Capítulo 42

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Capítulo 42

Aline contou para Caio sobre a briga que tivera com Clara. Não queria esconder nada dele e atitude dele fora bem madura. Eles não estavam juntos na época em que Aline dormiu com Gian, mas ela ficou receosa quanto ao que Caio pudesse pensar dela. Era algo que ela precisava melhorar: sempre estava com medo do que as pessoas pensariam a seu respeito.
Isso não lhe fazia bem, a impedia de evoluir. Mas Caio fora totalmente compreensivo, não a julgou em nenhum momento e lhe acalmou em relação à amizade com Clara, sabia que logo elas voltariam ao normal.
Agora Caio estava no banho e Aline analisava o cardápio de um restaurante mexicano para o jantar.
A campainha tocou e Aline estranhou porque o porteiro não avisou, mas ela abriu a porta mesmo assim.
- Boa noite, Aline – Marieta, a mãe de Caio, entrou no apartamento e Aline fechou a porta bem lentamente, tentando entender o que aquela mulher fazia ali. Sua vontade era de mandá-la embora, mas não podia. Afinal, ela era mãe de Caio. Mas com certeza ele não a esperava, senão teria lhe falado.
- Marieta... – Aline se aproximou do sofá onde a mulher estava sentada, mas ficou em pé.
- Sente-se, por favor. Eu queria conversar com você.
Aline sentou, mas franziu o cenho ao perceber que estava recebendo ordens em sua casa.
- Fico feliz em saber que você e o bebê estão bem – Marieta ergueu a sobrancelha. – Acredito que, agora, você tenha considerado minha proposta...
Antes que ela pudesse continuar, Aline levantou-se.
- Para. Para. – Ela estendeu as mãos e respirou fundo, fechando os olhos. – Presta atenção, vou dizer apenas uma vez. Eu não posso me estressar e não vou. Mas você vai entender de uma vez por todas: eu não vou aceitar seu dinheiro e deixar o Caio. Eu amo o Caio e ele me ama também. E mais do que isso: ele ama meu bebê. E eu só posso dizer que tenho pena de uma pessoa como você que pensa que o mundo gira em torno de dinheiro!
Marieta fez menção de falar, mas Aline não deixou.
- Você tem um filho maravilhoso, com um coração bom e eu tenho certeza que ele não puxou isso de você, Marieta.
- Tudo bem aqui? – Caio entrou na sala passando a toalha no cabelo molhado e bagunçado.
Marieta levantou-se, segurando a bolsa junto ao corpo.
- Mãe, você veio apenas conferir se a Aline estava bem, não é? – Caio sorriu ironicamente.
Marieta balançou a cabeça.
- Ah, meu filho... Eu espero mesmo que você não esteja enganado. – Ela sorriu e saiu do apartamento.
- Meu deus... – Aline suspirou e desabou no sofá.
- Você ta bem? – Caio sentou-se ao seu lado, segurando sua mão.
- Sim... – Aline sorriu, enquanto o puxava para um abraço. Ela ficou surpresa consigo mesma por conseguir falar com Marieta naquele tom. Esperava que ela tivesse entendido. Já estava cansada de não ter paz e era só o que ela queria ter com Caio.

