Capítulo 38

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Capítulo 38

A primeira coisa que Aline viu quando acordou, foi um teto muito branco. O lugar tinha cheiro de material esterilizado e ela soube imediatamente que estava no hospital. Ela se mexeu na cama e sentiu a garganta seca.
- Filha! – A mãe se aproximou da cama e pegou sua mão – Como você está se sentindo?
- Quero água... – Aline sussurrou com a voz rouca
Sua mãe encheu um copo com água e lhe passou. Aline bebeu tudo e pediu mais?
- O que aconteceu? – Ela perguntou enquanto bebia a água.
- Você desmaiou e, graças a Deus, o Caio achou melhor te trazer para cá. Vou chamar o médico – Sua mãe lhe um beijo na testa e saiu do quarto.
Minutos depois, um senhor baixinho e reconchudo, de aparência simpática entrou no quarto. Ele explicou que Aline teve o desmaio porque sua pressão baixou, mas tudo foi causado por estresse.
- Agora você precisa descansar, mocinha. Estresse não é bom para o bebê. Você vai permanecer no hospital hoje, apenas em observação. Amanhã já estará de alta. Qualquer coisa, podem me chamar – O médico ofereceu um sorriso e saiu.
- Cadê o Caio? – Aline sentou na cama e passou os dedos pelo cabelo emaranhado.
- Foi pra casa tomar um banho. Ele e seu pai ficaram aqui a noite toda. A Clara e o Fred também vieram, mas me levaram para casa com eles e eu voltei agora de manhã.
Aline contou para a mãe sobre o jantar desastroso. Estava com tanta vergonha da cena que causara! Porém, uma parte dela achava que a mãe de Caio podia estar certa. Ela jamais aceitaria dinheiro para sair da vida dele, o amava de verdade. Mas Caio não merecia toda a confusão que sua vida havia se tornado desde que Aline aparecera. Deitada ali naquela cama, ela percebeu o quanto amava o seu bebê e que faria qualquer coisa para protegê-lo. Talvez devesse conversar com Caio. Então, decidiu: iria conversar com ele assim que saísse do hospital.
Aline comeu a comida sem sal e sem graça do hospital e acabou caindo no sono. Quando acordou, sua mãe não estava mais lá. Porém, não estava sozinha:
- O que você ta fazendo aqui?! – O coração disparou. Mas dessa vez não foi um disparo causado pelas borboletas no estômago, até porque essas borboletas já estavam mortas há muito tempo. Ela respirou fundo e lembrou-se de manter a calma. Não queria passar mal de novo, isso não seria nada bom para o bebê.
- Queria saber se você estava bem – Márcio se aproximou da cama e Aline sentou, os punhos estavam fechados.
- Como você sabia que eu estava aqui?!
- O porteiro do prédio da Clara me disse...
Mentalmente Aline xingou o porteiro fofoqueiro. Mas a culpa só podia ser de Fred, que adorava puxar papo com todo mundo.
- Como você entrou aqui?!
- Aline, eu sou o pai do bebê.
- Não! Não, você não é, Márcio. Você deixou bem claro que não queria participar disso.
- Eu me preocupo com você. Com vocês!
- Eu não quero a sua preocupação. Eu quero distância de você!
- Se você estivesse comigo, nada disso estaria acontecendo. A minha mãe te adora!
Aline se perguntou como Márcio sabia de toda a história do jantar. Iria matar Fred!
- Cala a boca! Para de ser hipócrita. SAI DAQUI! – Aline elevou a voz e então, Caio entrou no quarto.
- O que está acontecendo aqui?! – Ele olhava de Márcio para Aline e se aproximou da cama, segurando a mão da namorada. – O que você ta fazendo aqui?
- Vim saber como meu filho está – Márcio olhava fixamente para Caio, a veia em seu pescoço pulsava.
- Eu acho que você deveria ir embora.
- Não me diga o que eu tenho que fazer!
- Ei! – Uma enfermeira ficou parada na soleira da porta do quarto – Onde vocês pensam que estão?! Isto aqui é um hospital! E não estamos em horário de visita. Por favor, apenas o pai da criança.
Os rapazes se entreolharam e depois olharam para Aline.
- Quem é o pai?! – A enfermeira perguntou, já impaciente.
- Eu sou! – Os dois responderam juntos.
Aline soltou a mão de Caio. Ela passou as mãos pelo rosto e depois pelo cabelo, bagunçando-o ainda mais.
- Vocês dois – Ela disse, calma – Saiam. Os dois.
- Li... – Caio tentou se aproximar dela. Ela viu em seus olhos que sua atitude o magoou, mas naquele momento ela precisava ficar sozinha, apenas com seus pensamentos.
- Por favor – Ela disse, segurando as lágrimas.
Caio assentiu e se afastou, enquanto Márcio lhe deu uma última olhada e saiu do quarto.

