Capítulo 69

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Capítulo 69

- Eu posso brincar de boneca com eles? – Ana Julia perguntou. Caio segurava a filha no colo e os dois observaram os gêmeos Erick e Liz dormirem.
- Eu acho que eles precisam crescer um pouco mais – Caio respondeu.
- Mas eles podem ser meus filhinhos.
- Hum. Não sei se a tia Clara vai deixar... – Caio riu e saiu do quarto dos bebês. Ele foi pra sala, onde o resto do pessoal estava reunido.
Pedro era o típico pai babão. Não parava de mostrar fotos dos gêmeos. As duas crianças tinham olhos azuis, como os pais e eram gêmeos idênticos.
Quando Clara descobriu que estava grávida de gêmeos, ela quis matar Pedro. Ficou tão brava que acabou jogando várias frutas na cabeça dele. A gravidez dela fora tranquila, tirando suas alterações de humor e desejos no meio da madrugada.
Eles se casaram na praia, ao por do sol. A barriga de Clara já aparecia e ela usava uma tiara de flores.
Depois do casamento, acabaram brigando porque Clara não queria sair de seu apartamento para morar na casa de Pedro e nem ele queria sair de sua casa para morar no apartamento de Clara. Depois de muitas discussões, bicos e chantagens emocionais (por parte de Clara), eles acabaram vendendo os dois imóveis e compraram um apartamento maior.
Enquanto Pedro continuava a mostrar as fotos do ensaio que bebês fizeram com a namorada de Bernardo, tia Madalena, discretamente, puxou Clara para a cozinha onde poderiam conversar à sós.
- O Erick é tão parecido com sua mãe... – Ela disse e Clara viu os olhos da tia encherem-se de lágrimas.
- Espero que ele tenha o mesmo coração bom que minha mãe tinha.
- Vai sim, minha querida. Vai sim. – Tia Madalena sorriu – Clara, eu queria te pedir desculpas.
- Por que, tia?
- Por minha ausência todos esses anos. Eu sei que fui uma péssima tia. Te deixei sozinha por tanto tempo. Você se virou bem, eu sei. Mas eu deveria ter estado por perto, quando você precisou.
Clara sabia que a tia estava referindo-se á sua "época sombria". Mas aquele tempo havia passado e, com certeza não voltaria mais.
- Perder a sua mãe foi tão difícil para mim também, eu apenas queria ir pra longe e tentar fugir da dor. E foi isso que eu fiz, todos esses anos. Fiquei me escondendo dos meus sentimentos, sofrendo longe de você quando deveríamos ter sofrido juntas.
- Tia, ta tudo bem – Clara sorriu, limpando as lágrimas da tia – Você fez o melhor que podia, foi difícil pra todo mundo.
- Se você me permitir, eu gostaria de ser mais presente na vida dos gêmeos.
- Você nem precisa de permissão pra isso! Com certeza vai ser a melhor tia-avó que eles poderiam ter!
Clara abraçou a tia e sentiu todo o amor que exista entre elas naquele abraço. Quando voltaram para a sala, Aline e Caio já despediam-se do pessoal.
- Vocês já vão? – Clara fez bico.
- Sim, já estamos atrasados, na verdade – Aline explicou e deu um abraço na amiga, despedindo-se dela.


