que você faz tanta coisa por mim... Preciso fazer isso sozinha.
- Eu não vejo problema nenhum. Aliás, eu tive uma ideia! Você podia escrever crônicas pra Millenium. Seria perfeito!
- Não! – Aline interrompeu, antes que Caio se empolgasse demais. – Sério, eu preciso fazer isso sozinha.
Ela percebeu quando sua empolgação diminuiu, mas também sabia que ele não ia desistir tão fácil.
Agora ele dormia tranquilamente e ela estava com os pensamentos a mil. Precisava muito conversar com Clara. Mandou um mensagem para que tomassem café da manhã, todos juntos; afinal, eles teriam muito o que contar sobre a Itália.

O café da manhã acabou virando um brunch, já que todos dormiram demais. Aline estava terminando de se arrumar, quando algo lhe chamou a atenção
-... o problema é que você é muito ingênuo!
Caio estava em seu escritório e ela sabia que não devia bisbilhotar a conversa dos outros e estava quase ignorando, mas a resposta de Caio fez com que ela saísse do banheiro e fosse até o corredor para ouvir melhor.
- A Aline não é assim, mãe! Você precisa conhecê-la antes de julgar...
- Eu quero mesmo conhecer essa menina e quem sabe assim não coloco um pouco de juízo nessa sua cabeça!
- Tudo bem, mãe. Eu to atrasado, depois nos falamos.
Aline escutou quando Caio fechou o notebook e rapidamente se esgueirou para dentro do quarto. Ela tentava amarrar a blusa frente única quando Caio entrou no quarto. Ele foi até ela e amarrou as tiras da blusa.
- Com quem você tava falando? – Aline perguntou e se assustou com a roupa que usava: aquela era uma de suas blusas mais larguinhas e estava completamente justa.
- Com minha mãe. Marcamos um jantar pra quarta feira, tudo bem?
Aline apenas assentiu e saíram.

Preferiram se encontrar na casa de Fred porque, segundo o próprio, ele havia feito aquele deck maravilhoso para aquelas situações.
Chegaram minutos antes de Clara e Pedro, que entraram de mãos dadas e o gesto não passou despercebido por Fred.
- Nada como uma viagem à Itália para nos fazer enxergar o que sempre esteve embaixo do nosso nariz! – Ele cantarolou e Clara lhe mostrou a língua.
- Por falar em Itália, podem começar a contar – Leandro disse, terminando de arrumar a mesa do deck – Quero todos os detalhes.
- Não, não! Antes dos detalhes, queremos os presentes! – Fred disse e estendeu as mãos para eles.
- Ainda não sei porque eu sou sua amiga... – Clara fingiu falar baixinho e revirou os olhos.
- Ei, eu ouvi isso!
- Mas quem disse que temos presentes? – Pedro disse, sem conseguir segurar o riso.
- Não brinque comigo, Castelli! -
Eles passaram o dia conversando e aproveitando para matar a saudade dos dois chefs. Leandro se deliciava com os detalhes da viagem. Ele e Fred estavam pensando em sair em uma segunda lua de mel e Itália era um destino bem cotado para a ocasião.
Já era noite quando chegaram na casa de Clara, sem seus respectivos parceiros.
- Agora você pode dar os detalhes picantes – Fred disse, jogando-se na cama da amiga – Aquele corpo é magnífico mesmo?!
Clara estava prestes a contar, mas então percebeu que Aline estava apoiada na cabeceira de sua cama, com uma cara nada boa.
- O que foi, Li? Você ta se sentindo bem? – Clara aproximou-se e afagou a barriga da amiga.
- Não é nada, eu só to cansada – Ela tentou forçar um sorriso, mas não conseguiu.
- Conta logo, Aline! Eu realmente to interessado na vida sexual de Cladro!
As duas olharam pra ele com uma expressão confusa pela junção dos nomes de Clara e Pedro, mas Fred preferiu ignorar abanando o ar para que ela falasse.
Então Aline contou tudo. Sobre o encontro de Caio com sua família na festa, sobre ele querer que ela trabalhasse na Millenium e o jantar da próxima semana.
- Hoje de manhã eu ouvi uma conversa dele com a mãe pelo Skype. Ela acha que eu to interessada na grana dele – Aline fungou. Queria muito culpar os hormônios, estava mesmo sentindo-se muito sentimental naquele momento.
- Mas que vaca! – Clara se manifestou – Ela nem te conhece pra te julgar assim.
- Talvez ele tenha um histórico de namoradas interesseiras... – Fred disse. Ele estava mexendo no celular e então passou o aparelho para que eles pudessem ver também.
Era a página de um site de fofocas e anunciava o casamento de Graziella e Edmundo, a ex noiva de Caio e o ex chefe de Aline.
Depois de ver a foto de Graziella, Aline não aguentou mais: desabou em lágrimas.
Ela não sabia porque estava chorando mas, ao mesmo tempo, sabia que chorava por tudo. Sentia-se exausta por todas as confusões e tensões que aconteciam em sua vida. Queria ter apenas um momento de paz e já começava a pensar que isso não seria possível tão cedo.
- Ei, não fica assim! – Clara a abraçou e deixou que ela chorasse em seu ombro – Vai ficar tudo bem, Li. Vai passar!
- Gente, calma! – Fred separou as duas e enxugou as lágrimas insistentes de Aline – Por que raios você ta chorando?!
- Nada da certo pra mim! – Aline choramingou e fungou.
- Então muda! Simples assim, gata! Muda essa atitude negativa. – Fred secou uma lágrima que descia pela bochecha de Aline – Eu sei que quando estamos no olho do furacão, parece que nunca mais veremos o arco-íris. Entendo que as coisas estão difíceis pra você agora, mas vai ficar tudo bem. Você apenas precisa acreditar!
- O Fred tem razão – Clara disse – E se você parar pra pensar, as coisas já estão se ajeitando: você não ta mais com aquele imprestável do Márcio, você encontrou alguém que te merece de verdade e vocês vão ter uma família linda! Agora você precisa focar na sua carreira.
- Você é muito boa no que faz, talvez não seja uma má ideia aceitar a proposta do Caio e trabalhar na Millenium.
Foi só quando Fred citou a revista que Aline teve uma ideia. Caio havia sido convidado para o casamento e eles iriam. E ela faria disso uma ótima oportunidade para contatos profissionais.
Aline respirou fundo e limpou as lágrimas.
- Obrigada, gente – Ela abraçou os amigos – Eu amo vocês!