Capítulo 23
Então era verdade. Aquilo não era um sonho: Clara realmente estava na fazenda do Chef Millano, em Verona. Seu coração parecia que ia explodir de felicidade a cada paisagem nova que via.
Quando chegaram ao aeroporto, a equipe do Chef Millano já os aguardava. Eles foram em uma van até a fazenda e durante o caminho conheceram os outros participantes do curso de verão: realmente havia gente de todo o mundo.
Estavam no hall da casa principal aguardando seu anfitrião, o sorriso de Clara não poderia ser maior.
- Você fica tão linda com esse sorriso enorme, devia usar mais vezes – Pedro falou em seu ouvido e Clara ignorou o arrepio que lhe subiu. Antes que pudesse responder, uma figura baixinha e rechonchuda com um enorme bigode preto apareceu:
- Buonanotte! Bem vindos à fazenda do Chef Millano, sintam-se em casa! – Chef Millano fez as honras em um inglês carregado de sotaque italiano e então eles foram se acomodar. As mulheres ficariam no primeiro andar e os homens no segundo.
Uma hora depois de se instalarem, todos encontraram-se no hall e foram para a sala de jantar.
- Gostou do seu quarto? – Pedro perguntou, sentando-se ao lado de Clara.
- Gostei, ele fica bem distante do seu.
- Eu não teria tanta certeza disso... – Pedro sorriu, levantando a sobrancelha.
- Olá, queridos alunos! – O Chef Millano começou a falar – Agora que já estão devidamente instalados, podemos nos conhecer. –Clara achava uma graça o inglês carregado de sotaque italiano dele. O Chef Millano falou um pouco sobre sua história de vida e sua carreira na gastronomia e sobre a fazenda, que era enorme. – Agora eu gostaria que cada um de vocês fizesse uma breve apresentação. Sei que isso parece coisa de escola, mas é necessário para que nos conheçamos!
Então os alunos começaram a se apresentar: gente dos Estados Unidos e Canadá, Índia, Japão, Austrália, África.
A cada apresentação, o Chef Millano fazia algum comentário hilário. Era um sujeito muito bem humorado. Enquanto os alunos se apresentavam, o antipasti foi servido. A entrava era uma salada leve.
- Para o nosso primeiro jantar, eu escolhi a tradicional lasagna da família Millano. Espero que vocês gostem e apreciem a receita, pois será nossa primeira tarefa amanhã! Buon appetito!
Aquela lasanha era, sem dúvida, o prato mais gostoso que Clara já havia provado na vida. Cada garfada era uma delicia. Lembrou-se de Aline, tinha certeza que a amiga adoraria a lasagna do Chef Millano.
Depois do jantar, os alunos foram para a enorme sala de estar do Chef Millano e conversaram com o anfitrião por algum tempo.
- Bom, crianças. Eu vou para meu quarto – Chef Millano disse – Boa noite para todos. Nos vemos pela manhã.
Aos poucos a sala foi se esvaziando e logo Clara e Pedro subiam as escadas para seus dormitórios.
- Boa noite, Clarinha – Pedro disse. Clara sorriu. Pedro se aproximou e a abraçou. Um abraço forte, seguro – Durma bem – Ele sussurrou em seu ouvido.
Clara dormiu muito bem. Naquela noite ela sonhou com um certo par de olhos azuis.
Pela manhã, enquanto se arrumava para o primeiro dia do curso, seu celular tocou. O coração foi parar na boca. Por alguns instantes, Clara realmente pensou que fosse uma mensagem de Gian. Mas não era. Era Aline, dizendo que já estava com saudades. Clara respondeu e deixou o aparelho no quarto.
Após um delicioso café da manhã, eles foram para a cozinha do curso que localizava-se em outra construção da enorme fazenda.
A cozinha era igualmente espaçosa e super bem equipada. Chef Millano pediu para que fizessem duplas e Clara foi até a mesma bancada de Pedro.
- Você vai ser minha dupla? – Ele abriu aquele sorriso enorme
- Não faça com que eu me arrependa disso... – Clara segurou o riso. Estava ficando cada vez mais difícil bancar a durona com ele.
Chef Millano começou a contar a história da receita da lasagna de sua família, porém, a cada cinco minutos era interrompido por uma garota alta e de cabelos bem escuros presos em um coque. A garota, Natasha, dos Estados Unidos, interrompia a história do Chef para contar curiosidades de sua família.
- Tudo bem, querida – Chef Millano disse – Já entendemos que você fez a lição de casa. Agora vamos ao que interessa!
- Sempre tem uma sabichona... – Pedro bateu de leve seu ombro no dela enquanto Clara ria baixinho.
Chef Millano começou a ensiná-los a receita. Pedro estava totalmente concentrado, prova disso era o vinco entre suas sobrancelhas grossas.
- Vou escolher as melhores receitas de hoje para levarmos ao asilo de Verona – Chef Millano anunciou, enquanto os alunos prosseguiam com suas lasagnas. Ele ia passando por entre as bancadas, fazendo anotações em sua prancheta, dando dicas e observando os alunos.
