Capítulo 37
Na quarta-feira, Caio chegou em casa bem mais cedo. Ele trouxe um enorme pacote: era um presente para Aline.
E agora Aline estava olhando seu reflexo no espelho. O presente de caio era um vestido preto. Era simples, porém elegante. Tinha mangas curtas e decote quadrado e acentuava bem sua barriga.
Ela estava incomodada com aquilo. Caio já havia lhe dado outros presentes antes. Era de seu feitio ser carinhoso e voz ou outra aparecia com um mimo para Aline. Talvez fosse apenas a ansiedade para o jantar. Passara a noite em claro pesquisando sobre os pais de Caio enquanto ele dormia ao seu lado.
- Uau... Você ta linda! – Caio a despertou dos pensamentos, abraçando-a por trás.
- Obrigada – Ela sorriu e virou-se para ele, apoiando as mãos em seu peitoral. Ele era tão alto e tão encantador. Seu perfume a acalmava quase tanto quanto a sua presença. Era um pouco assustador a maneira como as coisas aconteceram em sua vida. Mas agora ela já não se via mais sem ele. Em tão pouco tempo ele se tornara seu porto-seguro, seu amigo, confidente. Era dele todo o amor que ela tinha para dar a alguém e ela sabia que ele sentia o mesmo. Era assustador, sim. Mas de um maneira boa. Aquele frio na barriga gostoso de sentir. Desde que eles estivessem juntos, tudo ficaria bem.
- Ei, ta tudo bem? – Caio ergueu o queixo dela com o dedo.
- Eu ouvi você e sua mãe conversando pelo Skype esses dias...
Caio suspirou e passou a mão pelos cabelo, bagunçando um pouco. Mas era assim que Aline gostava. O cabelo dele era tão macio, ela adorava passar os dedos por entre os fios.
- Desculpa por isso... Será que podemos esquecer isso e recomeçar no jantar? Vamos provar pra minha mãe que ela está errada?
Aline sorriu quando sentiu o beijo que ele lhe dava na testa.Quando Caio passou pelos grandes portões de ferro, Aline não acreditou que estavam na casa de seus pais. O choque foi tanto que ele teve de perguntar se haviam chegado. A casa na verdade era uma enorme mansão daquelas que se vê em novelas e realmente podia ter sido locação de algum folhetim global. Um enorme chafariz ficava no centro do jardim e Caio estacionou o carro de frente para a entrada. Assim que saíram para a noite fresca, um empregado se aproximou e Caio lhe passou as chaves, desejando-lhe boa noite.
Aline não conseguia parar de encarar os pilares de mármore a sua frente. Ela teve mesmo que fechar a boca.
- Pronta? – Caio entrelaçou seu braço no dela e lhe ofereceu um sorriso tranquilizador.
Lentamente eles subiram a escadaria e, na cabeça de Aline, todos os degraus do mundo estavam ali. Ela parou abruptamente e apertou o braço de Caio, fazendo com que ele olhasse para ela.
- Ele mexeu – Aline sussurrou, com os olhos desfocados. Então, ela olhou para Caio e disse mais alto – O bebê mexeu!
Aline pegou a mão de Caio e colocou em sua barriga, exatamente onde o bebê mexia e a boca de Caio dez um perfeito "O".
Eles estavam maravilhados com aquela situação, mas antes que Caio pudesse dizer algo, a porta foi aberta.
A luz forte que vinha do hall os iluminou e então Aline reparou na figura parada na soleira da porta. A mulher era alta, quase da altura de Caio. O cabelo louro escuro chegava na altura do queixo e estava impecavelmente arrumado, assim como o conjunto de calça e terninho cinza que ela usava, fazendo contraste com a sandália preta.
- Caio – A mulher sorriu e abriu os braços. Por um momento, ele hesitou: ainda estava com as mãos na barriga de Aline. Mas, quando a mulher deu um passo a frente, ele foi de encontro a ela.
- Oi, mãe – Ele a abraçou e Aline engoliu a seco. – Mãe, essa é a Aline – Caio soltou o abraço e deu a mão pra namorada. – Li, essa é minha mãe, Marieta.
Antes que Aline pudesse fazer algo, Marieta se aproximou e lhe deu um caloroso abraço. Aline demorou um instante para retribuir o gesto, sussurrando um "boa noite". Aline percebeu que, ao soltá-la, Marieta a olhou de cima abaixo.
- Vamos entrar, por favor. O jantar já será servido – Ela sorriu e deu espaço para que eles entrassem.
O lado de fora da mansão fez Aline ficar de boca aberta. Mas o lado de dentro a fez perder o fôlego.
Economizar na conta de luz obviamente não era uma questão a ser pensada naquela casa. Todas as luzes estavam acesas e havia um enorme castiçal pendurado no teto. As pedrinhas brilhantes só podiam ser diamantes. Ainda de mãos dadas com Caio, ele o guiou para a sala de jantar. A sala era igualmente impressionante.
Uma enorme mesa de mogno ficava no centro da sala com oito cadeiras de cada lado. A mesa estava posta com talheres tão brilhantes que só podiam ser prata pura.
- Sentem-se. O seu pai já deve estar vindo...
Marieta mal terminou de falar e a versão mais velha de Caio entrou na sala. Não havia como discutir a semelhança: Caio era a cópia do pai. O mesmo porte físico, os olhos claros. A única diferença era que o pai tinha cabelos grisalhos e não usava óculos.
- Boa noite! – Ele sorriu e abraçou o filho. Caio o apresentou à Aline e ela sentiu que o relacionamento com o sogro seria bem mais amistoso.
