Capítulo 39

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Capítulo 39

Já fazia uma semana que Aline havia terminado com Caio. Nos primeiros dois dias, ele ligara e mandara mensagem. Aline ignorava. E cada vez que fazia isso sentia seu coração encolher um pouco. Ela mandou apenas uma mensagem, pedindo que ele não tornasse aquilo mais difícil do que era.
Aline tentava se fazer de forte na frente dos amigos, não queria que eles ficassem preocupados com ela. E também tentava ser forte pelo bebê. Sua mãe a visitara duas vezes e, nas duas vezes, Aline preferiu não falar de Caio. Quando a mãe perguntava, ela apenas dizia que ele estava bem e que ela preferia ficar com Clara até se sentir forte o bastante.
Passava as noites acordada, chorando em silêncio. Lembrando de todos os momentos que passara com Caio, olhando pra todas as fotos, relendo as mensagens. Pela manhã, fingia que nada havia acontecido e também ignorava as olheiras que agora eram sua nova companhia. Não tinha vontade de fazer nada e ficava apenas em casa, comendo todo açúcar que houvesse no apartamento de Clara. Mas bastava lembrar do jantar com os pais de Caio que botava pra fora tudo o que havia no estômago.
Aline se sentia a pior pessoa do mundo por fazer Caio sofrer. Há dois dias ouvira uma conversa de Clara e Pedro. Pedro havia encontrado Caio no mercado. Ele estava arrasado, completamente sem rumo. Ouvir aquilo fez com que Aline se trancasse no quarto pelo resto do dia.
Clara era adepta da frase de John Green em A culpa é das estrelas: a dor precisa ser sentida.
Mas, devido ao seu longo histórico de sofrimento, sabia que já estava na hora de Aline começar a reagir.
Assim, ela convenceu a amiga a ir com ela até o restaurante. Era noite de domingo, o The Licious estava fechado, mas Clara precisava de alguns ingredientes específicos para tentar uma nova receita. Aline estava no banco do carona. Vestia uma calça de moletom preta e uma regata branca e justa, que marcava bem sua barriga. Clara suspeitava que a amiga usava aquela roupa há dias, mas não comentou nada.
- Eu preciso responder um e-mail – Clara estacionou em frente ao restaurante e pegou o celular – Você pode abrir pra mim?
Aline deu de ombros e pegou a chave do restaurante. Ela entrou e antes que pudesse ir até o quadro de força para acender as luzes, percebeu que havia uma vela acesa em uma mesa no centro, que estava arrumada para uma refeição, e outras velas espalhadas no chão iluminavam o ambiente.
No fundo do restaurante estavam Pedro, Vinicius e Renato com seus instrumentos. E Caio.
Clara entrou e fechou a porta atrás de si. Aline se virou para ela.
- Apenas escuta... – Clara sorriu e a levou para mais perto dos rapazes.
A camisa social branca de Caio estava com os três primeiros botões abertos. Aline engoliu em seco, tentando ignorar as lembranças que aquele corpo lhe trazia e pôs as mãos na barriga, para esconder que tremia.
Caio deu um passo à frente.
- Eu sei que você me pediu pra tentar te entender. Pra ficarmos longe um do outro. E eu tentei. Juro que tentei... Por uns dois dias. – Ele deu um sorriso tímido e balançou a cabeça – E pensei em todos os motivos pra que realmente ficássemos longe. E não encontrei nenhum, Aline. Nada me faz querer ficar sem você. A minha felicidade só é completa se eu tenho você na minha vida. Eu realmente gostaria de saber cantar, mas não consigo. Então meus amigos vão me ajudar nessa parte. Essa música, a nossa música, significa tudo o que eu sinto por você.
Os meninos começaram a tocar e Clara segurou sua mão. Pedro sorriu antes de começar a cantar:
You're a one of a one
A one of a kind
That you only find once in a lifetime
Made to fit like a fingerprint
A code that clicks open a gold mine

Aline arrepiou. Tanto pela voz de Pedro quanto pela música que ele cantava. Ela sentiu os olhos encherem de lágrimas e apertou a mão de Clara.

They say one man's trash is another man's treasure
When I found you, it was all pitter-patter
Secretly, hit the lottery
'Cause you're brighter than all of Northern Lights
You speak to me, even in my dreams
Wouldn't let you go for even the highest price

Caio não tirava os olhos dela. Ele se aproximou lentamente, as mãos nos bolsos da calça. Aline estava com tanta saudade, apenas queria abraçá-lo e congelar o momento.

They say one man's trash is another girl's treasure
So if it's up to me, I'm gonna keep you forever
'Cause I understand you, we see eye to eye
Like a double rainbow in the sky
And wherever you go, so will I
'Cause a double rainbow is hard to find
Words are phenomenon when you came along
Yeah, our chemistry was more than science
It was defining loud like lightning, it was striking
You couldn't deny it
They say one man's trash is another man's treasure
The two of us together, make everything glitter
'Cause I understand you, we see eye to eye
Like a double rainbow in the sky
And wherever you go, so will I
'Cause a double rainbow is hard to find

Caio tomou Aline pela mão e eles começaram a dançar pelo salão do restaurante. As lágrimas já escorriam pelo rosto de Aline. Ela encostou a cabeça no peito de Caio e escutou os versos finais da música deles.

To the bottom of the sea, I'd go to find you
Climb the highest peak to be right beside you
Every step I take, I'm keeping you in mind
'Cause I understand you, we see eye to eye
Like a double rainbow in the sky
And wherever you go, so will I
'Cause a double rainbow is hard to find
It's hard to find, It's hard to find
Once in a lifetime
Once in a lifetime
Once in a lifetime

A música terminou, mas os dois ficaram exatamente como estavam. Ouviram quando os outros saíram e só depois de algum tempo é que se afastaram, mas apenas o suficiente para que pudessem olhar nos olhos um do outro. Os olhos de Aline refletiam os de Caio: marejados.
- Me desculpa por tudo aquilo. Eu realmente não queria, pensei que fosse o certo. Depois de tudo o que sua mãe me falou...
- Minha mãe? – Caio franziu o cenho – O que minha mãe te falou?
Ela ponderou por alguns instantes. Seria certo contar para Caio? Não queria passar a impressão de que estava tentando colocá-lo contra a mãe. Mas Caio a conhecia o suficiente para saber que ela não faria aquilo, confiava no julgamento dele. Então contou sobre a conversa que tivera com Marieta na noite do jantar. A expressão de Caio era impassível, a não ser pela sobrancelha erguida.
- Não posso dizer que estou surpreso. Eu amo minha mãe, mas ela tem um péssimo julgamento, principalmente quando as coisas não saem do jeito que ela quer.
- Podemos apenas esquecer isso, por favor?
Caio apenas assentiu e levou Aline até a mesa. Eles comeram a nova receita de lasanha que Clara havia aprendido na Itália e, realmente, estava maravilhosa. Eles foram para casa e Aline sentia-se mais forte agora, havia saído do torpor no qual ficara nos últimos dias e sentia sua energia renovada. Agora ela tinha tudo o que precisava.


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