Capítulo 24
Aline estava no banho quando seu celular começou a tocar. Caio olhou para o aparelho por alguns instantes. O nome Márcio aparecia na tela. Caio sabia que não deveria atender, mas não foi o que fez.
- Alô.
Um segundo de silêncio. De certo o choque por uma voz masculina atender ao celular de Aline.
- Quem é?
- Caio.
Mais um segundo de silêncio. Talvez ele estivesse tentando lembrar se conhecia algum Caio.
- Quem é você?
- Namorado da Aline. – As palavras apenas saíram de sua boca. – O que você quer? – Caio emendou logo em seguida, para não dar tempo de Márcio pensar. Porém, ele apenas desligou o telefone.- Tem certeza que não quer ficar lá em casa? – Caio perguntou, ao estacionar em frente ao prédio de Clara.
- Você precisa trabalhar! – Aline desafivelou o cinto.
Era um bom argumento. Caio realmente precisava trabalhar mas, com Aline por perto, ficava difícil se concentrar.
- A gente se vê a noite! – Ela prometeu, os olhos brilhando.
- Ahn... Enquanto você tomava banho, seu celular tocou. E eu atendi.
- Tudo bem. Quem era?
- Era o Márcio. – Por um segundo a cor sumiu do rosto de Aline. Seria hipocrisia dizer que não sentia mais nada por Márcio. Não era daquelas que "desamava" da noite para o dia.
Caio sabia disso. Mas ver isso estampado no rosto da mulher por quem estava apaixonado era mais incomodo do que pensava.
- Ele disse alguma coisa?
- Queria saber quem era. Eu disse que era seu namorado.
O sorri que Aline abriu foi instantâneo. Levou um mês para que Márcio a assumisse como namorada para a família e os amigos. E lá estava Caio, usando o título em menos de 24 horas!
- Ótimo. Nós vemos a noite, namorado – Ela o beijou e saiu do carro.
Jogou-se na cama do quarto de hospedes de Clara e deu um longo suspiro. Não conseguia acreditar na reviravolta de sua vida, parecia um filme! Queria muito conversar com Clara. Mas teria que segurar a vontade até que a amiga voltasse para o Brasil: aquilo precisava ser contado ao vivo. Então ligou para Fred e em menos de meia hora o amigo já estava com ela no sofá. Aline começou seu relato da noite passada, com todos os detalhes.
- Você é muito sortuda, garota! – Fred lhe deu um tapinha de leve – Dois boys lindíssimos no seu pé!
- Eu não quero saber do Márcio. Ele não me faz bem. – Aline estava decidida.
- E você ta certa, ele é realmente um bah-bah-ca! – Fred deu ênfase a cada sílaba da palavra, assim como o Ferdinando do Vai Que Cola costuma falar e os dois caíram na gargalhada.
- Preciso dar um jeito no restaurante... – Fred disse, rescostando-se ao sofá.
- Como assim?
- Faz tempo que eu quero mudar a decoração, mas a Clara sempre desconversa. Queria aproveitar que ela viajou e fazer alguma coisa diferente. Mas to com medo de ela me matar depois!
- Vamos fazer! – Aline se empolgou com a ideia.
- E se ela não gostar?
- Impossível! Você sabe como a Clara é: pode até não dar o braço a torcer no início, mas sempre acaba gostando no final!
- Verdade. Vamos lá!
Eles foram para o restaurante e dispensaram os funcionários por dois dias, por motivos de reforma, como dizia na plaquinha que Fred havia impresso e colocado na porta.
Então lá estavam Fred e Aline no meio do salão vazio. Apenas os dois e as mesas e cadeiras.
- Qual a sua ideia? – Aline perguntou.
- Acho que podíamos clarear um pouco isso aqui... – Fred fez um gesto. O salão tinha as paredes pintadas de vários tons de vermelho, que combinavam com estofado de veludo vermelho das cadeiras e toalhas de mesa.
- Estava pensando em paredes douradas e laranjas – Fred começou a explicar – Mobília preta e branca e muitas luminárias.
- Adorei! – Aline disse, já imaginando a nova decoração do The Licious – Vai ficar um arraso!
- Mas não vamos conseguir terminar tudo isso em dois dias!
- Só nós dois, não. Precisamos de uma equipe – Aline puxou o celular do bolso e discou o número de Renato.
Ela explicou a ideia de Fred e Renato disse que Vinicius e ele ajudariam. Os dois ficaram encarregados das tintas, enquanto Fred e Aline foram comprar as novas mobílias.
