Capítulo 55

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Capítulo 55

Aline não queria ir à essa festa. Sua barriga estava enorme e ela preferia ficar em casa, assistindo à algum filme ou série no Netflix. Mas sabia que Fred ficaria irado, então ela faria essa esforço.
Estava fantasiada de fada. O vestido ia até acima dos joelhos e era rosa claro. Tinha asinhas transparente nas costas e ela usava apliques no cabelo para alongar os fios.
- Uau... – Ela suspirou ao ver Caio fantasiado de Batman. Ele estava completamente sexy e Aline só pensava na lua de mel que teria futuramente.
O pensamento egoísta a fez sentir uma péssima mãe, mas estava difícil Era complicado essa transição. Fazia um tempo que ela não se sentia apenas mulher. Agora pensava em si como mãe.
- Você está linda – Ele disse, lhe dando um selinho.
- E você está delicioso – Ela riu, retribuindo o beijinho.
Eles iriam encontrar com o pessoal na porta do lugar. A festa seria num galpão em um bairro bem afastado de onde moravam. Eles demoraram mais ou menos uma hora para chegar e, quando estavam saltando do carro, avistaram Fred e companhia.
- Meu Deus, você acabou de arruinar minha infância! – Aline disse, ao se aproximar dos amigos e perceber que Fred estava fantasiado de Peter Pan e Leandro de Capitão Gancho, e dois estavam de mãos dadas. Fred limitou-se a mandar um beijinho.
Assim que entraram no galpão, Aline segurou o braço de Caio. O lugar estava muito escuro. A única parte mais iluminada era o palco, que ficava ao fundo, e as entradas para os banheiros. Fora isso, era apenas luz negra. A música tocava no volume máximo e era por conta de um DJ, as bandas tocariam apenas depois da meia noite.
- Vamos beber? – Clara perguntou. Ela estava fantasiada de Sally, personagem do icônico filme The Nightmare Before Christmas e Pedro era Jack. A maquiagem dos dois estava impressionante. Renato e Vinicius, seus companheiros de banda, estavam usando fantasias de zumbis.
Rafael estava fantasiado e Rambo e Pamela era dançarina de Cancan. Bernardo era uma das Tartarugas Ninjas e Vanessa usava uma fantasia de pirata. Clara não estava muito feliz com a presença dela, mas resolveu que iria ignorar. Aliás, era o que ela mais fazia em relação à mulher.
- Que lugar sinistro... – Aline comentou com Caio. Ele não iria beber, então foram procurar uma mesa para sentarem. Depois de andarem ao redor do bar, finalmente encontraram uma. Mas as pessoas da mesa ao lado estavam enrolando cigarros de maconha.
- Talvez seja melhor ficarmos do outro lado – Caio disse e Aline concordou.
Eles acabaram voltando para perto do grupo, já que não havia mais mesas vazias.
Todos estavam com copos de bebidas nas mãos. Caio lhe entregou um copo de Coca Cola, enquanto tomava um gole.
Aline estava com uma sensação estranha, quase como um aperto no coração. Não sabia o que aquilo significava, mas não queria estragar a noite de seus amigos, que pareciam se divertir.
Fred dançava com Leandro e Bernardo. Rafael conversava com Renato e Vinicius. Pamela e Vanessa não estavam por perto, tinham ido ao banheiro.
Por baixo de toda maquiagem que Clara usava, Aline conseguiu encontrar seus olhos. E eles possuíam um brilho esquisito. Aline não gostou do que viu, mas não teve muito tempo de assimilar as coisas, já que Clara pegou a mão de Pedro e saiu com ele por entre a multidão.