- Vocês dois trabalham muito bem – Ele disse, quando passou pela bancada de Pedro e Clara.
Natasha e seu parceiro eram os próximos e Clara percebeu a ansiedade dela. Assim que o Chef passou para sua bancada, Natasha fez questão de explicar exatamente o que estavam fazendo.
- Certo, vou experimentar essas delicias agora... – Chef Millano disse quando todas as lasagnas estavam prontas. Calmamente ele foi passando de bancada em bancada provando todas as receitas e comentando cada uma. Na bancada de trás, Clara sentia a ansiedade de Natasha, que não parava de tamborilar as unhas no mármore.
- Pedro Castelli, hã? – Chef Millano disse, enquanto cortava um pedaço da lasagna de Clara e Pedro – Vejo que não sou o único italiano por aqui! – Chef Millano deu uma garfada e Clara prendeu a respiração por um segundo. Sabia que Pedro também estava apreensivo. – Bom, muito bom, crianças! Apenas tomem cuidado com o tempero.
Quando o Chef passou para a próxima bancada, Clara bateu seu quadril no de Pedro.
- Uau! – Pedro fingiu cambalear – Cuidado, senão eu voo!
- Eu tenho descendência italiana – Escutaram Natasha falar, enquanto o Chef provava sua receita.
- Maravilhoso, querida. Olhe, a massa está no ponto. Mas precisamos melhorar o molho, certo?
Natasha deu um sorriso amarelo enquanto o Chef passava para a próxima bancada.
Depois de experimentar todas as receitas, Chef Millano voltou para o seu posto na bancada principal.
- Vocês foram muito bem, de verdade. Superaram minhas expectativas e algumas receitas beiraram a perfeição. Eu simplesmente não conseguiria escolher apenas algumas, então... Vamos todos alimentar os velhinhos!
Os alunos começaram a voltaram para seus quartos. Clara e Pedro estavam tirando seus aventais, quando Natasha se aproximou.
- Olá, eu sou a Natasha! – Ela sorriu, apertando a mão dos dois – Eu só queria parabenizá-los pela ótima receita! – Ela abriu um sorriso gigante.
- Obrigado – Pedro respondeu pelos dois, Clara apenas assentiu.Ao anoitecer, todos foram para a van da equipe do Chef Millano e seguiram para o asilo, que não era tão longe da fazenda. Vinte minutos depois estavam descendo em frente a uma antiga construção de tijolinhos vermelhos.
- Casa di cura – Clara leu a inscrição no alto do portão e entrou com seus colegas.
- Costumo vir aqui todas as noite – Chef Millano dizia enquanto os guiava até o refeitório.
- Tem parentes aqui, Chef? – Alguém do grupo perguntou.
- Sim, sim. Mamma e babbo – Chef Millano sorriu, enquanto colocava as travessas de lasagna na enorme mesa de madeira escura do refeitório. – Eu gostaria que eles vivessem na fazenda comigo. Mas preferem ficar aqui, com seus amigos de infância – O Chef deu de ombros.
Enquanto as funcionárias do asilo arrumavam a mesa, Millano aproximou de um casal que estava em uma mesa redonda com mais outros dois idosos.
- Mamma, babbo – Ele beijou a cabeça dos dois – Questi sono i miei nuovi studenti – Ele apresentou a turma para seus pais, que acenaram.
A mãe do Chef Millano tinha um brilho nos olhos escuros que só podia ser orgulho. Por um instante o coração de Clara ficou apertado: sua mãe jamais lhe olharia da mesma maneira.
- Tudo bem? – Pedro perguntou, tocando sua mão.
Clara balançou a cabeça e então olhou para ele.
- Sim – Ela sorriu – Tudo bem.
As funcionárias começaram a servir os idosos e logo os alunos juntaram-se a eles. No meio do jantar, Giuseppe, um senhor careca e miúdo, começou a entreter a turma contando sobre as guerras das quais havia vivido. Para um senhor tão miudinho, sua voz parecia um trovão, o que fazia com que todos prestassem atenção. Mesmo que a maioria não entendesse seu italiano.
Por sorte, Clara tinha um tradutor em tempo real: Pedro traduzia as palavras de Giuseppe em seu ouvido.
Quando terminou, todos bateram palmas. Inclusive Clara. Mas sua atenção era toda dos olhos azuis de Pedro.
- Eu não sabia que você era fluente em italiano!
- Tem muitas coisas sobre mim que você não sabe, Clarinha – Pedro piscou e brindou sua taça de vinho com a dela.
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Quando tudo acontece
RomanceAline e Clara são duas amigas que, aparentemente, têm uma boa vida. Aline tem o emprego perfeito, o apartamento perfeito e o namorado perfeito e Clara é uma chef de cozinha bem sucedida que vive para o trabalho e esconde alguns detalhes de seu passa...