Capítulo 4

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Capítulo 04

Aline chegou ao seu futuro ex apartamento sentindo-se profundamente desanimada. Ela entrou e jogou-se no sofá de estofado claro. Fechou os olhos por um momento e depois abriu, olhando ao redor. Aquilo tudo estava mesmo acontecendo em sua vida? Aline respirou fundo e obrigou-se a levantar.
Ela precisava empacotar suas coisas. Não fazia ideia de por onde começar, mas decidiu que seria pelas roupas. Foi para o quarto e pegou a maior mala que tinha. Uma que havia comprado para a primeira viagem que fizera com Márcio, quando foram para a Argentina. Aline engoliu o choro e abriu a mala, deixando-a em cima de sua cama.
Então, subitamente, foi tomada por uma raiva incontrolável. Sem pensar duas vezes, foi até a cozinha e voltou com uma enorme faca de carne. Aline começou a esfaquear a mala, rasgando todo o tecido preto. Sabia que aquilo era ridículo, mas não conseguia parar. A medida que a mala foi se desfazendo, as lágrimas começaram a rolar por seu rosto. Quando percebeu que já não podia mais rasgar nenhuma parte da mala, Aline voltou-se para os ursinhos. Não eram muitos, apenas três. Mas ela rasgou todos. E então, aquele enorme coração vermelho.
- "Eu te amo"! – Ela praticamente gritou a frase que estava bordada no centro e perfurou o coração, até toda a espuma estar para fora. Agora ela não queria parar. Não mesmo.
Aline fungou e passou as mãos pelos olhos tentando, inutilmente, secar as lágrimas. Olhou ao redor do quarto e foi até seu mural de fotos. Com uma delicadeza impressionante, considerando seu atual estado, Aline tirou todas as suas fotos com Márcio, ou apenas as dele; não queria estragar todo o mural, e alcançou uma tesoura no fundo de uma gaveta. Ela trincou os dentes e picotou todas as fotos, deixando um montinho de papel fotográfico aos seus pés. Depois das fotos, ela pegou todos os cinco vidros de perfume que havia ganhado ao longo dos oito meses de namoro e esvaziou, jogando o líquido na pia do banheiro. Ainda não estava satisfeita. Aline voltou para o quarto, carregando os vidros de perfume, agora vazios. Na parede oposta, havia um quadro que era de Márcio. E ela nunca realmente gostou da pintura: umas flores murchas em sépia.
- Quadro estúpido! – Aline dizia, enquanto arremessava os vidros contra o quadro. Cada vez que um dos recipientes se estilhaçava, Aline desejava estar arremessando contra Márcio.
Por fim, ela abriu o guardarroupa e destruiu todas as blusas, vestidos e sapatos que, um dia, foram presentes de Márcio.
Ao final de sua sessão de descarrego, Aline jogou-se em sua cama e abriu os braços e as pernas, esperando que sua respiração normalizasse. Ela piscou, até as lágrimas secarem. Até não sentir mais nada.

Aline não sabia há quanto tempo estava imóvel, olhando para o teto, mas despertou quando ouviu a porta abrir e fechar. Instantes depois, Clara estava entrando no quarto.
- Oi, Li... – Clara dizia, mas se interrompeu. Ela apoiou-se no batente da porta e, lentamente, passou os olhos pelo quarto: estava uma bagunça.
Pedaços de roupas, pelúcia, espuma, cacos de vidro e fotos picotadas por todo o quarto.
- O que aconteceu aqui?!

Depois de explicar oque havia acontecido para Clara, as duas limparam a bagunça que Aline tinhafeito e, finalmente, começaram a empacotar algumas coisas. Já estavaanoitecendo e Clara precisava voltar ao restaurante.
- Vou até a casa do Márcio – Aline disse – Preciso pegar algumas coisas minhasque ficaram lá.
- Quer que eu vá junto?
- Acho que eu consigo fazer isso sozinha. Obrigada – Aline sorriu, enquanto asduas entravam no elevador.
- Certo, qualquer coisa você grita. Eu apareço em um minuto!
- Tenho certeza que sim – Aline conseguiu rir.
Na garagem, elas se despediram. Cada uma entrou em seu respectivo carro e tomouuma direção.
Aline estava nervosa, apertava o volante com mais força do que o necessário. Nofundo tinha esperanças de que Márcio se desculpasse, ela sabia que estavapronta para perdoá-lo. E por que não? Ela o amava, certo? Com toda certeza elemerecia uma segunda chance, talvez a oportunidade de se explicar. Aquilo tudoestava sendo muito novo e repentino; não só para ela, mas para ele também.
Então, ela se deixou tomar por aquela pontinha de esperança. E pensando nisso,logo estava estacionando em frente à casa dele.
Aline tocou a campainha e, enquanto esperava, sentia seu coração baterloucamente. Instantes depois, Márcio abriu a porta.
- Oi. – Ele disse, seco.
- V-vim pegar minhas coisas – Aline sentiu sua voz falhar.
- Tudo bem – Márcio deu espaço pra que ela entrasse e depois fechou a porta atrásde si.
Aline não o esperou, foi direto para o quarto. Lá, começou a encher sua mochilacom suas coisas: produtos de beleza e higiene, algumas roupas, seu chinelo daHello Kitty e algumas lingeries que Márcio gostava. Ao pegar as peças íntimasteve de conter o impulso de jogar as calcinhas e sutiãs na cara dele, queestava encostado no batente da porta, Aline nunca mais usaria aquilo.
- Acho que ta tudo aqui... – Ela disse, tomando o cuidado de não olhar nosolhos do, agora, ex namorado.
- Se eu encontrar mais alguma coisa, te mando.
Ela assentiu e foi para sala, Márcio em seu encalço. Aline apoiou a mochila nosofá e, finalmente, virou-se para ele. Parecia que nada de errado estavaacontecendo. Ele continuava lindo, com seus olhos escuros, a barba por fazerparecendo complementar os cabelos também escuros. Aline mordeu o lábio e sentiuo coração acelerar.
- Tenho uma consulta semana que vem.
Ele balançou a cabeça.
- Vou entrar em contato com a minha advogada. Assim a gente faz o exame de DNAo mais rápido possível.
Silêncio.
Aline mordeu o lábio e respirou fundo para impedir que as lágrimas caíssem.Então era isso? Não havia esperança, estava tudo acabado.
- Sabe, uma das coisas mais importantes que eu vou ensinar pro meu filho é aconfiança. Vou ensiná-lo que a confiança é a base de todo e qualquerrelacionamento. – Aline sorriu e Márcio piscou, inexpressivo. Ela pegou amochila e jogou no ombro – Quero a chave do meu apartamento – Aline pediu, jásegurando a chave extra que tinha da casa dele.


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