Capítulo 61

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Capítulo 61

Depois que voltoupara a festa, Aline não via a hora daquilo acabar. Queria ficar sozinha com suafilha e Caio. Sabia que a conversa com ele não seria fácil. Então, quandofinalmente todos foram embora, ela soltou um suspiro de alivio. Estava cansada,mas muito mais emocionalmente do que fisicamente. Será que um dia aquelasituação com Márcio iria acabar? Era tão desgastante.
Ela ouviu quando Caio entrou no apartamento. Ele havia descido com a desculpade acompanhar sua família, mas Aline sabia que ele iria até a guarita dosporteiros para proibir a entrada de Márcio. Não podia culpa-lo, era o certo afazer. Aline estava terminando e trocar a fralda de Ana Julia, quando eleapoiou-se no batente da porta do quarto. Ela achou que jamais teria coordenaçãomotora para aquilo, e lá estava ela realizando tal tarefa com maestria.Instinto maternal. A bebê já havia mamado e estava sonolenta, então Aline adeixou no berço com a babá eletrônica ligada no criado mudo.
- Não é melhor esperarmos ela dormir? – Caio perguntou.
- Ela ta bem, amor. – Aline garantiu.
Aline não podia reclamar de falta de ajuda, porque Caio a ajudava até demais.Quando a neném chorava a noite ele ia primeiro e só então a acordava para queela lhe desse o peito. Ele já sabia trocar fraldas. Na verdade, fora Caio quemensinara essa tarefa a Aline. Sua mãe ficara com eles no apartamento poralgumas semanas, ensinando tudo e também tirando os medos que os dois tinham.
Caio encheu a banheira e jogou sais de banho relaxantes. Depois daquele diaestressante eles mereciam um demorado e delicioso banho de banheira. A águaestava em uma temperatura boa, então ele se despiu e entrou. Aline amarrou ocabelo em um coque alto, deixou a babá eletrônica por perto e juntou-se a ele.
Caio começou a massagear suas costas e a sensação era maravilhosa. Aline quasechorou por saber que estava prestes a estragar aquilo. Precisavam conversarsobre Márcio.
E, como se estivesse lendo seu pensamento, Caio trouxe o assunto à tona.
- Fiquei tão preocupado hoje. Dani foi muito irresponsável... – Ele massageavaseu pescoço e Aline tentava ignorar a excitação que se formava. Benditoresguardo...
- Não foi culpa dele, amor. Não foi culpa de ninguém – Aline fechou os olhos,sentindo os beijos delicados que Caio lhe dava no pescoço.
- Eu queria ter descido, mas a Clara não deixou.
- Ela fez o certo. Talvez não teria terminado tão bem...
- Confesso que queria quebrar a cara daquele idiota. Assim que as festas de fimde ano passarem eu vou marcar uma reunião com meus advogados.
- É, bem... sobre isso. Eu acho desnecessário.
- Desnecessário?! Li, aquele cara entrou na nossa casa sem ser convidado epegou a nossa filha sem autorização! Eu acho muito necessário.
- Eu sei de tudo isso e não concordo com o que ele fez, Caio. Mas precisamoslembrar que o Márcio também é pai da Ana Julia. Ele tem seus direitos.
- Certo, então vamos deixar que o juiz estipule esses direitos.
Aline respirou fundo e virou-se de frente para ele. Ele estava simplesmentelindo. O cabelo úmido jogado para trás e gotículas de água pelo rosto e pelopeitoral. Ela segurou em seu queixo e lhe deu um selinho, apoiando os braços emseus ombros.
- Eu sei de tudo isso, sei que é o certo a se fazer. Mas eu gostaria muito queadiássemos isso. Queria que tentássemos viver em paz com ele, sabe?
- Como vamos viver em paz com um cara que invade nossa casa, Aline? Eleclaramente não tem limites!
- Amor, tenta se colocar no lugar dele...
Assim que as palavras saíram de sua boca, Aline percebeu que não devia tê-lasdito. Caio a encarou por meio segundo e então levantou-se e saiu da banheira.Rapidamente ele pôs o roupão e foi para o quarto. Aline respirou fundo e deitouna banheira, ficando submersa por alguns segundos. Queria prender a respiraçãopor mais tempo, mas não tinha fôlego para isso. Ela vestiu seu roupão e foi parao quarto.
Encontrou Caio vestindo uma boxer azul escura. O cabelo molhado pingando pelosombros e escorrendo até as costas. Aline foi até ele e o abraçou, mas Caio nãoretribuiu o gesto, então ela ficou com a orelha grudada em suas costas úmidas.
- Por favor... – Ela disse baixinho.
Caio balançou a cabeça e tirou os braços dela de seu corpo, virando-se paraela.
- Sabe, às vezes eu sinto que sou um intruso aqui, Aline. Às vezes... Às vezeseu sinto que você ta comigo apenas pra passar o tempo até perdoar aqueleimbecil e voltar pra ele!
Aline ficou sem reação. Caio nunca havia falado assim com ela antes.
- Eu sei que não sou o pai da Ana, mas eu a amo como se fosse. Infelizmente,isso não basta. Mas não me importo. Na verdade, quis ficar com você mesmosabendo que seria assim. Eu só não sabia que você iria defendê-lo com tantaintensidade todas as vezes...
Enquanto falava, Caio terminava de se vestir. Ele pôs uma calça jeans velha euma camiseta preta surrada e vestiu os chinelos. Caio saiu do quarto e Aline foi atrás.
Sem fazer barulho, ele entrou no quarto da bebê. Conferiu se ela estava mesmodormindo e sorriu, lhe dando um beijinho suave na testa.
- Onde você vai? – Aline perguntou, quando ele abriu a porta da sala.
- Vou pensar um pouco – E saiu.
Aline ficou parada em frente a porta por vários segundos, tentando assimilar oque havia acabado de acontecer.
Ela foi até o quarto e vestiu a calcinha mais velha e confortável que tinha edepois pegou uma das camisetas de Caio, que lhe serviam de vestido. Na cozinha,ela pegou um enorme pedaço de torta de chocolate e então foi sentar-se napoltrona do quarto da filha.
Aline já estava no terceiro pedaço de torta, agora acompanhado de um copo deCoca Cola, quando recebeu uma mensagem de Caio dizendo apenas que ia dormir nacasa do irmão hoje.
Aline releu a pequena mensagem de texto por várias vezes, mas não mandounenhuma em resposta. Depois de sentir-se satisfeita e cheia de açúcar nosangue, ela foi deitar. Mas o sono não vinha. Aline encarava o teto do quarto,virava-se na cama mas não encontrava uma posição confortável. Estava faltandoalgo ali. Caio estava faltando ali.
Desde que foram morar juntos, ela podia contar nos dedos de uma das mãosquantos dias dormiram longe. E a sensação nunca era boa mas, naquela noite,estava especialmente dolorosa.
Ela sabia que Caio tinha toda razão em estar chateado. Porém, estava tentandoser sensata. Realmente não queria um clima pesado e envolver a Justiça nãopoderia ser fácil, nunca era. Aline sabia que mais cedo ou mais tarde elesteriam que entrar com um pedido de guarda compartilhada, mas ela esperava quefosse mais tarde.
O que mais a deixou chateada foi Caio pensar que era um intruso, porque ele nãoera, não mesmo. Agora ele e sua filha eram sua família. Ela e o seu coraçãoescolheram Caio para dividir todos os momentos da vida, pra sempre.
Iria esperar um novo dia amanhecer para consertar aquilo. Ela não deixaria Caio dormir fora de casa mais uma noite, não sabendo que o motivo de sua ausência era ela. 


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