Quando tudo acontece

Capítulo 47

Capítulo 47

Já fazia uns dois anos que Aline usava os cabelos um pouco acima dos ombros. Os fios eram naturalmente ondulados e ela os adorava assim, pois podia alisá-los quando quisesse, mas jamais permanentemente. Era adepta de luzes loiras, bem claras, e as retocava a cada quinze dias.
Mas essa era a Aline de antes. Antes de sua vida virar de cabeça para baixo.
O que ela quando se olhava no espelho agora, era uma Aline diferente: o cabelo já estava na altura dos ombros e as luzes estavam sumidas quase que completamente, deixando os fios com o castanho escuro natural. O rosto estava mais redondo, e os quilos a mais que ganhara não a incomodavam de jeito nenhum. Havia um brilho em seus olhos que não apareciam há um bom tempo, deixando o castanho tão claro que beirava o mel.
Outra coisa que estava redonda era sua barriga, afinal, ela já estava de seis meses. A ansiedade para conhecer sua menininha só aumentava. Ela e Caio já estavam decorando o quarto da bebê: branco e lilás foram as cores escolhidas e Aline fez todos os desenhos fofos nas paredes.
Ela sentia-se diferente, mas era um diferente bom. Durante toda a sua vida, Aline deixou que as pessoas ao seu redor cuidassem dela e ela admitia que gostava disso. Gostava de saber que havia alguém para protege-la.
Porém, agora, ela era responsável por outra pessoa. Uma pessoa que dependia e dependeria dela por muitos anos. No começo, essa ideia a assustava. Mas a cada dia ela se sentia mais preparada para isso. Faria de tudo para ser a melhor mãe que pudesse ser.
Aline estava mais madura, sentia isso. Era verdade que fora forçada a amadurecer, mas a mudança não foi ruim. Ela estava feliz, sentia-se completa: estava com um cara que a amava e a fazia sentir especial, seu novo emprego estava sendo ótimo.
Bom, mas faltava uma coisa. Na verdade, faltava uma pessoa. Já fazia duas semanas que não falava com Clara e não deixava de pensar nela nenhum dia sequer.
Por vezes ela repassou a briga na cabeça e sempre chagava a conclusão de que havia sido desnecessária. Queria muito desculpar-se e assumir a culpa por completo. Porém, estava esperando as coisas se acalmarem. Ela sabia que Clara era impulsiva e odiava esperar para fazer as coisas, ou para que as coisas fossem feitas. Então, o fato de Clara também não a ter procurado nessas semanas só a amedrontava.
Aline olhou para Caio e sentiu o coração acelerar. Eles estavam quase chegando ao condomínio de Leandro para a festa de Fred.
Caio usava uma bermuda bege bem clara e uma camisa com os primeiros botões abertos. Ele estava concentrado na estrada, uma das mãos apoiadas na coxa de Aline. O silêncio não era incômodo, era reconfortante.
Depois de seu último encontro com Márcio, ela sabia que tinha decepcionado Caio. Eles conversaram sobre o ocorrido no dia seguinte, Aline explicou exatamente o que havia acontecido. Ela sabia que Caio acreditava nela, porém ele deixou claro sua insegurança em relação a isso. Sabia que o pai da bebê era Márcio, tinha medo que Aline resolvesse voltar com ele.
- Mas se for isso o que você quer, eu não vou te impedir. Eu quero apenas a sua felicidade E se eu não puder contribuir pra isso, vou entender. Não quero te prender a mim... – Ele disse, ajeitando os óculos.
Aline não acreditou. Por um lado, achou bem fofa essa insegurança recém descoberta de Caio.
- Isso não vai acontecer, não mesmo. Até porque a minha felicidade está diretamente ligada à você. – E ela encerrou o assunto com um beijo apaixonado.

