Capítulo 59
As decorações de Natal já começavam a aparecer pela cidade e Clara adorava aquele clima. Era a época do ano que mais gostava, herdou isso de sua mãe. Ela já havia separado sua árvore de Natal e a montaria mais tarde, junto com Pedro. Antes, eles passariam em um lugar.
- Ei, sei que isso pode parecer meio estranho pra você e você não tem que fazer isso, Pê... – Clara disse, quando Pedro estacionou o carro.
- Eu quero fazer isso – Pedro lhe lançou um sorriso tranquilizador e os dois saltaram do carro.
Clara entrelaçou suas mãos e o guiou, logo parando em frente a um túmulo bem cuidado.
- Oi, família. – Clara sentou-se na grama bem aparada em frente à lápide e Pedro ficou em pé atrás dela – Mãe, pai. Esse é o Pedro. Aquele cara de quem eu tenho falado bastante – Ela riu e olhou para Pedro.
- Olá – Pedro sorriu, tímido.
- Bom, o Natal ta chegando... – Clara continuou, substituindo as flores por outras novas – E vocês sabem como fico emotiva nessa época do ano – Ela deu de ombros, ajeitando os lírios brancos – Eu queria tanto que vocês estivessem comigo, as coisas seriam tão mais fáceis... – Ela respirou fundo, limpando as lágrimas silenciosas.
Pedro apertou seu ombro e ela levantou-se, aninhando-se a ele.
- Eu queria que vocês soubessem que eu vou sempre cuidar da Clara – Ele disse, acariciando suas costas – Ela é tão importante pra mim e eu devo isso à vocês então... Muito obrigado – Ele olhou para ela e sorriu. Clara lhe deu um selinho e então tocou o topo da lápide.
- Eu volto logo – Ela se despediu.Ela e Pedro voltaram para seu apartamento e começaram a montar a – enorme – árvore de Natal de Clara. Ver a animação nos olhos de Clara fazia Pedro sorrir involuntariamente.
Ele foi até a cozinha jogar fora algumas embalagens de enfeites e, quando abriu o lixo, viu algumas bitucas de baseado. Pedro observou aquilo por alguns instantes. Ele engoliu em seco e chamou Clara até a cozinha.
- O que é isso? – Ele perguntou e ela se aproximou para olhar dentro do lixo.
Clara não falou nada, sua expressão endureceu.
- Não é nada. – Ela voltou para a sala.
Pedro jogou fora as embalagens vazias e a seguiu.
- Clara, o que você ta fazendo?
- Eu não to fazendo nada, ta legal?! Você pode parar de ser paranoico e me ajudar aqui?
- Paranoico?! Eu acabei de ver restos de baseado no seu lixo!
- E dai, Pedro? Qual o problema, hein? Nem todo mundo é tão geração saúde assim!
Pedro apertou os lábios em uma linha fina. Ele a encarava e ela continuava fingindo que estava enfeitando a árvore.
- Eu não acredito que você nunca contou isso pra mim.
- Ah, me desculpa por não ser tão perfeita quanto a Vanessa – Clara riu ironicamente.
A mulher continuava na casa que, agora, era do pai e dos irmãos de Pedro. Aquilo incomodava Clara, mas ela tentava ser compreensível.
Pedro se aproximou e, segurando em seu queixo, fez Clara encará-lo.
- Por que você ta fazendo isso? – Por um instante, ela não falou nada. Apenas trincou os dentes – Clara, conversa comigo.
- Eu não quero conversar! – Ela gritou e se afastou dele, indo até a cozinha. Clara abriu a geladeira, mas não havia nenhuma bebida alcoólica ali – Merda! – Ela xingou baixinho.
- Você sabe que pode se abrir comigo, eu to aqui pra te ajudar – Pedro disse.
Clara respirou fundo e, fechando os olhos, ela passou as mãos pelo cabelo.
- Talvez eu não queira a sua ajuda, Pedro. Talvez eu não queira contar cada detalhe da minha vida fodida pra você.
Pedro ficou em silêncio.
- Clara, eu...
- É melhor você ir embora.
Clara foi até a varanda. Ela sentiu que Pedro estava atrás dela.
- Pedro, vai embora! – Ela gritou, apertando o parapeito da varanda com força.
Quando a porta da frente bateu, Clara correu até seu quarto e pegou o que restara de sua última compra com o Surfista para usar.
O dia havia começado tão bem. Como foi que tudo mudou tão rápido? As mãos de Clara tremiam enquanto ela espalhava o pó branco na superfície de um CD. Ela inalou tudo tão rápido que sentiu suas narinas arderem. Clara as apertou com força, fechando os olhos.
Ela voltou pra sala. A árvore estava montada e enfeitada, mas aquilo parecia tão sem sentido agora.
Clara lembrou-se que não havia bebida em casa, então pegou a chave do carro e saiu.
Ela estacionou em frente ao The Licious, não sem antes conferir se o carro de Pedro estava por perto. Era domingo, o restaurante estava fechado. Ela iria apenas pegas algumas garrafas de bebida e voltar para casa. Clara entrou no restaurante e foi direto pra adega. Ela estava separando algumas garrafas de vinho.
- Clara?! – Fred a chamou. Ela se assustou e acabou derrubando uma garrafa de vinho tinto.
- Porra, Fred! – Clara virou-se para ele. Ela estava suando e piscava freneticamente.
- Você ta bem? O que você ta fazendo aqui? – Fred perguntou, já limpando a bagunça na adega.
- Eu... Hã... – Clara passou a mão na testa para limpar o suor – Eu vou fazer um jantar pro Pedro e acabou meu vinho – Ela sorriu, mas os olhos continuavam piscando.
Fred estreitou o olhar para era. Ele terminou de limpar a sujeira enquanto Clara encheu uma ecobag com seis garrafas de vinho.
- Nossa, a noite vai ser boa!
Clara riu e logo o riso se transformou em uma crise histérica.
- Você ta bem mesmo? – Fred estava se aproximando, quando parou – Clara, seu nariz ta sangrando!
Clara interrompeu o riso e tentou limpar o sangue, mas só conseguiu espalhar mais pelo seu rosto.
- Eu tenho que ir, Fred. – Ela saiu apressada.
- Espera! – Fred foi atrás mas, ao chegarem na porta do restaurante, ela atravessou a rua correndo e entrou no carro.
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Quando tudo acontece
RomantikAline e Clara são duas amigas que, aparentemente, têm uma boa vida. Aline tem o emprego perfeito, o apartamento perfeito e o namorado perfeito e Clara é uma chef de cozinha bem sucedida que vive para o trabalho e esconde alguns detalhes de seu passa...