Capítulo 32

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Capítulo 32


Em um piscar de olhos, Clara estava vivendo seu último dia como aluna do curso de verão do Chef Millano. Estavam em um jantar de gala servido pelo Chef e sua equipe na casa grande na fazenda, que estava toda decorada para a ocasião. Todos os alunos já haviam ganhado seus diplomas. A sensação de Clara ao segurar aquele pedaço de papel fora indescritível. Ela sentia-se como Katy Perry no clipe de Firework, estava radiante.
Clara usava um vestido longo roxo, colado e de mangas compridas, o cabelo loiro estava preso em coque baixo e elegante. Pedro estava sentado a sua frente, usando um smoking preto com uma gravata também roxa. O cabelo estava penteado com gel para trás. Clara já havia desistido de parar de olhar para ele: era impossível, ele estava perfeito.
- Sua atenção, por favor – O Chef pediu, batendo levemente com uma faca em sua taça de vinho – Obrigado – Ele sorriu quando as pessoas voltaram sua atenção a ele – Eu gostaria de agradecer a todos os meus alunos da turma de 2015. Cada um de vocês foi especial para mim e eu também aprendi muita coisa com vocês. Espero que vocês levem a experiência que tiveram aqui comigo em suas carreiras e eu desejo toda a sorte do mundo para vocês. Obrigado e buon apetito!
O jantar foi servido e como tudo ali naquela fazenda, estava divino. Clara saboreava cada garfada, deliciando-se com os temperos do Chef. Esperava ser uma chef tão boa quanto ele quando voltasse para o Brasil. Estava com saudades de casa, principalmente de seus amigos. Mas saber que seu sonho estava com as horas contadas a fazia ter vontade de ficar mais um pouco. Após o jantar eles foram para o saguão, que havia sido transformado em pista de dança. Uma banda local tocava uma música lenta e suave. Clara bebericava seu vinho tinto quando sentiu uma mão em seu ombro
- A senhorita me da a honra desta dança? – Pedro perguntou sorrindo de lado.
Clara segurou o riso e deixou a taça em um dos aparadores.
Pedro a guiou até o centro da pista improvisada e ele começaram a balançar-se lentamente, ao ritmo da música.
- Nunca entendi quando as pessoas dizem que não sabem dançar, nos filmes – Pedro disse, ele segurava a mão de Clara e a outra estava em sua cintura – É só se balançar pra lá e pra cá. – Ele riu e Clara o acompanhou.
- Você está lindo – Ela disse sem pensar e depois se arrependeu.
- Linda você está todos os dias. Mas hoje... – Pedro a fez dar uma voltinha – Hoje você está espetacular.
Clara corou e abaixou a cabeça.
- Ei, ainda temos amanhã. Eu estava pensando em fazermos um passeio um tanto quanto turístico. O que você acha?
- Ótimo! Eu vou adorar.
Pedro se aproximou e falou em seu ouvido
- Eu vou bater na sua porta às seis horas da manhã. Esteja pronta – Clara ignorou o arrepiou que lhe subiu a espinha, assim como o tom mandão na voz de Pedro.
Às seis horas da manhã seguinte, Clara estava pronta. Ela usava um vestido rodado rosa claro com uma faixa branca na cintura e sapatilhas vermelhas. Estava passando gloss nos lábios quando escutou batidas na porta. Ela sorriu involuntariamente e pegou a pequena bolsa, logo em seguida abrindo a porta.
- Por um segundo eu pensei que teria que te acordar... Tinha gostado da ideia – Pedro fez um bico e Clara lhe deu um tapinha no ombro.
- Vamos, to ansiosa! – Ela pegou sua mão e eles desceram as escadas.
Do lado de fora da casa grande a picape vermelha do Chef os esperava. Clara entrou no carro e sentiu o couro gasto dos bancos, sentiria falta daquilo também.
- Onde estamos indo? – Ela perguntou, enquanto Pedro dirigia para fora da fazenda. O dia ainda estava quieto, o sol estava começando a aparecer. Pedro usava seu óculos de sol, mas Clara já não tinha mais problemas em ser pega olhando deliberadamente para ele.