Já no carro, Caio dirigia enquanto a filha não parava de falar.
- Mas eu quero ficar com o papai... – A menina pedia.
- Ana, já conversamos sobre isso – Aline disse, virando-se para trás no banco do carona para olhar a filha.
- Vai ser rápido – Caio disse, olhando-a pelo espelho – E quando você chegar em casa, vamos assistir todos os desenhos que você quiser.
- Até Frozen, Frozen 2 e Frozen 3? – Ela perguntou com os olhinhos brilhando.
- Quantos Frozen você quiser! – Caio riu e Aline balançou a cabeça, sorrindo. Adorava o relacionamento dos dois, cheio de cumplicidade. Os dois tinham um mundo só deles e Caio era mesmo o Superman da filha.
- Me liga se quiser que eu venha busca-las – Caio disse, estacionando o carro em frente àquela casa tão conhecida por Aline.
- Tudo bem – Ela lhe deu um selinho e então saltou do carro, indo até a parte de trás para tirar a filha da cadeirinha especial.
- Tchau, papai – Ana Julia disse, dando um beijo estalado na bochecha de Caio.
- Tchau, princesinha – Ele sorriu e esperou que elas fossem até a porta para ir embora.
Aline tocou a campainha e, segundos depois, Márcio atendeu. O cabelo estava mais curto e ele resolvera tirar a barba, o que lhe deixava mais jovem.
- Oi! – Ele sorriu e abaixou-se para dar um abraço na filha – Aninha, vem dar um abraço no papai.
- Papai número dois – A menina sorriu e o abraçou. Márcio olhou para Aline, que deu de ombros.
O fato de Ana Julia chamar Márcio de "papai número dois" já havia sido motivo de discussão entre os dois mais de uma vez.
- Eu não posso fazer nada, Márcio! – Aline disse, da última vez que Márcio trouxe o assunto à tona – Ela tem apenas três anos. Precisa de mais tempo pra entender as coisas.
- Entrem – Márcio disse, pegando Ana no colo e dando espaça para Aline entrar.
- Eu trouxe vários presentes pra você. Quer ver? – Ele perguntou e foi com a filha até o quarto que ela tinha na casa dos avós paternos.
- Onde estão seus pais? – Aline perguntou.
- Foram em um jantar beneficente – Márcio pôs a filha no chão e a menina começou a abrir os presentes.
Enquanto ela se ocupava com seus brinquedos novos, Aline e Márcio conversaram sobre assunto aleatórios e sobre a filha.
A viagem de Márcio à Tailândia lhe rendeu um mochilão ao redor do mundo. Por um ano, mais ou menos, Márcio apenas viajou. Ele cumprira sua promessa e fazia chamada de vídeo com Aline e a filha duas vezes por semana. Depois de conhecer praticamente todos os cantos do mundo, Márcio acabou por se estabilizar na Califórnia, onde morava atualmente, e abriu uma filial da empresa publicidade do pai. Finalmente ele era presidente. Agora, ele vinha ao Brasil pelo menos uma vez por mês.
Ele estava mesmo sendo um pai presente, mesmo com a distância física, Aline não podia reclamar disso e ela ficava aliviada. No fim das contas, Márcio não era mesmo um cara ruim. Ele amava a filha e Aline sabia que a menina o amava também, mesmo que de uma forma diferente do amor que sentia por Caio. Mas não podia culpá-la. Ela era apenas uma criança e convivia com Caio. Era compreensível que seus laços fossem mais fortes com Caio. Porém, ela entendi que Márcio também era seu pai. Ana gostava de ficar com ele, adorava ouvir as inúmeras histórias que ele lhe contava e, claro, todos os presentes que ele trazia para ela.
- Vamos tomar um café – Márcio disse, enquanto Ana Julia estava entretida brincando com suas novas bonecas de pano. – Café pra mim, chá pra você – Márcio esclareceu, quando Aline lhe olhou com a sobrancelha erguida.
Eles foram até a cozinha e Márcio começou a preparar as bebidas.
- Bom, eu tenho uma notícia... – Ele disse, colocando a xícara com chá em frente à ela.
- O que?
- Eu conheci uma pessoa – Márcio bebericou seu café – Já tem algum tempo e nós realmente nos damos bem.
- Fico feliz por você – Aline sorriu e estava sendo sincera.
- Vou pedi-la em casamento – Márcio anunciou e Aline assentiu.
Então ele, finalmente, estava seguindo em frente. Aline não era ingênua a ponto de pensar que ele não havia conhecido outras mulheres esse tempo todo, especialmente depois de viajar tanto. Porém era a primeira vez que ele lhe contava sobre alguém. Ela sentiu que estavam dando um passo nesse novo relacionamento que tinham, o de pais separados-porém-civilizados-e-amigos.
- Isso é ótimo! – Aline segurou a mão dele por cima da mesa de mármore – Espero conhecê-la.
- Ah, sim – Márcio sorriu, balançando a cabeça – Ela é ótima e já está encantada com a Aninha, antes mesmo de conhecê-la.
- Ah, isso é muito importante. E também bem compreensível – Aline tomou mais um gole de seu chá – Nossa filha é uma garotinha encantadora! – Ela riu e deu de ombros.
Ana Julia parecia-se muito com Márcio, principalmente os cabelos escuros e cacheados. Porém, todos seus trejeitos eram de Caio.
- Espero que você a deixe passar as férias comigo, na Califórnia... – Márcio disse, este era outro assunto que também era motivo de discussão entre eles.
- Márcio, ela ainda é muito pequenininha. Não dorme sem mim ou o Caio – Aline disse, e era verdade. Sempre que Márcio vinha visita-la, a filha não dormia na casa da avó. Eles podiam passar o dia todo juntos, brincando e se divertindo, mas, quando começava a escurecer, ela já pedia para ir pra casa.
- Eu sei, eu sei... Mas você podia ir com ela. Sabe, você e o Caio – Ele deu de ombros, terminando de tomar seu café.
- É um assunto a pensar. E prometo que vou conversar com ele.
- Tudo bem. – Márcio sorriu.
Eles voltaram para o quarto e juntos os três brincaram até a menina acabar adormecendo no colo de Márcio.
Aline chamou um Uber e, quando o carro chegou, Márcio foi com ela até a porta. Ele esperou que Aline entrasse e então lhe passou a filha, que ainda dormia. Márcio deu um beijo na testa das duas e fechou a porta, sorrindo para Aline.
Durante todo o caminho, Aline foi pensando na conversa que tivera com Márcio. Ele havia lhe contado que iria se casar e ela não sentiu absolutamente nada. Hoje sabia que tudo o que havia vivido com ele estava no passado. A única coisa que importava era a filha que relacionamento lhes dera. Aline sabia que estariam ligados para o resto de suas vidas e sentia-se confortável com esse pensamento.
Talvez, aquela fosse a sensação de estar tornando-se adulta. Ela riu com o pensamento.

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