Capítulo 19

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Capítulo 19

Segunda-feira.Também conhecida como "início da próxima semana". Aline sabia que Caio chegaria a qualquer momento. Eles trocaram algumas mensagens enquanto ele estava em Londres, o que só fazia Aline pensar o quão diferente ele e Márcio eram.
Ela não deveria comparar os dois, e sabia disso. Mas, no momento, era impossível não compará-los. Por mais que Aline ainda tivesse sentimentos por Márcio, por mais que ela nutrisse esses sentimentos mesmo sem querer, Caio era um exemplo de homem. Coisa que Márcio jamais seria. E uma parte dela queria estar com Caio, sempre que pudesse.
Naquela manhã, Aline estava no mercado. A ideia de ir encontrar Caio no aeroporto lhe rondava a mente já há alguns dias. Ela andava distraidamente na seção de enlatados, ponderando se deveria ou não aparecer no desembarque do aeroporto internacional de São Paulo, quando foi tirada de seu devaneio.
- Aline? – Ela sentiu alguém lhe tocar o ombro.
Ao virar-se, Aline congelou. Era a mãe de Márcio.
- Oi, Dona Cláudia – Aline sorriu amarelo enquanto a mulher lhe abraçava.
- Que coincidência agradável! Faz tempo que não a vejo. Na verdade, faz tempo que o Márcio não aparece lá em casa também.
Aline não sabia se ficava agradecida ou aflita pelo fato da ex sogra ser uma matraca e não calar a boca.
- Mas vocês vão ao jantar sábado, não vão?
- Jantar? – Aline perguntou, já com medo da resposta. Pela maneira como a mulher falava com ela, estava claro que Márcio ainda não havia contado sobre o término para os pais.
- Sim. Sábado é meu aniversário e faremos um jantar lá em casa. Não acredito que o Márcio esqueceu de te avisar! Vou ligar já pra ele!
- Não, não! – Aline gesticulou – Ele avisou sim, só me confundi com as datas...
- Certo. Então nos vemos sábado, querida! – Cláudia lhe beijou o rosto e saiu com seu carrinho pelo mercado.
Aline apertou a barra de ferro que guiava o carrinho com toda sua força, até os nós de seus dedos ficarem brancos. Ela olhou para baixo e sentiu um alivio por estar com uma bata larga que lhe escondia a barriga que começava a despontar.
A primeira reação de Aline foi raiva, uma raiva tremenda. Porém, a parte dela que ainda amava Márcio e nutria esperanças, já estava ansiosa e fantasiando sobre o tal jantar.Ela queria ligar para Márcio e exigir uma explicação, porém, seu orgulho falou mais alto: muito provavelmente ele não atenderia. Mas ele precisava dela, então Aline esperaria até que ele se manifestasse.
Aline terminou suas compras apressadamente e foi para casa. Quase contou para Clara o acontecido no mercado, mas refreou a língua. Se contasse, Clara faria um escândalo. E o jantar seria no sábado, o que significava que Clara já estaria em solo italiano, caso fosse aceita para o curso de verão do Chef Millano, coisa que Aline tinha certeza que aconteceria. Então, por fim, decidiu-se: se Márcio realmente se manifestasse, ela contaria para Fred.
O resultado da inscrição sairia naquela noite, o que Aline achou bem errado. Os participantes teriam apenas três dias para correrem atrás de seus documentos, caso tivessem que atualizar algo.
Então estavam todos reunidos no The Delicious, inclusive Renato e Vinicius, os companheiros de banda de Pedro e Isabella, sua namorada. O resultado sairia dentro de meia hora e Aline não sabia dizer se o mau humor de Clara era devido ao nervosismo e ansiedade por conta do resultado, ou pela presença de Isabella. Mas estava quase concluindo que a segunda opção era a mais certa.
Clara estava sentada em uma mesa com Fred e Leandro, ela sacudia a perna ritmadamente. Pedro estava sentado na sua frente, dedilhando acordes ao acaso em seu violão. O restaurante já estava fechado e o notebook de Fred estava no centro da mesa. Fred com certeza era o mais ansioso ali. A cada cinco segundos ele checava a página do site do Chef Millano.
Aline bebericava seu chá gelado de pêssego distraidamente, já havia desistido de tentar acompanhar a conversa de Renato e Vinicius, por mais que os rapazes se esforçassem em deixá-la a par do assunto, quando sentiu seu celular vibrar no bolso da calça. Aline apoiou o celular na mesa e puxou o aparelho do bolso, a ansiedade já lhe consumindo. Em sua cabeça, era Márcio. Mas o nome que apareceu em sua tela lhe deixou igualmente, ou mais, ansiosa: era Caio. Ela destravou a tela e abriu a mensagem.
Já estou em solos tupiniquins. Posso passar na sua casa?
O sorriso de Aline foi instantâneo. Mais do que depressa ela digitou sua resposta, pediu para que ele fosse até o restaurante. Depois de enviar a mensagem, sua ansiedade só aumentava.
A rua do restaurante estava tranquila e silenciosa. Logo, Aline viu quando Caio estacionou do outro lado da rua. Ela mordeu o lábio quando sentiu o coração dar um salto no peito.
- Hum, alguém tem companhia... – Fred disse e Clara seguiu o olhar do amigo. Ao perceber que era Caio, era sorriu. Talvez Aline finalmente estivesse seguindo em frente e isso a deixava feliz. Aline merecia alguém que lhe tratasse bem e Caio com certeza era esta pessoa. Mas eu também mereço... Clara pensou e seu olhar correu até Pedro, que tinha os dedos entrelaçados com os de Isabella. O cabelo tingido de vermelho intenso estava preso em um rabo de cavalo alto, na lateral da cabeça. A garota falava baixinho no ouvido de Pedro, que apenas assentia. Então seu olhar cruzou com o de Clara. Ela se odiou por ter sigo "flagrada" e não ter conseguido desviar o olhar a tempo, porém a sua recompensava foi imensamente agradável: o sorriso de Pedro. Clara corou a baixou a cabeça e ai sim se odiou por completo.
Aline foi até a porta e abriu a mesma, esperando por Caio. Ela teve que controlar a vontade de sair correndo e lhe dar um abraço no meio da rua mesmo e se assustou com essa vontade repentina. Foi só quando ele estava atravessando a rua, caminhando em sua direção – alto, esguio, forte. O cabelo molhado, revelando que ele havia acabado de sair do banho, o óculos lhe conferindo aquele ar intelectual que lhe caía tão bem. Lindo, simplesmente lindo! – que Aline percebeu como estava com saudade dele.
Então, antes que pudesse pensar demais, deu alguns passos apressados e encontrou Caio na calçada. O sorriso do rapaz era gigante e Aline tinha certeza que espelhava o seu.
Antes que Caio pudesse dizer qualquer coisa, Aline ficou na ponta dos pés, jogou os braços em volta de seu pescoço e o beijou.
Ao contrário do que Aline pensava, o beijo não o pegou de surpresa: Caio lhe envolveu a cintura, trazendo seu corpo para mais perto. Aline sentiu seu corpo todo formigar e mais: sentia-se segura ali, nos braços de Caio.
Eles só quebraram o beijo porque, na porta do restaurante, o pessoal batia palmas e assoviava. 

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