Logo depois da meia noite, as bandas começaram a tocar. E lá no palco estava Bernardo juntos com seus amigos, que também eram tartarugas ninjas. O som deles era algo mais calmo, puxado para o Reggae e Aline se balançava lentamente no ritmo da música. Ela abraçava Caio pelo pescoço e ele tinha os braços ao redor de sua cintura.
Pedro e Rafael cantavam todas as músicas e Bernardo sorria na bateria. Clara sentiu seu coração se aquecer ao ver aquela cena.
Se sua irmã tivesse nascido, seriam tão próximas como Pedro e os irmãos? Elas seriam parecidas? Teriam os mesmos gostos?
Clara sentiu a garganta fechar e antes que as lágrimas pudessem tomar conta de seus olhos, ela virou seu copo e acabou com sua vodka.
- Acho que vou pegar mais – Ela se aproximou de Pedro e disse em seu ouvido, balançando o copo vazio.
- Não demora, somos os próximos a tocar.
Clara assentiu e foi em direção ao bar. Até então, não tinha percebido como aquela festa estava lotada. Fantasias de todos os tipos se misturavam: monstros e bruxas, criaturas místicas e personagens de filmes e desenhos. Clara foi esgueirando-se por entre todas aquelas pessoas e conseguiu chegar até o bar. Enquanto o barman preparava seu drink, Clara pensou ter visto um rosto conhecido na outra ponta do balcão.
Antes que pudesse assimilar o rosto à pessoa, seu coração acelerou. Aquele cabelo cacheado...
Clara agarrou seu copo com força e saiu atrás dele, que estava andando pela multidão e corpos dançantes. Ela empurrava as pessoas e até chegou a derrubar um pouco de seu drink.
- Ei! – Ela gritou, segurando a camisa do garoto. Ele se virou pra ela, arqueando a sobrancelha.
Não era Samuel, ela sabia. Era o garoto que encontrou na pista de skate.
- O que você ta fazendo aqui? – Clara perguntou e um sorrisinho presunçoso surgiu nos lábios do garoto.
- Você é aquela mina da pista de skate, não é? Como é mesmo seu nome... Angel!
- Por que você está aqui?
- Isso aqui é uma festa, não é? – O garoto abriu os braços – E o Martin me deu ingressos. Pelo meu bom trabalho – O garoto deu de ombros – Sabe como é...
- O Martin? Ele está aqui? – Clara olhou para os lados, como se pudesse encontrar o homem no meio da multidão.
- A festa é dele, gata – Só quando o garoto disse "festa" foi que Clara percebeu o seu sotaque carioca. – Ei, to achando que você ta muito tensa... Não quer dar uma relaxada?
Ele sorriu, arqueando a sobrancelha. Clara terminou seu drink e deixou o copo de plástico cair no chão.
No palco, a banda de Bernardo terminava de tocar a última música. Talvez só um pouco. Bem pouco mesmo. Clara precisava relaxar e tinha a obrigação de se divertir com Pedro.
A presença desse garoto a perturbava, assim como saber que quem estava dando a festa era Martin. Mas logo tudo iria melhorar.
- Vem... – O garoto disse e saiu andando.
Clara o acompanhou de perto, para não o perder de vista. Ele entrou em uma porta disfarçada, ao lado de um dos banheiros masculino.
O lugar era uma sala escura e abafada. Várias pessoas estavam espalhadas pelos sofás e pelo chão, todas fazendo uso de cocaína ou aproveitando o efeito da droga.
Clara engoliu em seco.
- E-eu não tenho dinheiro aqui – Foi a primeira coisa que ela disse, quando entrou na sala.
- Relaxa, vou falar pro Martin colocar na sua conta.
Eles foram até o fundo da sala e encontraram uma mesa alta e vazia. O garoto começou a espalhar o pó branco pela superfície lisa da mesa.
- Qual o seu nome? – Clara perguntou, segurando a borda da mesa.
- Pode me chamar de Surfista – Os cachos encobriam os olhos do garoto, mas Clara podia ver seu sorriso – Sinto que nos veremos novamente...
Ela trincou os dentes. O garoto enrolou uma nota de 100 e passou para ela. Ele havia separado o pó em quatro fileiras.
Clara pegou a nota e inalou o pó, tapando uma das narinas com o dedo. Ela fechou os olhos e fez a mesma coisa com a segunda fileira e então entregou a nota para o garoto.
- Não vai terminar?! – Ele gritou, mas Clara já estava correndo pra fora da sala.

- Pedro, a gente precisa subir agora! – Vinicius disse.
- Vamos esperar só mais um pouco, talvez ela apareça.
A GreenFoxx já devia estar tocando, mas Pedro pediu que esperassem um pouco, porque não via Clara. Antes de ir para o backstage, ele perguntou para seus amigos, mas ninguém tinha visto Clara, desde que ela saíra para pegar uma bebida.
- Cara, ele deve estar na fila para o banheiro. Banheiro feminino sempre tem fila! – Renato disse.
- É, pode ser... – Pedro pareceu se tranquilizar – Bom, vamos nessa.
E assim que eles subiram no palco, os gritos foram ensurdecedores. Pedro tinha que admitir: as garotas do fã clube faziam um ótimo trabalho de divulgação da banda. Ele tinha a sensação de que, a cada show, o público aumentava.
Eles começaram com um cover de Maroom 5. Pedro foi até a ponta do palco e viu Clara. Ela estava pulando com Bernardo e Pamela.
Agora sim ele podia cantar.

Clara estava eufórica. Pulava e cantava todas as músicas. Sentia o suor escorrer pelas costas e tinha a sensação de que sua maquiagem elaborada iria escorrer.
- Clara, a gente já vai... – Aline disse em seu ouvido.
- Mas jáaaaaa? – Clara sorriu – Fica mais um pouco, dança comigo! – Ela pegou as mãos da amiga, mas Aline não saiu do lugar.
- Eu to cansava. Você... Você ta bem?
- Eu to ótima! Uhuuuul! – Clara jogou os braços pra cima e continuou a pular.
Aline trocou um olhar com Caio, que deu de ombros e então foram embora.
Quase na última música, a euforia de Clara foi substituída por cansaço. Ela estava com a boca seca.
- Tudo bem? – Bernardo perguntou, quando Clara segurou em seu ombro.
- Eu to com sede. Você pode pegar água pra mim? – Ele assentiu e sumiu por entre as pessoas.
Clara ficou tonta. Ela sentia que as pessoas ao seu redor estavam girando, o coração batia acelerado. Ela fechou os olhos, mas a sensação não passava.
Clara sentiu quando os joelhos cederam e então tudo ficou preto.

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