- Você sabe que eu não vou te falar – Pedro deu de ombros e ligou o radio do carro, que ainda era da época das fitas e algum folk antigo preencheu o ambiente. Ficaram em silêncio, apenas absorvendo a música. Porém não era um silêncio incomodo. Era um silêncio tranquilo.
Depois de mais alguns minutos dirigindo, Pedro estacionou o carro e a cidade começava a acordar. Algumas padarias estavam abrindo. Assim que saíram do carro, Pedro entrelaçou seus dedos com os de Clara ela não ofereceu resistência alguma ao gesto.
- Chegamos – Ele disse, baixinho.
Ele estavam em frente a Casa de Julieta. Uma senhora estava abrindo o portão de ferro.
- Buon giourno – Ela os cumprimentou e depois desapareceu no interior da construção antiga.
- Você gostou? – Pedro perguntou.
- Eu... Uau! Isso aqui é lindo! – Clara adentrou o lugar, maravilhada com a estatua de Julieta.
Eles eram os únicos turistas ali, tinham o lugar apenas para eles.
Clara e Pedro entraram na casa e passaram devagar por cada cômodo, lendo todas as placas.
- Fica aqui. Eu já volto – Pedro pediu quando eles chegaram à famosa sacada de Julieta. Clara ficou lá em cima, enquanto Pedro saía.
Clara apoiou as mãos na mureta da sacada e então a voz de Pedro chamou sua atenção
- Eis minha dama. Oh, sim! é o meu amor. Se ela soubesse disso! Ela fala;
contudo, não diz nada. Que importa? Com o olhar está falando.
Lá estava Pedro, embaixo da sacada da Cada de Julieta, recitando Shakespeare pra ela. Ela estava sonhando? Clara não conseguiu esconder o sorriso que lhe estampava o rosto. Decidiu cortar o monólogo de Romeu e citou a fala de Julieta:
- Romeu, Romeu! Ah! por que és tu Romeu? Renega o pai, despoja-te do nome; ou então, se não quiseres, jura ao menos que amor me tens, porque uma Capuleto deixarei de ser logo.
Lá embaixo, o sorriso de Pedro refletia o de Clara. Ela sentia seu coração bater descompassado. Resolveu citar mais uma parte da fala de Julieta:
- Romeu, risca teu nome, e, em troca dele, que não é parte alguma de ti mesmo, fica comigo inteira.
- Sim, aceito tua palavra. Dá-me o nome apenas de amor, que ficarei rebatizado. De agora em diante não serei Romeu.
Antes que ela pudesse responder, Pedro saiu correndo. Instantes depois ele estava na sacada, ao lado dela. Meio ofegante, mas o sorriso não saia do rosto.
- Pedro! Isso foi... Lindo! – Ela engoliu em seco, tinha as mãos em seus ombros, como se para ter certeza de que ele era real.
- Clara... Você entendeu o que foi isso?
Clara encarou aquele par de olhos azuis que a faziam sentir tantas coisas ao mesmo tempo.
- De agora em diante não serei Romeu – Pedro disse – Serei seu.
Clara fez menção de dizer algo, mas as palavras não saiam. Pedro continuou.
- Eu não consigo mais esconder. Fingir pra mim mesmo que eu não sinto nada por você. Porque eu sinto. E eu quero ficar com você e só com você, do jeito certo. Do jeito que você merece. Eu quero te fazer sorrir todos os dias, não chorar. Eu largo tudo pra ficar com você, se você sentir o mesmo. Se você também quiser isso.
As mãos de Pedro envolviam a cintura de Clara e ela sentiu que ele tremia. Ele estava atônito esperando por uma resposta dela. A cabeça de Clara parecia girar. Nada daquilo fazia sentido!
Então ela sorriu. É claro que fazia sentido. Fazia todo o sentido do mundo!
- Eu quero – Ela disse num sussurro, abraçando-o – É só o que eu quero.
E assim que as palavras saíram de sua boca ela compreendeu como eram verdadeiras: ela precisava dele, assim como ele precisava dela.
O abraço se prolongou, fazendo Clara desejar ficar ali para sempre, naquele lugar lindo e nos braços de Pedro. Quando desceram da sacada, foram até o muro onde havia nome de vários casais, tradição por ali. Pedro puxou uma caneta preta do bolso e escreveu ali seus nomes, dentro de um coração. Clara o abraçou mais uma vez. Agora, ela não via a hora de chegarem ao Brasil e resolverem suas coisas para, finalmente, ficarem juntos. Pedro lhe beijou a testa e, abraçando-a pelos ombros saíram para tomar um café italiano. 

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