Capítulo 62

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Capítulo 62

Era manhã de Natal e estavam todos reunidos no restaurante para o almoço. Clara e Fred haviam decorado o salão e o lugar estava iluminado com luzes brancas e guirlandas.
Clara estava na cozinha, verificando um dos pratos típicos, quando Fred apareceu.
- Você sempre adorou o Natal... – Ele disse, encostando-se em uma das bancadas de aço – Mesmo eu dizendo que era um data clichê, uma data em que as pessoas esqueciam as falsidades feitas durante todo o ano.
- Eu acredito em renovações e perdão. E dai? – Clara deu de ombros e sorriu.
Fred se aproximou e tirou a enorme colher de pau das mãos da amiga, fazendo Clara encará-lo.
- Você precisa aplicar essa filosofia com você mesma, Clara – Fred olhava dentro de seus olhos – O Pedro veio conversar comigo, você sabe disso. E sabe também que eu não menti pra ele, eu não poderia. Eu amo vocês dois.
Clara engoliu em seco.
- Eu to bem, Fred – Ela tentou pegar a colher, mas ele não deixou – Eu to falando sério.
- Não, você não está. O que você ta querendo? Outra overdose? Clara, você precisa parar com isso! Você não está sozinha, sabe disso. Queremos o seu bem, e te queremos saudável.
Antes que Clara pudesse contestar, Fred concluiu:
- Por favor, pense nisso.
Ele saiu e Clara ficou sozinha com seus pensamentos, tão altos como um desfile de escola de samba. Ela sabia que Fred estava certo, ela precisava se cuidar. Precisava de ajuda. As coisas fugiram de seu controle. Ela teve uma overdose por misturar cocaína e álcool e mentia pra si mesma, tentando viver um dia após o outro mas, sempre que estava sozinha, tudo piorava. O silêncio e a escuridão pareciam se apossar dela e ela não aguentava aquilo.
Clara respirou fundo e enxugou uma lágrima insistente. Ela já sabia o que faria.

Depois do almoço de Natal, eles foram para o apartamento de Caio e Aline e estavam conversando sobre a virada do ano. Iriam para o apartamento de Leandro, na praia do Guarujá. Fred estava animadíssimo, a festa do Réveillon era uma de suas preferidas.
Enquanto eles discutiam detalhes da viagem, Aline deixou a filha com Clara e levou Caio para o quarto.
- Eu ainda não te dei seu presente de Natal... – Ela disse, sentando-se na cama com ele.
- Mas eu não queria nada, te falei – Caio deu de ombros e ajeitou o óculos.
Aline sorriu e abriu a primeira gaveta do seu criado mudo. Ela pegou uma caixinha preta.
- Mas eu quis, certo? – Ela entregou a caixinha pra ele.
Caio pegou a caixinha e abriu. Dentro havia duas abotoaduras prateadas. As letras C e A estavam entrelaçadas em uma caligrafia belíssima.
- São lindas! – Caio observava as abotoaduras, passando o dedo pelas letras.
Aline sentou-se no colo dele e o abraçou pelo pescoço.
- Eu te daria o meu coração, mas isso você já tem há tempos... – Ela deu de ombros e sorriu um sorriso tímido – Quando eu falo que você foi a melhor coisa que me aconteceu, eu não to mentindo. Você me salvou. Posso dizer que eu tenho meu próprio Super Man! – Eles riram – Aquele dia que você dormiu fora, foi horrível. Eu não quero mais que aquilo aconteça, nunca mais. Não quero que você duvide do meu amor, ou que você se sinta um intruso, porque você não é. Você é minha outra metade, é meu porto seguro. É o seu sorriso que eu quero ver todas as manhãs quando eu acordar, pro resto da minha vida – Aline encostou sua testa na dele e respirou fundo, engolindo o choro. – Eu te amo tanto.
Caio acariciava as costas dela, e sorriu ao ouvir as palavras de Aline.
- Me desculpa por ter saído daquele jeito. Eu perdi a cabeça e reconheço. Vou me esforçar pra ser mais sensato – Ele agora passava o polegar pela bochecha dela, onde uma lágrima solitária escorria.
- Eu te amo – Eles disseram juntos.

Por mais que Pedro estivesse ali, festejando a virada de ano que se aproximava com seus amigos, Clara sabia que ele não estava completamente bem. A perda de sua mãe ainda era recente e Pedro estava sendo tão forte, senão por ele mesmo, pelos irmãos. Várias vezes Clara o flagrou encarando o nada. Ela tentava se mostrar presente e lhe dar apoio, mas já havia tomado sua decisão. Talvez fosse mais fácil assim, Clara não queria causar mais problemas e Pedro não merecia nada daquilo. Ela já havia conversado com Aline e Fred e eles apoiaram sua decisão.
Estavam todos reunidos na área da piscina, não foram à praia por conta da neném, mas conseguiram acompanhar a queima de fogos.
- Gente! – Clara bateu palmas, atraindo a atenção dos amigos – Eu proponho um brinde – Ela disse, levantando a taça de champanhe - À esse novo ano que está iniciando. Mais um ano de novas oportunidades, de tentar fazer o seu melhor. Que nós possamos nos renovar, que sempre estejamos cercados de boas energias e de amor, galera. Muito amor pra todos nós!
- TIM-TIM! – Fred gritou e eles brindaram suas taças.
Aquela foi a última taça de álcool que Clara tomou. Pedro a abraçou e eles assistiram os fogos iluminarem o céu.


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