- Ai, meu Deus – Fred disse mais tarde naquele dia – A Clara vai surtar!
As paredes já não apresentavam mais nenhum resquício da tinta vermelha.
- Mas ta ficando bom! – Vinicius comentou, enxugando o suor da testa.
- Obrigada, meninos. Vocês são uns amores – Aline disse, entrando no salão com uma bandeja com copos de limonada.
- É sempre um prazer ajudar uma dama – Renato falou, todo galanteador.
- Obrigada, Renatinho! – Fred disse e todos caíram na gargalhada.
- Amor, adoraria se você me ajudasse aqui... – Leandro disse, entrando no salão. Ele estava tirando as mesas e cadeiras antigas e levando para a picape dos meninos. Os movéis novos chegariam no dia seguinte pela manhã e Fred decidiu levar os antigos para o centro de reciclagem do bairro.
- Vocês estão fazendo uma pausa e nem me avisam! – Leandro fingiu estar bravo e pegou um copo de limonada.
- Alguém em casa? – Caio perguntou, já entrando no salão.
- Oi! – Aline se adiantou até ele e lhe deu um selinho.
- Perdeu, hein... – Vinicius disse batendo de leve seu ombro no de Renato.
- Ela só está se fazendo de difícil – Ele balançou a cabeça.
- Precisam de ajuda? – Caio perguntou, segurando Aline próxima ao seu corpo.
- Tudo certo, chefe – Renato respondeu – Só falta a parede do bar.
- Pode deixar comigo – Caio tirou a camisa e pegou um rolo – Dourado, né? – Ele perguntou para Fred, que apenas balançou a cabeça. Estava ocupado demais encarando o tanquinho do outro.
Aline riu alto, jogando a cabeça para trás.
- Estou me sentindo num harém! – Fred disse, já que Renato e Vinicius também eram bem bonitinhos.
- Sossega o facho, hein! – Leandro o repreendeu, voltando a carregar as cadeiras.
-Tudo bem, amorzinho... – Fred voltou a ajudá-lo.
Aline sempre gostou de pintar e desenhar. Era um hábito que, com a vida adulta, foi ficando de lado. Porém ela adorava quando tinha oportunidade de fazer. Tinha desenhado Clara e Pedro do lado de dentro das portas vai-e-vem e agora estava começando a pintar. Era bem chato fazer as portas ficarem paradas no lugar, mas ela dava um jeitinho. Sentiu o celular vibrar no bolso de trás da calça e largou o potinho de tinta no chão para atender.
- Só pode ser brincadeira... – Aline disse ao ver o nome de Márcio aparecer na tela. Ela recusou a ligação e guardou o celular. Antes que pudesse voltar ao que fazia, Caio apareceu.
- O que você ta fazendo?
- Uma surpresa pra Clara e pro Pedro – Aline sorriu, puxando Caio para dentro da cozinha.
- Nossa! Foi você quem desenhou?
- Sim. Ta muito ruim?
- Ruim?! Aline, isso tá ótimo!
- Obrigada! – Ela sorriu, quase pulando no lugar.
- Eu seguro as portas pra você.
- Eu já falei que você é um amor?
- Hoje, não – Caio respondeu com um sorriso nos lábios e a beijou.- Uau... – Foi tudo o que Fred conseguiu dizer. Estavam todos no salão, que agora já estava completamente sem móveis, mas totalmente repaginado. Realmente a escolha de cores de Fred havia deixado o restaurante mais claro e ainda faltavam as luminárias, que chegariam junto com as novas mesas e cadeiras. – Não tem como a Clara não gostar!
- A gente mandou bem – Renato disse – Mas o desenho da Aline rouba toda a atenção!
- Verdade! – Vinicius concordou – Você vai fazer a ilustração da capa do nosso álbum!
- Será uma honra!
- Será que eu sou o único que ta com fome? – Leandro fez bico.
- Uma pizza seria ótimo agora... – Caio comentou, já estava com sua camisa, para a tristeza de Fred.
- Partiu pizzaria! – Vinicius disse.
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Quando tudo acontece
RomanceAline e Clara são duas amigas que, aparentemente, têm uma boa vida. Aline tem o emprego perfeito, o apartamento perfeito e o namorado perfeito e Clara é uma chef de cozinha bem sucedida que vive para o trabalho e esconde alguns detalhes de seu passa...