- Você devia ter avisado o Caio que viria pra casa da Clara... – Fred disse.
Aline tinha recebido alta e agora estava deitada na cama do quarto de hóspedes de Clara.
- Fred, quanto menos você falar agora, melhor pra você.
- Certo... Bem, vou pro restaurante. Melhore logo, coisa chata.
Fred saiu e deixou as duas no quarto. Clara estava estranhamente quieta.
- Vai, pode falar – Aline disse – Eu sei que você também acha que eu deveria ter avisado o Caio.
- Acho mesmo – Clara deu de ombros – Mas não vou te falar nada. Apenas quero que você descanse. Eu vou fazer algo pra você comer – Clara sorriu e foi pra cozinha.
Depois de almoçar com Clara, Aline finalmente ficou sozinha com seus pensamentos. Estava decidida a pedir para Caio se afastar, não queria que sua vida fosse tão bagunçada por causa dela. Ele não merecia. Mas isso não anulava o fato de que seu coração doía só de pensar em ficar longe de dele.
Passava das 19H quando a campainha do apartamento de Clara tocou. Ela sabia que Caio viria.
Aline foi abrir a porta e seu bebê parecia sentir sua ansiedade, pois começou a se mexer.
- Vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem... – Ela sussurrou, acariciando a barriga e então abriu a porta.
A expressão de Caio ao vê-la foi de puro alívio. Aline engoliu a seco. Tinha que ser forte. Precisava fazer aquilo.
Caio entrou e a abraçou. Sentir seus braços ao seu redor fazia tudo ter sentido. Aquilo era o certo. Aquele era o melhor lugar do mundo e deveriam ficar assim para sempre. Por que não podia ser fácil?
- Como você está se sentindo? Ta tudo bem com o bebê? – Eles soltaram o abraço e foram para o sofá. Caio continuou – Me desculpa por aquele jantar desastroso. Eu não tinha ideia de que acabaria tão mal. Fiquei tão preocupado!
- Caio... – Aline entrelaçou seus dedos. Ela apertou sua mão de leve – Eu estou bem, e o bebê também. E nada disso foi culpa sua. Por favor, não se culpe por isso. Apenas... Aconteceu. – Aline deu de ombros e engoliu as lágrimas que já queriam sair.
Antes que Caio pudesse falar, ela tomou coragem e começou.
- Olha... Eu pensei muito. E acredite, não é fácil pra mim ter que fazer isso. Eu gostaria muito que tivesse outro jeito... Caio, eu acho que o melhor agora é nos afastarmos.
A expressão de Caio era de pura confusão. Aline podia sentir seu coração quebrando lentamente.
- Como assim? – Ele balançava a cabeça.
- Isso não é justo com você, nada dessa situação. Você é o que mais sai perdendo. Você é tão independente, não precisa de uma mulher tão perdida como eu. Eu não quero te prender, te fazer perder oportunidades. – A conversa que tivera com Marieta martelava em sua cabeça.
- Você não ta me prendendo! – Caio ajeitou o óculos na ponte do nariz – Aline, eu to com você porque eu te amo!
Era a primeira vez que ele lhe falava as temidas três palavras. Foi o que bastou para que Aline não conseguisse mais segurar o choro. As lágrimas rolavam por seu rosto, silenciosamente.
- Eu também amo você – Ela sussurrou, engolindo um soluço.
- Eu não entendo. Eu quero você, e toda complicação e bagunça, se é assim que você chama. Quando eu olho pra você, tudo o que eu vejo é uma mulher tão forte e inspiradora. E eu já amo esse bebê tanto quanto você, Aline. Eu quero estar na vida de vocês.
O brilho no olhar dele apenas provava que suas palavras eram sinceras. Aline quase podia ouvir o coração dele despedaçando também. Não era justo, era sabia. Mas era o precisava ser feito.
- Me desculpa... Desculpa. Eu não posso aceitar isso. Por favor, tenta me entender. – Aline passou as mãos pelo rosto, mas foi em vão, as lágrimas não paravam. Ela se levantou e foi até a porta – Por favor, Caio...
Ele foi até ela e pegou sua mão.
- O que aconteceu pra que você mudasse de ideia sobre nós? Eu... Eu fiz alguma coisa? – Ele franziu o cenho, o brilho em seus olhos transformando-se em lágrimas. – Por favor, Aline. Me diz o que aconteceu.
Aline balançou a cabeça, apertando os olhos com força. Caio limpava suas lágrimas. Ela o abraçou e ele passou os braços em volta dela. Ela podia sentir que seu coração batia junto com dela.
- Desculpa – Ela sussurrou em seu ouvido, agora chorando abertamente.
Aline soltou o abraço e abriu a porta. Os olhos de Caio estavam vermelhos, destacando ainda mais o verde de sua íris. Assim que Caio saiu, Aline trancou a porta e voltou para o quarto.
Estava se odiando por ter machucado Caio daquela maneira. Para ele não fazia sentido nenhum. Aline esperava que um dia ele pudesse perdoá-la. Ela deitou no escuro e agarrou um travesseiro, o silêncio seria absoluto, não fosse pelo som de seu choro. Aline fechou os olhos e uma lembrança veio à sua mente.
Aline estava sozinha no apartamento de Caio. Ela sabia que ele chegaria logo, então quis fazer uma surpresa e tentava fazer alguns cupcakes. Estava ouvindo Katy Perry no modo aleatório e concentrada em confeitar os bolinhos. Ela não ouviu quando Caio chegou, mas levou um baita susto quando ele a abraçou por trás. O cupcake que ela confeitava não deu certo, ela tremeu na hora de passar o chantilly, mas eles não se importaram. Caio a virou para si e passou um pouco de chantilly em seu nariz.
- Eu adoro essa música! – Ela disse quando
Double rainbow começou a tocar.
Caio prestou atenção na letra, enquanto dançava com ela pela cozinha.
- Então vai ser a nossa música – Ele sorriu e lambeu o chantilly do nariz dela, que gargalhou alto.


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