Capítulo 18
Depois de se conformar com o fato de que a ex namorada de Caio era a mulher que "roubara" seu emprego, Aline resolveu pesquisar algo realmente útil, já que estava sem nenhum pingo de sono.
O Chef Millano era um homem baixinho e gorducho, com um espesso bigode negro sobre os lábios.
Segundo o que Aline lia no site, o curso de verão do Chef Millano era super concorrido e conhecido. Ele recebia inscrições, juntamente com os currículos dos interessados e selecionava os melhores para passarem duas semanas em sua fazenda, na Itália.
Era perfeito! Ela sabia que Clara precisava se inscrever, e com certeza seria aprovada. E já estava na hora da amiga fazer algo por ela mesma. Clara sempre pensava nos outros antes dela, mesmo tentando manter a fachada de durona. Aline a conhecia de verdade e sabia que Clara odiava demonstrar fraqueza.
Quando o dia já estava começando a clarear, Aline desligou o note book e foi deitar-se, pensando que teria que convencer a amiga.Quando Clara acordou, havia uma mensagem de Gian:
Ligo quando puder.
Apenas três palavras. Três palavras, sem emoção alguma. Ela bufou a passou as mãos pelo rosto. Depois releu a mensagem. Talvez estivesse sendo dramática demais. Afinal, ao menos ele tinha mandado uma mensagem, certo? Não, não estava nada certo. Clara merecia mais do que três palavras. O que ela estava fazendo com a sua vida?
Clara desligou o celular e deixou o aparelho dentro da última gaveta de seu guardarroupa.A semana passou rápido e sem muitos acontecimentos. Apenas Fred super estressado porque Clara não respondia suas mensagens nem retornava suas ligações.
- Estou sem celular – Ela explicou, simplesmente, dando de ombros.
No domingo, o restaurante havia sido alugado para um jantar de uma empresa. Clara e Pedro estavam na cozinha e tudo já estava pronto. Os assistentes começaram a servir os pratos e Pedro começou a fazer a sobremesa. Clara estava com a cabeça longe, seus pensamentos atravessavam o oceano.
- Ah, não – Ela ouviu Pedro gemer. Quando virou-se para ele, viu que seu dedo indicador estava sangrando muito.
- Ah, meu Deus! Você se cortou! – Clara constatou o óbvio e foi até Pedro, já com um pano em mãos. Mas, antes que ela pudesse chegar até o rapaz, Pedro desabou no chão.
Por um instante, Clara ficou sem reação. Ela olhou para Pedro, caído no chão, e então acordou. Clara ajoelhou-se ao lado do rapaz e enrolou o pano em seu dedo para estancar o sangue. A primeira ideia que lhe ocorreu foi a de jogar água em seu rosto mas, ao invés disso, Clara deu tapinhas no rosto de Pedro.
- Pedro... Ei! – Ela o chamava.
Pedro abriu os olhos e Clara apertou os lábios. Os olhos dele eram extremamente azuis, eram lindos e ela poderia ficar ali a noite toda...
- Você ta bem? – Clara perguntou, percebendo que a cor voltada ao rosto do rapaz.
- Eu... Eu não posso ver sangue – Pedro confessou e ficou corado. Clara achou uma gracinha e sorriu.
- Eu já dei um jeito nisso. Mas é melhor fazermos um curativo.
- Ta bem...
Pedro e Clara levantaram-se e Clara pegou o kit de primeiro socorros. Os dois foram até o escritório de Fred e Pedro encostou-se à mesa, enquanto Clara remexia a caixinha vermelha.
Quando Clara tirou o pano que estava enrolado no dedo de Pedro, ele virou o rosto para o outro lado. Rapidamente Clara limpou o corte e pôs uma gaze com um band-aid.
- Prontinho! – Ela sorriu e Pedro repetiu o gesto.
- Valeu, Clara... Queria te pedir uma coisa.
Em um segundo, a mente de Clara viajou por todas as possibilidades do pedido de Pedro.
- Vamos pra Itália?
-Ah, você também?!
Clara bufou e fechou a caixinha vermelha. Ela saiu em direção à cozinha e Pedro foi atrás.
- Clara, você vai perder a oportunidade da sua vida!
- Você fala como se o Chef Millano fosse desistir de ministrar o curso!
- Isso é possível!
- Pedro, eu não posso simplesmente largar o restaurante por duas semanas! E outra, eu nem seria escolhida. Então não sei porque vocês estão com essa ideia fixa na cabeça. – Durante toda a semana, Aline e Fred tentaram convencê-la a fazer a inscrição. Nos primeiros dois dias de tentativa, Clara estava decidida a não ir. Já no terceiro dia começou a mudar sua resposta de "não" para "eu nem seria escolhida." Mas a verdade é que Clara sonhava em fazer o curso de verão do Chef Millano desde os dezessete anos. Nunca tivera coragem o suficiente para fazer a inscrição: só a possibilidade de ser rejeitada lhe quebrava o coração. Então ela preferiu conviver com a dúvida. Mas agora, oito anos depois, Clara sentia-se preparada para enfrentar esse desafio. E mais: no fundo sabia que conseguiria. Talvez fosse isso. Talvez ela estava com medo do sucesso.
- Primeiro: com certeza você seria escolhida. Você está entre as melhores chefs da cidade, e sabe disso! – Agora foi a vez de Clara corar. Ao sentir as bochechas esquentarem, ela começou a decorar as sobremesas que Pedro fazia. - E, bom, eu posso ficar no seu lugar.
- Não! – Clara disse, mais do que depressa – Se eu for, você vai comigo!
Naquela noite, ao chegar em casa, Clara jogou-se no sofá. Aline estava sentada de frente pra ela, mas Clara estava tão cansada que nem percebeu a ansiedade da amiga.
- Então, como foi o jantar? – Aline perguntou.
- Tudo bem. Só o Pedro que desmaiou...
- Como assim?
Clara contou para Aline sobre o desmaio de Pedro e a outra estava incrédula.
- Quem diria, um homem daquele tamanho... – Aline riu baixinho – Hum, e será que ele falou sobre o curso do Chef Millano?
- Sim...
- E ai?
Clara suspirou e passou as mãos pelo rosto.
- Sim, Aline. Eu aceito me inscrever!
- Ah, que ótimo! – Aline bateu palmas – Eu já fiz isso!
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Quando tudo acontece
RomanceAline e Clara são duas amigas que, aparentemente, têm uma boa vida. Aline tem o emprego perfeito, o apartamento perfeito e o namorado perfeito e Clara é uma chef de cozinha bem sucedida que vive para o trabalho e esconde alguns detalhes de seu passa...