Capítulo 41

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Capítulo 41

Clara esperou que todos fossem embora, até mesmo Fred, para que ela pudesse sair. Pedro não havia voltado e, por mais que ela soubesse que ele precisava de um tempo, estava mesmo preocupada com ele. Por isso resolveu ir até a casa dele.
Ela tocou a campainha duas vezes, sem resposta. Ele não atendia ao telefone e nem respondia suas mensagens. Por impulso, Clara virou a maçaneta do portão e estava aberto. Rapidamente ela cruzou a garagem, o carro de Pedro estava lá, e entrou na casa.
- Pedro? – Ela chamou, deixando a bolsa no sofá da sala.
Na cozinha, nenhuma panela estava no fogo. Clara foi até o quarto, que também estava vazio, assim como o banheiro e o lavabo no corredor. Clara já estava mesmo preocupada, estava pensando em ligar para algum dos meninos da banda, quando ouviu uma música.
Seguindo o som, ela saiu na parte de trás da casa, uma área coberta. Alguma música do Linkin Park tocava no último volume. Pedro estava de costas pra ela. Ele usava apenas uma bermuda preta que caia pelo quadril, deixando aparecer boa parte de sua boxer azul. Pedro socava um saco de pancadas vermelho, o suor escorria por suas costas, fazendo as tatuagens brilharem. A visão fez com que o corpo dela esquentasse. Clara se aproximou devagar e parou na frente dele, interrompendo um soco no ar. Pedro olhou para ela, arfando. O cabelo grudando na testa. Clara segurou suas mãos, que estavam com luvas de boxe. Pedro foi se acalmando e Clara queria mesmo perguntar o que estava acontecendo. A expressão dele era de total agonia. Mas antes que ela pudesse dizer algo, Pedro tirou as luvas e a abraçou forte, tão forte, como se Clara fosse a única coisa que o mantivesse em pé e começou a chorar, silenciosamente. Clara grudou seu corpo ao dele, fazendo carinho em sua nuca até que suas lágrimas cessaram. Eles foram até um pequeno sofá que ficava encostado na parede mais próxima, Clara ainda acariciando os cabelos molhados dele.
- O que ta acontecendo? – Ela perguntou baixinho, quase sentindo a dor que estava estampada nos olhos de Pedro.
Ele fungou, passando as mãos pelo rosto. Seus olhos estavam vermelhos, o que realçava o azul de suas íris.
- Meu pai apareceu... – Pedro soltou um riso sem humor e entrou na casa.
Clara respirou fundo e foi atrás dele, o encontrou no banheiro. Estava apoiado na pia, a cabeça caída entre os ombros.
- Ele começou a me mandar mensagens há um mês, mais ou menos – Pedro começou a falar e Clara se aproximou. Ele virou-se para ela e continuou, jogando os cabelos para trás – Eu ignorei todas e não contei pra ninguém. Não queria mesmo nenhum tipo de contato com ele. Mas ontem a noite... Ele me ligou. E eu tava tão puto que atendi, pretendia falar umas verdades pra ele, por telefone mesmo. Mas eu não consegui... – A voz de Pedro foi morrendo – Ele disse que ta na cidade, Clara.
Clara não sabia o que dizer. Tudo o que ela mais queria na vida era ter uma segunda chance com os pais. Mas a situação de Pedro era totalmente diferente da sua.
- Você não precisa fazer isso – Clara foi até o box e ligou o chuveiro, tirando a sapatilha e deixando do lado de fora – Você não precisa fazer nada que não queira.
Clara percebia o quanto Pedro estava atordoado com aquilo e ela só queria fazer sua dor ir embora. Lembrou-se que tia Madalena sempre dizia que um banho quente ajudava a tomar decisões difíceis. Clara pegou Pedro pela mão e entrou com ele no box, de roupa mesmo.
Ele fechou os olhos e trouxe Clara para perto. A água quente se misturava com suas lágrimas. Lágrimas de frustração, de raiva. Lágrimas de um filho que fora magoado de uma maneira horrível. Clara subiu as mãos por seu peitoral e o abraçou, sentindo a água colar seu vestido no corpo. Os vidros do box ficaram embaçados. Lentamente, Pedro tirou o vestido de Clara. Ele a observava de um jeito que a deixava sem fôlego. Não era apenas desejo, era confiança, cumplicidade. Era amor.
Pedro entrelaçou seus dedos com os dela e, virando-a de costas, sussurrou em seu ouvido
- Obrigado por ter vindo.
Clara sentiu seu calor misturando-se com a água quente, enquanto Pedro beijava seu pescoço e eles esqueceram-se que, fora daquele banheiro, a vida era uma luta constante. Mas valia a pena, pois encontravam a força necessária um no outro.

Depois do banho mais do que relaxante, Clara e Pedro fizeram um lanche e foram deitar. Ele estava de bruços e ela mexia em seus cabelos, passando os dedos por entre os fios loiros. Estavam em silêncio, mas não desviavam os olhos.
- Você tem tantas faces... – Clara sorriu e se aproximou mais de Pedro.
- Como assim?
- Quando eu vim pra cá, esperava te encontrar cozinhando ou tocando violão, cantando... Mas não sabia que você lutava boxe!
Era uma das coisas que Clara mais amava em Pedro: estar com ele nunca era igual. Ela nunca sabia ao certo o que ia acontecer e, de uma maneira ou de outra, ele sempre a surpreendia.
- Mas não luto! - Pedro riu – Apenas preciso extravasar a raiva, às vezes... Às vezes ta tudo tão ruim que preciso socar aquele saco de pancadas pra ficar sem energia, assim não penso em mais nada.
- Você é a pessoa mais doce que eu conheço.
Clara o puxou para cima dela e o beijou, um beijo calmo. Sem outra intenção que não fosse mostrar o seu sentimento por ele. Era a primeira vez que vira um homem chorar tão abertamente perto dela. De alguma maneira, aquela situação os uniu de uma forma única. Agora ele sabia que Clara estava com ele em todos os momentos.
- Você sabe... – Clara começou, afastando os lábios dos dele apenas o suficiente para poder falar – Eu só queria que meus pais estivessem aqui comigo. Queria mesmo ter uma segunda chance com eles. Não estou defendendo seu pai e nem justificando o que ele fez. Mas se você tem a oportunidade de ter uma segunda chance, por que não aproveitar? – Agora ela acariciava o rosto dele, que estava com a barba por fazer – Pedro, eu acho que você devia contar para sua mãe e seus irmãos. Talvez vocês possam resolver isso juntos.
Pedro ficou em silêncio por alguns instantes. Então ele respirou fundo e assentiu.
- Vou fazer isso. Não é justo que eu decida por eles...


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