A cadeira que Aline estava sentada era, facilmente, a cadeira mais confortável na qual já havia sentado na vida. Talvez até mais confortável que sua própria cama. A mãe de Caio sentou-se na cabeceira de mesa, Aline ficou mais aliviada ao perceber que havia uma distância boa entre elas.
Assim que todos se acomodaram, um empregado veio servi-los. Comeram salada de rúcula e depois macarrão ao pesto. A comida estava maravilhosa, mas Clara era tão melhor.
- Então, Aline... – Marieta passou um guardanapo de linho no canto da boca que estava limpa. O batom impecável – Como vocês se conheceram? – A mulher lançou um sorrisinho para Caio.
Aline engoliu a garfada com auxilio de um gole de água e sentou mais ereta na cadeira.
- O Caio comprou meu carro – Aline olhou de soslaio para o namorado. Odiava se sentir tão insegura assim. Parecia que estava pisando em ovos.
- Não acredito! Não me leve a mal, Aline, mas aquele carro não é nada bom! Eu insisti tanto para que ele pegasse um modelo importado – Marieta balou a cabeça e deu um gole em seu vinho – Mas ele é sempre tão teimoso...
- Eu gosto do carro – Caio e o pai falaram juntos e depois riram, seguidos por Aline.
- Você trabalha com o que mesmo? Caio deve ter me falado, mas eu não me lembro... – Marieta abanou o ar, gesto que irritou profundamente Aline.
- Bem, eu era editora chefe na Palavra Escrita...
- Palavra Escrita?! – Marieta e interrompeu – Não é a editora em que a Grazi está trabalhando agora?
- É sim... – Caio respondeu.
- Grazi é a ex noiva do Caio – Marieta esclareceu, com um sorriso – Uma ótima moça. Ótima profissional também.
- Eu a conheci.
- Ah, então vocês trabalham juntas? – Agora, o sorriso de Marieta era sarcástico.
- Não. Na verdade, eu fui dispensada...
O empregado que serviu o jantar entrou na sala com uma garrafa de vinho de aparência antiga.
- Ah, sim. Obrigado, Carlos. Eu sirvo – O pai de Caio levantou-se e abriu a garrafa – Daquela safra que falávamos, Caio. – Ele serviu três taças e quando estava prestes a servir a quarta, Caio interviu.
- Não, pai. A Aline não está bebendo.
- Mas não quer nem provar? Isto é uma obra de arte!
- Ela está grávida, Cesar – Com um gesto, Marieta chamou o empregado e pediu para que ele tirasse a mesa. Diante da cara de surpresa do marido, acrescentou – Mas não é do Caio.
Antes que alguém pudesse se manifestar, Marieta levantou-se.
- Vamos, Aline. Vou lhe mostrar minha biblioteca enquanto eles falam sobre essa tal obra de arte.
Sem ter muita opções, Aline levantou-se e seguiu a nova sogra. Não sem antes dar uma olhada em Caio que, mais uma vez, ofereceu aquele sorriso como quem dizia "vai ficar tudo bem".A biblioteca, como toda a mansão, era simplesmente maravilhosa. Aline estava encantada com a quantidade de clássicos em capa dura.
- Gostou? – Marieta perguntou, depois de um longo momento em silêncio. Aline até se esqueceu da mulher e tomou um susto ao ouvir sua voz.
- É lindo! Eu podia passar horas aqui...
- É, aposto que sim... – Marieta trancou a porta e Aline não entendeu o porquê, mas ficou incomodada.
- Olhe, vamos direto ao ponto, sim? Eu conheço muitas mulheres do seu tipo e não quero meu filho envolvido com você. Me diga seu preço.
- O que?
- Não se faça de desentendida. Eu já entendi qual é o seu jogo. Meu filho pode ser ingênuo. Ele tem um coração bom, igual ao pai. E isso é a maior fraqueza deles: a ingenuidade. Você está desempregada, grávida de outro homem. O que mais poderia querer com o Caio?
Aline apoiou as mãos na mesa de madeira que estava atrás dela. Ela engoliu em seco. Estava mesmo ouvindo aquilo? Sentiu que o jantar estava protestando em sua barriga, mas conseguiu reunir forças para falar.
- Dona Marieta, eu amo seu filho.
A mulher apenas riu com sarcasmo.
- Não há amor no mundo que não possa ser comprado. Pense nisso, eu posso te dar uma quantia boa o bastante para você criar o seu bastardinho...
- Não fale assim do meu filho! – Aline falou entre dentes. Ela sentiu o vômito subindo e então os cantos de sua vista foram escurecendo. Ela apertou a borda da mesa com mais força e respirou fundo.
- É uma ótima oferta! Você fica com o dinheiro e o meu filho fica livre! – Marieta se aproximou de Aline.
- Dona Marieta, eu não... – Aline começou a suar frio, sua visão estava cada vez mais embaçada e uma forte tontura lhe atingiu – Eu não estou...
- Me deixe pegar meu talão de cheque.
Então Aline não pôde mais segurar: vomitou todo o jantar no terninho de Marieta. A mulher gritou, horrorizada com a cena.
Grito fez com que Caio e seu pai fossem correndo para a biblioteca. A porta trancada não foi um obstáculo para Caio, que a arrombou empurrando com o ombro.
- ELA VOMITOU EM MIM! – A mãe gritou quando os dois entraram na biblioteca.
- Aline, você ta bem? – Caio correu até ela.
- Caio... Eu...
Tudo escureceu.
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Quando tudo acontece
RomanceAline e Clara são duas amigas que, aparentemente, têm uma boa vida. Aline tem o emprego perfeito, o apartamento perfeito e o namorado perfeito e Clara é uma chef de cozinha bem sucedida que vive para o trabalho e esconde alguns detalhes de seu passa...