Eles se identificaram na portaria do condomínio e deslizaram portão a dentro. A rua do prédio de Leandro estava bem movimentada, a festa estaria lotada. Do jeito que Fred gostava.
Caio estacionou e saltou do carro, dando a volta no mesmo para abrir a porta para Aline.
- Eu já falei que você ta linda? – Ele disse, enquanto ajudava-a levantar-se.
Aline vestia um bustiê amarelo - é isso ai, ela queria mesmo era mostrar o barrigão – e uma saia havaiana que ia até os joelhos.
- Hoje é a terceira vez - Ela riu, adorando aquilo. Ele poderia falar o resto do dia, ela não se cansaria.
Aline pegou o presente no banco de trás e os dois entraram no apartamento de Leandro.
- Querida, chegamos! – Aline disse e Leandro apareceu de um dos quartos.
- Oi, meus amores. Ainda bem que chegaram – Leandro estava com uma calça branca e uma camisa florida. O cabelo escuro estava arrepiado com gel. Aline sabia que ele fazia tudo para agradar Fred, e o cabelo era uma dessas coisas.
Leandro entregou os colares de flores para eles e pegou o presente para guardar junto com os outros.
Como sempre, Fred estava atrasado. Ainda se arrumava. Leandro falou para eles irem até a praia.
- O pessoal já está lá – Ele disse e Aline entendeu que ele se referia à Clara.
Na praia, havia uma enorme tenda branca onde estavam as bebidas e as comidinhas, juntamente com algumas mesas e pufês brancos, que já estavam em sua maior parte ocupado pelos amigos de Fred. Por mais que fossem amigos de infância, Aline não reconhecia a maioria dos rostos ali. Fred era uma pessoa muito sociável e tinha vários contatos.
O DJ, já conhecido de outras festas, tocava Closer do The Chainsmokers e várias pessoas dançavam. Uma fogueira modesta estava montada um pouco mais a frente. Ainda estava apagada e, conhecendo Fred como Aline conhecia, ela tinha altas suspeitas de que ele acenderia depois de algum discurso.
Várias tochas estavam acesas para delimitar o espaço da praia em que a festa estava sendo realizada e, por ser um luau a caráter, todos estavam com estampas floridas e coroas e colares de flores. Sabia que tudo aquilo era obra de Clara. Embora o tema fora decidido por todos eles, a organização de todas as festas sempre era por conta de Clara e ela tinha talento para aquilo. A atmosfera estava linda. A tarde estava ensolarada e o sol logo iria se por.
Aline e Caio foram até a tenda pegar bebidas e a mãe e a avó de Fred estavam lá, sentadas nos pufes. . Aline apresentou Caio para elas e elas a parabenizaram pelo bebê.
Caio pegou uma cerveja para si, já que dormiriam por lá e um Sprite para Aline. Ela tomou um grande gole e então avistou Clara. Ela usava um bustiê branco com longas franjas por toda a barriga e saia florida branca. O cabelo estava preso numa trança lateral e na cabeça a coroa de flores. Ela estava com Pedro e os rapazes de sua banda. Mas haviam outras pessoas que Aline não conhecia.
- Você quer ir até lá? – Caio perguntou, percebendo que Aline encarava a amiga.
- Acho que preciso... – Ela deu de ombros e eles foram caminharam pela areia.
- Olá! – Caio anunciou sua chegada. Eles se cumprimentaram. Clara e Aline mantendo-se a distância.
Pedro apresentou os outros dois rapazes, eram seus irmãos e a garota era namorada de uma deles. As outras garotas estavam com Renato e Vinicius, mas ainda não tinham o status de "namorada."
Então, uma comoção se fez ouvir e lá estava Fred parado ao lado da fogueira. Ele usava uma regata florida e calça branca e a coroa de flores na cabeça. Em meio a palmas e assovios, ele começou seu discurso.
- Olá, pessoal! – Ele disse, com um sorrisão no rosto – Obrigada a presença de todos. Saibam desde já que cada um de vocês é especial pra mim e têm um espacinho no meu coração. Bom, eu gostaria de agradecer as melhores pessoas da minha vida: mamãe e vovó por me fazerem este ser humano maravilhoso que sou! – Os convidados caíram na risada, enquanto Fred mandava beijos no ar para sua mãe e sua avó. – Clarinha e Li, as melhores amigas que eu poderia ter! E Leandro – Fred olhou para o namorado, que estava ao seu lado – O amor da minha vida – Eles deram um rápido selinho, em meio a vários "awn" da plateia – E agora... – Fred tocou o fogo, que se espalhou rapidamente – Feliz 26 para mim! Divirtam-se meus amores!
A praia explodiu em palmas e gritos e animação. O DJ começou a tocar um remix de Make me..., já que Fred idolatrava Britney Spears. Ele saiu dançando ao lado de Leandro e os dois foram até a rodinha de amigos.

Clara estava bem satisfeita com o resultado de sua organização: o luau estava maravilhoso.
Agora, com o sol se pondo, o visual estava incrível. E ela aproveitava para registrar tudo com sua câmera profissional.
Depois de se ter certeza de que já tinha fotos o bastante para fazer um álbum digno, Clara guardou a câmera e pegou uma bebida. Ela encontrou Pedro conversando com Caio e Bernardo. Mais adiante, Fred dançava com Leandro e Aline. Aliás, ela tentava, já que a barriga não a deixava se balançar direito. Clara riu da cena. Ela sentia tanta falta disso, daquela leveza. Estava morrendo de saudade de Aline. Ficara sabendo de suas novidades através de Caio e mesmo assim não fora falar com ela. E isso a estava matando! Mas não era justo. Na maioria das vezes em que brigaram, era Clara quem sempre dava o braço a torcer. Sabia que era sendo infantil, mas queria que Aline soubesse que, dessa vez, ela estava mesmo chateada.
Porém, já fazia duas semanas. Elas nunca ficaram tanto tempo sem se falar, desde que se conheceram. Contudo, Clara reconhecia que, por mais impulsiva que fosse, às vezes era bom por em prática aquele ditado tão clichê e que ela odiava tanto: dar tempo ao tempo.
Nisso Clara era experiente. Em muitas situações, o tempo não curava a dor. O tempo amenizava. O tempo te ensinava a conviver com aquilo, a encontrar uma forma, um meio termo de não ser paralisado pela dor e viver a vida.
Bom, isso ela fazia. E fazia muito bem.
Clara ponderou por alguns instantes, e decidiu se juntar a eles. Iria aproveitar a noite e deixaria as consequências nas mãos do destino. Amém.
Eles dançaram juntos umas quatro músicas seguidas. Sem falar nada. Apenas curtindo o som, a brisa leve que balançava os cabelos. Lá pelo começo da quinta música, Leandro disse que iria buscar bebidas e se afastou.
- Obrigada por hoje, meninas – Fred disse, abraçando as duas ao mesmo tempo – Eu to adorando tudo isso!
Leandro voltou com as bebidas e eles brindaram.
- ÀS AMIZADES VERDEIRAS! – Fred gritou enquanto eles batiam seus copos e Aline e Clara se encararam.