Quando tudo acontece

Capítulo 10

Capítulo 10

Aline e Clara estavam com seus respectivos acompanhantes no Tric. A casa de shows era uma das mais famosas do underground paulistano e a quantidade de pessoas que estavam ali presentes só servia para comprovar.
Clara percebeu que havia algumas meninas bem animadas para verem a GreenFox tocar. A banda de Pedro parecia ser a principal atração da noite.
- Vou pegar uma bebida – Caio disse no ouvido de Aline, por causa da música alta que tocava no lugar. Ela tentou ignorar no arrepio que lhe subiu pela nuca. – Você quer alguma coisa?
- Uma coca.
Caio franziu a testa.
- Tem certeza?
- Sim, sim.
Caio sorriu e foi até o bar.
- Que bom que você superou o Márcio, Aline – Gian disse. Clara apertou a mão do namorado. O comentário dele fora totalmente desnecessário.
Aline engoliu em seco antes de responder.
- Bom mesmo foi você ter conseguido sair com a Clara numa noite de sábado. – Aline sorriu ironicamente e, antes que Gian pudesse responder, Fred e Leandro chegaram e Caio logo juntou-se à eles novamente.
- Galera, o Pedro pediu pra gente ficar lá em cima – Fred disse. Ele apontou para o mezanino do lugar, que era uma área reservada.
Assim que chegaram ao mezanino, as luzes se apagaram e a gritaria começou. Clara riu, lembrando-se de sua adolescência repleta de shows.
O palco foi iluminado por uma luz forte e Renato entrou, indo para a bateria. Vinicius entrou com seu baixo e Pedro com sua guitarra.
Renato fez a contagem na bateria e começaram a tocar. Todas as garotas da casa de show pareciam cantar junto com Pedro.

Olhe pra mim, me diga o que vê
Eu sei, o meu reflexo é você.
Dizem que o tempo não pára
Mas pra mim ele se arrasta
Quando não estou com você

Clara e Aline se entreolharam. Elas não precisaram dizer nada: a voz de Pedro era linda. Clara riu e balançou a cabeça, mordendo o lábio.

Eu te falei e vou provar
Eu vou fazer o impossível
Eu juro, eu vou te amar
Fique aqui, por favor, não vá.
Eu vou fazer o impossível

As garotas na primeira fila cantavam com Pedro e ele sorria abertamente para elas. Vinicius tocava fazendo caras e bocas e elas iam à loucura.

Olhe pra mim, me diga o que vê
Eu sei, o meu reflexo é você.
Dizem que o tempo não pára
Mas pra mim ele se arrasta
Quando não estou com você

Eu só quero uma chance
Só preciso de uma chance
Não vá, olhe pra mim
Eu sei, a nossa história ainda não está no fim

Pedro fez um solo de guitarra, seguido por um solo de bateria de Renato. Aline deu uma espiada na plateia lá embaixo e todas as garotas estavam com celulares na mão, registrando cada movimento dos rapazes no palco.

Eu te falei e vou provar
Eu vou fazer o impossível
Eu juro, eu vou te amar
Fique aqui, por favor, não vá.
Eu vou fazer o impossível

A música acabou e os gritos foram ensurdecedores. Renato jogou seu par de baquetas e pegou o par reserva enquanto Pedro e Vinicius falavam com a plateia. Antes de começar a outra música, Pedro olhou para o mezanino e o seu olhar encontrou o de Clara. Ele piscou e ela lhe mostrou a língua.
O show continuou e no repertório a maioria das músicas eram de autoria própria, além de alguns covers. O som deles era pop rock e algumas músicas eram bem animadas.
Ao final, os três foram para a beirada do palco e, de costas, para a plateia, tiraram uma selfie.
Então as luzes se apagaram e, antes que Clara pudesse perceber, os três rapazes já estavam no mezanino.
- Você veio – Pedro materializou-se na sua frente. Mesmo com a pouca luz seus olhos eram de um azul extremo.
- Eu disse que viria – Por um impulso, Clara o abraçou, sem se importar com o suor.
Pedro não hesitou nenhum segundo e retribuiu o abraço.
- Gostou? – Ele sussurrou em seu ouvido, os braços firmes em volta de sua cintura.
- Vocês são ótimos! – Clara sorriu e percebeu que deveria soltá-lo. – Ahn... Eu quero te apresentar a uma pessoa. – Clara virou-se e encontrou Gian encostado na mureta do mezanino, tomando sua cerveja.
- Esse é o Gian – Ela disse, entrelaçando seus dedos com os dele – Meu namorado.
- Olá – Gian cumprimentou, oferecendo a mão – Bom show.
Por uma fração de segundo, o sorriso de Pedro vacilou. Ele aceitou a mão de Gian.
- Valeu, cara.
Antes que eles pudessem falar qualquer coisa, foram interrompidos. A garota devia ter no máximo 20 anos. O cabelo tingido de vermelho intenso estava jogado para o lado. Ela usava uma camiseta branca bem decotada, deixando a mostra a parte de cima de seus seios e uma saia preta plissada.
- Amor! – Ela exclamou e agarrou o pescoço de Pedro.
- Essa é a Isabella – Pedro olhou para Clara – Minha namorada.
A garota sorriu. Um sorriso enorme que revelava todos os seus dentes.
Aline estava um pouco mais afastada, porém presenciara toda a cena. Um pensamento começou a formar-se em sua mente, mas foi interrompido com o anuncio de Vinicius.
- Vai rolar uma festinha lá em casa agora – Ele disse – Quem ta a fim?! – Ele e Renato bateram as palmas das mãos.
Nesse momento Clara olhou para Aline e então aproximou-se da amiga.
- Você vai? – Clara perguntou, sentindo a presença de Gian atrás de si.
- Acho que não, Clarinha. Eu to cansada – Aline virou-se para Caio – Mas se você quiser ir, não tem problema. Eu pego um táxi.
- Não – Caio disse – Eu te deixo em casa.
Aline sorriu e voltou sua atenção para Clara.
- Mas você deveria ir.
Antes que Clara pudesse responder, Gian manifestou-se.
- Você não vai me fazer ir a festinha dos seus amigos, né?
Aline revirou os olhos e preferiu ignorar o comentário de Gian.
- A gente se vê mais tarde – Ela e Caio despediram-se e começaram a abrir passagem por entre as outras pessoas do mezanino para irem até a saída do lugar.
Clara levou Gian para um canto mais calmo do mezanino para conversarem.
- Qual o seu problema? – Ela perguntou, visivelmente chateada – Faz semanas que não nos vemos e você ta agindo como se fosse um esforço ficar aqui comigo.
- Não é isso, Clara. E você sabe muito bem. Aliás, você sabe de todos os esforços que eu faço pra manter esse relacionamento.
Clara mordeu o lábio. Talvez fosse o álcool, mas ela teve de conter a vontade de chorar. Estava com saudade de Gian, sim. Mas também sabia de todos os "esforços" que ele fazia para manter o relacionamento. Clara sabia que mais cedo ou mais tarde eles teriam que resolver aquela situação.
- Vocês vem? – Fred perguntou. Ele e Leandro já estavam descendo as escadas do mezanino.
- Sim! – Clara seguiu os amigos. Ela não se despediu de Gian.
Aquela situação seria resolvida mais tarde.