No dia seguinte, Aline recebeu uma ligação que realmente a surpreendeu. Ela foi convidada para um almoço e seu primeiro instinto foi negar. Mas, após um momento, sua curiosidade venceu. Queria saber o que Cláudia, a mãe de Márcio, tinha para lhe falar.
Aline retocou o batom olhando no retrovisor do carro e a ansiedade a fez considerar se era mesmo uma boa ideia. Mas ela já estava em frente ao restaurante então entrou. A hostess a levou até a mesa onde Cláudia já a aguardava. Ao ver Aline se aproximando, ela levantou-se. Seu queixo caiu um pouco ao reparar na barriga de Aline.
- Oi, querida – Claudia lhe cumprimentou com um beijo no rosto e um abraço.
- Olá, Dona Cláudia – Aline retribuiu o abraço e as duas sentaram-se.
O garçom veio atendê-las e elas pediram o prato do dia, que era macarrão ao molho branco.
- Aline... – Cláudia entrelaçou os dedos e apoiou o queixo nas mãos. Ela apertou os lábios ao olhar para Aline – Como você está?
- Ótima! - Aline sorriu abertamente. E era verdade: sentia-se ótima – E a senhora?
- Tudo bem, querida. Pode se abrir comigo – Cláudia colocou sua mão sobre a de Aline – Eu sei que deve estar sendo difícil pra você, por isso vim aqui. Eu quero te ajudar.
- Foi difícil sim, mas apenas no começo. Agora eu já estou bem, na verdade, estou ótima. Agradeço, mas não preciso de ajuda.
- Não precisa ficar na defensiva. Afinal, você é a mãe do meu neto. Ou neta! - Cláudia sorriu, mas o tom dela já estava começando a incomodar Aline.
- Dona Cláudia, seu filho deixou bem entendido que não queria fazer parte disso. E, como eu disse, no começo foi difícil. Eu não conseguia aceitar o fato de que o Márcio não era quem eu pensava e eu ainda o amava. Mas suas atitudes tornaram muito fácil esquecê-lo. Na verdade, fiquei surpresa por ele ter te contado. Pensei que ele não faria isso tão cedo.
O garçom voltou com seus pratos e Aline tomou um gole de seu suco enquanto Cláudia pegava uma garfada do macarrão.
- Você deveria ter me falado imediatamente! Eu daria um jeito nisso, você sabe. Mas acredito que o Márcio apenas ficou assustado. Não estava nos planos dele ter um filho agora, Aline. Mas ele se preocupa muito com você e com a criança. E foi quando você foi parar no hospital que ele me contou.
Aline ficou orgulhosa de si mesma por não sentir pena ou compaixão alguma de Márcio. Isso significava que ela já não tinha nenhum sentimento por ele.
- Isso não quer dizer que ele se preocupa comigo, isso quer dizer que ele estava se sentindo culpado, de alguma forma. Consciência pesada, remorso... Esses sentimentos podem nos deixar loucos – Ela sorriu e comeu um pouco do macarrão, só então percebendo o quão faminta estava.
- Ele também me disse que você já está com outro...
Aline gargalhou alto e limpou o canto da boca com um guardanapo.
- O que eu posso dizer? Também não esperava que isso fosse acontecer tão cedo. – Ela aproximou o rosto em direção a Cláudia e falou mais baixo - Mas eu acho que a gente sente quando encontra o amor da nossa vida, não é?
Aline percebeu que a mulher ficara ofendida, mas Cláudia preferiu ignorar. Ela apenas sorriu e continuaram a comer.
O resto do almoçou passou com amenidades mas, na sobremesa, Aline resolveu acabar com aquilo.
- Dona Cláudia, não me leve a mal. Eu adoro a senhora, apesar do seu filho ser desprezível. Mas ainda não entendi o motivo desse almoço.
- Ah, querida. Eu estava mesmo preocupada. Quando o Márcio me contou o que havia acontecido, que vocês não estavam mais juntos, eu fiquei muito chateada. Isso não está certo. Claro, fiquei decepcionada com a atitude dele. Mas, repito, vocês deviam ter me contado imediatamente. Teria evitado tanta coisa... – Cláudia balançou a cabeça e Aline teve de ser muito forte para segurar o impulso de revirar os olhos.
A obsessão por controle dessa mulher era sufocante. Tinha pena de seu marido...
- De qualquer forma, quis te encontrar para me certificar de que você está bem. E quero que saiba que irei te ajudar com o que precisar, não só agora; na gestação, mas depois também. Sabe, com toda a burocracia do registro de nascimento e tudo mais. Tenho certeza de que o Márcio vai querer estar presente também.
Aline a encarou por alguns instantes. Aquilo era pura conversa furada, Cláudia queria apenas certificar-se de que a criança seria registrada com o sobrenome de Márcio, com o sobrenome dela própria.
- Dona Cláudia... – Aline começou e deu um longo suspiro, passando a mão pela testa – Eu agradeço a sua preocupação, de verdade. Isso significa muito pra mim. Mas eu não preciso de nada disso, na verdade, não estou desamparada, sabe? Eu tenho minha família, meus amigos e o Caio. Está tudo bem. – Aline foi enfática na última frase.
- Caio é o seu novo namorado? – Cláudia perguntou e Aline percebeu que o nome dele fora a única coisa a qual ela se atentara.
- Sim, Caio é meu namorado – Aline começou a balançar a perna. Não queria mais ficar ali e prolongar a conversa.
- Mas ele não é o pai do seu filho, Aline.
- Nem o Márcio, Dona Cláudia! – Aline levantou-se, antes que perdesse a paciência. – Olha, obrigada pela preocupação. Eu agradeço. Mas não quero nenhum tipo de ajuda, nem sua e nem do Márcio. Tchau, Dona Cláudia.
Aline saiu apressada da restaurante. Estava quase passando pelas portas duplas, quando Cláudia a alcançou.
- Aline, por favor... – A mulher lhe segurou pelo braço e Aline parou, expirando com força. – Você não pode me privar de ver o meu neto!
- Eu não disse que faria isso!
- Mas é o que eu estou sentindo. E você... Você não vai registrar a criança com o nome do Márcio, não é?
Aline respirou fundo, encarou a mulher e deu um sorriso.
- Pode avisá-lo que ele não vai ter "nenhuma participação nisso" – Aline fez aspas com os dedos – Por favor, Dona Cláudia, me dê um tempo. Eu procuro a senhora quando for a hora, quando me sentir preparada. Mas, até lá, eu peço que a senhora respeite minha decisão. – Aline se afastou da mulher e murmurou um "tchau" enquanto saia do restaurante, deixando uma Cláudia contrariada e frustrada lá dentro.
Ela entrou no carro e apertou com força o volante. Às vezes, Aline sentia que as coisas em sua vida aconteciam tão rápido que ela não tinha tempo para assimilar tudo. Ela ligou o carro e dirigiu lentamente para casa, com essa sensação. Tudo indo rápido demais. Ela não tinha pensado nisso ainda. Não tinha pensado no que fazer quando seu bebê nascesse. A única certeza de que tinha era que, agora, quem não queria que Márcio tivesse participação alguma "naquilo", era ela. Não queria mesmo.
Mas, nunca havia pensado em registrar a criança com o nome de Caio. Sabia que ele amava seu bebê como se fosse dele mas, talvez, esse passo fosse precipitado.
Seu instinto maternal já estava bastante aflorado, ela sabia e sentia que seria capaz de qualquer coisa para proteger seu filho. E isso incluía protege-lo do egoísmo de Márcio. Embora, infelizmente, ele fosse o pai biológico. Aline não queria complicações e esperava não precisar de um advogado para ajudá-la com isso. Estava sentindo-se mal por sua ex sogra. Mas o que Cláudia pensava dela? Que era uma crápula que privaria a avó de ter contato com o neto? Márcio podia ser egoísta, mas Aline não era assim.
Talvez a melhor escolha fosse registrar seu bebê apenas com seu nome. Mas sabia que precisava conversar sobre isso com Caio. Seria injusto com ele se ela se decidisse sozinha.
A conversa não precisava ser imediata, decidiu, então, que conversaria com ele mais pra frente, mas antes do parto.
Por ora, queria apenas um pouco de sossego.


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