Capítulo 31

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Capítulo 31

Três dias depois do convite de Caio, Aline ainda não havia lhe dado uma resposta e aquilo já estava lhe tirando o sono. Precisava urgentemente dar um rumo para sua vida. Só não sabia se morar com Caio seria o primeiro passo para arrumar toda a sua bagunça. Porém, ela estava muito inclinada a aceitar o convite. As palavras de Fred ressoavam em sua mente: Aline não tinha mais nada a perder e sabia que Clara e Fred sempre a apoiariam.
Decidiu que falaria com Caio naquela noite.
Estava na casa dos pais. O irmão, Dante, viria almoçar com eles. Aline já estava se preparando para as comparações que o pai sempre fazia entre os dois. Dante era sete anos mais velho e era advogado. Morava em Curitiba com a mulher e o casal de filhos pequenos e uma vez por mês ele os visitava em São Paulo, na maioria das vezes porque tinha algum compromisso do trabalho.
A mãe estava terminando de fazer o mousse de maracujá quando a campainha tocou. Aline escutou quando o pai, mais do que depressa, foi abrir a porta. Ela respirou fundo e ignorou o olhar de censura da mãe.
- Filho! – Ouviu o pai dizer e então a porta foi fechada.
Instantes depois os dois homens adentravam a cozinha. Os dois altos e robustos, a única diferença era que o pai de Aline era grisalho e usava cavanhaque, ao contrario do irmão que tinha os cabelos castanhos e o rosto liso.
- Mãe – Dante sorriu e abraçou a mulher, escondendo-a em seus braços. Depois do abraço demorado, ele virou-se para Aline que estava encostada em um dos armários, raspando o resto do mousse que estava no copo do liquidificador
- Oi, Li – Dante aproximou-se e a abraçou também.
- Larga isso, Aline – O pai pediu – O almoço já ta pronto.
Eles sentaram-se à mesa e o pai de Aline começou a servir-se.
- Então, filho – Ele disse, servindo-se do arroz com brócolis – Como está Curitiba?
Dante começou a contar sobre sua vida e em algum momento Aline parou de escutar. Estava com saudade do irmão, porém, não tinha tempo para a idolatria de seu pai. Só voltou a prestar atenção na conversa quando ouviu seu nome.
- Aline? – Dante chamou
- Sim?
- Como você está? Sabe... Com tudo o que aconteceu. A mamãe me contou.
Aline deu um sorriso fraco e deu de ombros.
- Eu vou ficar bem, Dan
- Sabe que se precisar de alguma coisa, qualquer coisa, mesmo em questões legais, eu estou aqui. Certo?
E Aline sabia. Por mais que não fosse mais tão próxima ao irmão atualmente, ele sempre fora protetor com ela. Desempenhava bem o seu papel de irmão mais velho, mesmo com as comparações que o pai fazia. Certa vez, quando era adolescente, a mãe lhe disse para entender que o pai só queria que Aline fosse "alguém na vida", como o irmão estava se tornando. Ela sabia que era só isso, e queria mesmo ser como Dante.
- Sua mãe também te contou que sua irmã vai ser mãe solteira? – O pai perguntou
- Pai – Aline o repreendeu
- Pai, por favor. A Aline é uma mulher muito forte e independente – Dante defendeu a irmã – Ela não precisa de alguém que não a merece – Dante sorriu e piscou para ela, que teve que engolir o choro.
Depois do almoço, Aline ajudou a mãe com a louça e, finalmente, chegou a hora da sobremesa. Uma ideia martelava em sua cabeça, ela estava tentando ignorar, mas estava difícil.
Mais uma vez seu pai voltou a bater na mesma tecla:
- Sua mãe engravidou um ano depois que nós casamos – Ele dizia enquanto comiam o mousse de maracujá.
- Pai, para com isso! – Aline elevou a voz – Meu bebê vai ter pai sim. Na verdade, vocês vão conhecê-lo esse final de semana! – Aline disse de uma vez e só então parou para pensar no que havia dito.
- Como assim? – Sua mãe perguntou – Você e o Márcio estão juntos?
- Não, mãe. Não é o Márcio. O nome dele é Caio e ele é uma ótima pessoa. – Aline disse, olhando para o pai que estava vermelho de raiva, mas estava quieto.
- Na verdade, esse final de semana é aniversário da Letícia – Dante disse e tirou de dentro da pequena mala convites da Elsa de Frozen – Espero que vocês possam ir – Ele entregou um convite para Aline – Lava o Caio, quero conhecer meu cunhado.
Depois da revelação de Aline o clima ficou meio pesado, mas a tarde correu tranquila. Sua mãe e seu irmão cuidaram para que os assuntos discutidos fossem os mais leves possíveis, como a festa da sobrinha de Aline, que faria cinco anos no sábado.
- Bom, eu preciso ir – Aline anunciou, levantando-se. - Vou ajudar Fred no restaurante.
- Eu também vou – Dante levantou-se – Tenho uma reunião amanhã cedo e ainda e preciso dar uma revisada nos documentos.
- Eu já falei que você deveria ficar aqui em casa quando vier pra São Paulo, filho – A mãe lamentou-se.
- Eu sei, mãe. Mas eu preciso de total concentração – Dante abraçou a mãe e lhe beijou os cabelos.
- O menino é responsável, Isadora. Você sabe disse – O pai de Aline disse enquanto o irmão o abraçava.
- Tchau, mãe. Depois eu te ligo – Aline disse, abraçando-a – Tchau, pai – Ela disse, sem olhar para ele, já saindo pela porta.
- Li, espera – Dante a chamou, e ela parou no portão – Eu te dou uma carona.
- Tudo bem – Aline aceitou, estava sem carro mesmo.
Eles entraram na Hillux SW4 preta e por alguns instantes ficaram em silêncio.
- Você sabe que o papai só age daquele jeito porque ele não quer que você se machuque, certo? – Dante disse – Ele te ama, só está te protegendo.
- Ele tem uma maneira muito rude de demonstrar amor, Dan. Ele não precisa ficar me lembrando que o pai do meu bebê me abandonou – Aline trincou os dentes, já sentindo os olhos marejados. – Eu não sou você, Dan. Eu tentei e até fui por um tempo. Mas não sou mais. Essa sou eu: 25 anos, desempregada, falida, morando com a minha melhor amiga, grávida e mãe solteira! Ele deveria me amar por isso e não por eu ser uma cópia sua.
- Li, não fala assim! Não são essas coisas que te definem. Isso é só uma fase e a vida é cheia delas. Você sempre deu a volta por cima, e eu sei que tudo vai melhorar. O papai só ta preocupado. Você sabe que ele é bruto, mas te ama. E eu nunca quis que você fosse como eu. Na verdade, o meu maior sonho é que minha filha seja como a tia Li quando crescer – Dante sorriu e Aline engoliu em seco, limpando uma lágrima teimosa.
Aline respirou fundo, tentando se recompor.
- Você vai ficar bem – Dante disse, estacionando em frente ao restaurante – Sério, leva o Caio pro aniversário – Dante deu uma olhada na fachada no restaurante – Na verdade, leva os seus amigos também. Eles serão bem vindos e você pode precisar de reforços – Dante riu e abraçou a irmã.
- Certo, até sábado então – Aline lhe beijou o rosto e saltou do carro.
Enquanto o carro do irmão se distanciava, sua ficha foi caindo. Caio não iria apenas conhecer seus pais, iria conhecer sua família toda. De uma vez.


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