Quando tudo acontece

Capítulo 64

Capítulo 64

Fazia duas semanas que Clara estava na clínica. Fred e Aline a visitavam todos os finais de semana e era por intermédio deles que Pedro tinha notícias. Dizer que ele estava bem seria exagero. Conforme os dias passavam, ele aceitava melhor a partida de sua mãe. Seus irmãos também estavam melhorando, mas a saudade sempre ficaria e Pedro já sabia disso. Porém, ele tentava aparentar que estava tudo bem. Trabalhava todos os dias, na verdade, seus pratos estavam cada vez melhores e o restaurante só recebia elogios. Os clientes mais assíduos sentiam falta da Chef Clara, mas Fred lhes dizia que ela estava em um retiro espiritual, essa era a história que ele contava.
Era noite de sexta-feira e Pedro acabara de sair do banho quando a campainha tocou. Ele estranhou, não estava esperando ninguém. Devia ser Bernardo ou Rafael. Ele enrolou a toalha na cintura e foi até o portão.
- Hoje o jantar é por minha conta! – Vanessa disse, erguendo as sacolas de mercado que segurava.
- Oi, Van... – Pedro esboçou um sorriso e deu espaço para que ela entrasse.
Vanessa tentou sem sucesso não olhar para o corpo de Pedro, mas era impossível. A noite estava tão quente que ela praticamente podia ouvir as gotas de água que estavam escorrendo por seu abdômen evaporarem.
Eles entraram e Vanessa foi direto pra cozinha, enquanto Pedro foi se vestir. Quando ele voltou, ela estava abrindo uma garrafa de vinho tinto. Vanessa lhe ofereceu uma taça e ele aceitou.
- Saúde! – Ela sorriu, tocando sua taça na ele e beberam um gole.
Enquanto Vanessa preparava o jantar, eles conversavam sem parar. Ela não deixou Pedro se aproximar das panelas nem um momento. Pela primeira vez em muito tempo, Pedro estava sentindo-se bem de verdade. Relembraram momentos da infância dos dois e foi impossível não falar de sua mãe. Eles brindaram à ela. E Pedro a agradeceu por tudo que ela havia feito por sua mãe e por sua família. Vanessa foi uma amiga muito presente.
- Olha, você sabe que não sou tão sofisticada quanto você... – Ela dizia, enquanto arrumava a mesa – Mas, se me lembro bem, você sempre gostou da minha macarronada!
- Ah, uma das melhores que já provei! – Ele sorriu enquanto sentava-se à mesa.
Vanessa fez menção de abrir a terceira garrafa de vinho, mas Pedro interrompeu:
- Van, eu não vou tomar mais.
- Ah, tudo bem... – Ela sorriu sem graça e sentou-se à frente dele.
Vanessa o observou atentamente, enquanto Pedro experimentava a primeira garfada.
- Huum – Ele suspirou de olhos fechados – Que saudade desse molho! – Pedro elogiou e Vanessa pareceu ter ganho a noite naquele momento. Eles terminaram o jantar e Pedro não deixou que Vanessa lavasse a louça, faria isso depois.
Estavam sentados no sofá terminando uma taça de sorvete quando Vanessa se aproximou com o pretexto de colocar a taça em cima da mesinha de centro. Pedro estava prestes a tomar mais uma colherada de sorvete de doce de leite quando Vanessa pegou a taça e a colher de sua mão e pôs em cima da mesinha.
Ele a olhou sem entender, a boca ainda aberta.
Vanessa riu e virou-se, ficando de frente pra ele. Ela o encarou. O cabelo de Pedro estava mais comprido e talvez ele resolvera usar a barba agora, porque ela estava mais cheia, e quando Pedro ia perguntar o que estava acontecendo, ela começou a se aproximar.
- Van! – Ele se afastou, levantando-se do sofá. – O que é isso?!
Talvez fosse o vinho, talvez fosse a situação, mas as bochechas de Vanessa coraram.
- Desculpa, Pedro... Eu pensei que... A Clara – Vanessa se enrolava nas palavras.
- Eu amo a Clara...
- Eu sei. Sei que você a ama, sei que vocês se amam – Vanessa fechou os olhos por um breve instante e quando abriu fitou os olhos azuis de Pedro – Antes de ir pra clínica ela me mandou uma mensagem – Sua voz saiu como num suspiro – Ela pediu que eu cuidasse de você e ela meio que... deu permissão pra que ficássemos juntos – Vanessa deu de ombros e olhou pra baixo.
Pedro franziu o cenho. Ele passou as mãos pelos cabelos. Era bem a cara de Clara fazer algo assim... Ele reprimiu um sorriso, não queria que Vanessa pensasse que ele estava rindo dela. Pedro sentou-se ao seu lado novamente.
- Van... – Ele a chamou e segurou em seu queixo, fazendo-a olhar para ele – Me desculpa não conseguir. Me desculpa não conseguir retribuir o sentimento.
- Tudo bem... – Vanessa esboçou um sorriso e Pedro vislumbrou um brilho de lágrima em seus olhos.
- Você é uma mulher incrível, sabe disso. Mas eu amo a Clara. E vou esperar por ela.
- Eu entendo, Pê. Acho lindo o relacionamento de vocês – Vanessa falou, sincera.
Pedro sorriu e a abraçou.
- Me desculpa por essa situação constrangedora! – Ela disse em meio a risos dos dois.
Depois de mais uma taça de sorvete Vanessa foi embora. Pedro olhou a louça suja na pia, mas decidiu que cuidaria daquilo amanhã. Ele deitou-se na cama com as mãos apoiando a cabeça. Sabia que Clara o amava. Iria esperar por ela.