Capítulo 49

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Capítulo 49

Era noite de sexta-feira e o The Licious estava com lotação máxima. Aparentemente algumas das empresas ali perto resolveram esticar o happy hour e Clara não via problema nenhum nisso.
Ela estava concentrada, terminando de decorar uma sobremesa, quando Fred lhe tocou o ombro.
- Não, Fred. Não.
- É importante, Clarinha. Tem um cliente querendo falar com você.
Clara limpou as mãos no avental e reprimiu o desejo de revirar os olhos. Ela gostava de conversar com os clientes, de ouvir seus elogios e até mesmo as críticas. Mas preferia que tais comentários fossem feitos online, assim ela não teria que parar o que estava fazendo.
Fred saiu com ela da cozinha e a acompanhou até a mesa.
- Chef, este é Everton Martin – Fred os apresentou e se retirou.
- Boa noite – Clara sorriu.
- Boa noite, Angel...
Clara sentiu um arrepio subir por todo seu corpo. Poucas pessoas a chamavam assim, mas ninguém a chamava assim desde a morte de Samuel. Só então Clara prestou atenção ao homem sentado a sua frente: era moreno, os cabelos bem aparados. Devia ter uns 38 anos. Mas foram os olhos que a fizeram ter certeza de quem ele era. Castanhos escuros, duros e frios.
- Martin... – Ela disse, sentindo a garganta ficar seca.
Ele sorriu, apertando os olhos em sua direção.
- Devo dizer que você não mudou nada. Aliás, ficou mais bonita. E eu não sabia que isso era possível.
Clara estava desconfortável. Ela deu um olhar de esguelha para a garota que estava com Martin.
- Essa é Paola – Ele passou o braço por cima dos ombros da tal Paola. A garota era miúda e usava um e vestido bem decotado.
- O que você ta fazendo aqui? – Clara perguntou, sem esconder a urgência em sua voz.
O homem se recostou na cadeira e lançou um olhar de cima abaixo pra Clara. Ela desviou o olhar pra recepção, Fred estava lá com Mari. Pedro estava na cozinha. Ela estava segura ali.
- Bom, resolvi encerrar alguns assuntos pendentes. E descobri que você era dona deste restaurante. E, devo dizer, você está de parabéns: cozinha maravilhosamente bem...
- Obrigada – Clara engoliu a seco – Olha, eu to muito ocupada. Preciso voltar pra cozinha.
Clara fez menção de se afastar, mas Martin foi mais rápido e lhe segurou o pulso.
- Me liga nesse número – Ele encarou seus olhos enquanto lhe passava um papel dobrado – E é melhor você ligar o mais rápido possível, Angel.
Martin a soltou. O sorriso frio parecia costurado no rosto. Clara guardou o papel no bolso de trás de calça e saiu apressada. Entrou no banheiro ao invés de ir pra cozinha e baixou a tampa da privada para sentar.
Seu coração estava acelerado e ela sentia-se tonta. Precisava se acalmar. Martin nunca era coisa boa, mas já fazia tanto tempo... Talvez não fosse nada. Talvez ele só estivesse mesmo de passagem. Clara respirou fundo algumas vezes. Ela levantou-se e lavou o rosto e mãos.
Voltou pra cozinha e tentou se concentrar, mas já sabia que ligaria pra ele.

Aline estava revisando os últimos preparativos. O chá de bebê seria no dia seguinte e, apesar de já estar quase tudo pronto, ela estava super ansiosa. Queria que tudo desse certo. Talvez estivesse com esse sentimento porque, depois de passar a semana toda ponderando se convidava ou não a mãe de Márcio, decidiu que seria melhor se a ex-sogra não fosse.
Aline queria que o chá de bebê fosse um momento leve e cercado de amor, tanto pra ela quanto para sua filha. Por mais que Cláudia não tivesse culpa das escolhas egoístas de seu filho, tê-la ali com todas as outras pessoas que se importavam com ela seria, no mínimo, desconfortável.
De qualquer forma, ela resolveu avisar. Mandou uma mensagem para Márcio, mas enfatizou que não queria a presença de sua mãe e muito menos a dele. Ela não sabia como ele iria interpretar aquilo. Talvez pensasse que ela estava se divertindo com a cara dele, mas sinceramente, ela não se importava mais. O "Tudo bem" que Márcio lhe enviara como resposta a fez entender que ele também não se importava. Ótimo, melhor assim.
Ela estava sentada na enorme poltrona lilás. Acariciava a barriga distraidamente. O quarto estava completamente pronto, tudo estava no lugar apenas esperando a chegada de sua filha. Aline estava satisfeita e orgulhosa do trabalho que havia feito. Ela sempre gostou de desenhar e pintar e durante a gestação esses gostos estavam mais aflorados.
Ela se recostou na poltrona e fechou os olhos, adormecendo lentamente. Sonhou que estava num campo de grama muito verde e várias flores balançavam com uma brisa suave. Ela estava embalando sua neném e sentia uma presença se aproximando. Aline pensava que era Caio e o sorriso em seu rosto se desfez quando, ao virar-se, ela viu que era Márcio. Ele pegou sua filha e antes que Aline pudesse fazer qualquer coisa, ela se via sozinha. A brisa se transformava em vendaval, uma tempestade se aproximava. Os relâmpagos iluminavam o campo. Márcio havia sumido com sua filha.

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